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A SAÚDE MENTAL DO PÓS-GRADUANDO BRASILEIRO EM TEMPOS DE PANDEMIA: AGRAVOS E ESTRATÉGIA PARA PROMOÇÃO
2024/1 até 2027/1
ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E DA SAÚDE
GRUPO DE INVESTIGAÇÃO EM PROMOÇÃO DA SAÚDE E INTEGRALIDADE DO CUIDADO
Promoção da Saúde
MARINA ALEIXO DINIZ REZENDE
- Identificar os fatores associados ao risco de suicídio, transtornos mentais comuns, automedicação, uso de psicofármacos e uso de álcool entre pós-graduandos brasileiros, na pandemia de Covid-19.
- Avaliar a qualidade de vida de pós-graduandos brasileiros e sua associação com risco de suicídio, transtornos mentais comuns, automedicação, uso de psicofármacos e uso de álcool.
- Avaliar os fatores associados a sintomas de depressão, ansiedade e estresse entre pós-graduandos brasileiros e impacto na qualidade de vida.
- Identificar, na perspectiva de pós-graduandos, as necessidades de aprendizagem para promoção de saúde mental.
- Identificar, na perspectiva de coordenadores de programas de pós-graduação das universidades brasileiras, as necessidades dos pós-graduandos relacionadas à promoção da saúde mental.
- Desenvolver e avaliar uma proposta de intervenção online direcionada à promoção da saúde mental de pós-graduandos.
- Descrever as interações medicamentosas de psicofármacos e o impacto na qualidade de vida.
No contexto da atual pandemia, observa-se um aumento do consumo desses medicamentos e pesquisadores apontam para riscos como os depressores do sistema nervoso, a citar os benzodiazepínicos (ansiolíticos, sedativos ou hipnóticos), que podem ser usados como automedicação e aumentam o risco de overdose, isoladamente ou associados à ingestão de álcool (RODRÍGUEZ, 2020). O acompanhamento de sintomas de quem usa psicofármacos deve ser realizado de modo cuidadoso, pois pensamentos suicidas são descritos dentre os efeitos colaterais de alguns deles. Ademais, a elevada prescrição e o uso de psicofármacos estão ligados à vida contemporânea, na qual se cobra constantemente por produtividade e sucesso (NASARIO; SILVA, 2016). Destaca-se que, muitas vezes, ocorre a automedicação com psicofármacos, ou seja, o consumo ou aumento do número de comprimidos ingeridos sem orientação e acompanhamento médico. Dentre os motivos que levam a automedicação, cabe elucidar que alguns psicofármacos com o tempo, podem perder a eficácia, levando à necessidade de dosagens maiores, fato esse que pode induzir à automedicação (NASARIO; SILVA, 2016). O uso desses medicamentos e sua dependência podem levar ao comprometimento da memória e sono, desenvolvimento de tolerância, e, assim, impactar negativamente a qualidade de vida (OLIVEIRA et al, 2018). Os aspectos descritos apontam para a suscetibilidade da população jovem, incluindo os pósgraduandos, no contexto da pandemia, para o desenvolvimento de transtornos mentais, com potencial para uso de psicofármacos e risco suicida. Embora de grande relevância, a suscetibilidade dos jovens ao risco de suicídio ainda é bastante estigmatizada. Em 2016 o suicídio esteve entre as 10 principais causas de morte no mundo e representou a segunda maior causa de morte entre a população de 15 a 29 anos. As mortes por suicídio atingem o patamar de 800 mil mortes anualmente (OMS, 2019). Sabe-se que 79% das mortes por suicídio no mundo acontecem em países que, assim como o Brasil, são considerados de baixa e média renda (OMS, 2019). O suicídio apresenta causas indefinidas e motivos modificáveis, com ênfase para os transtornos mentais, uso de álcool e drogas, isolamento social e solidão, desemprego, crises sociais, rompimento de relacionamentos (OMS, 2021; BERT, 2016; BOTEGA, 2016) e neste cenário de grandes incertezas em tempos de pandemia, atenta-se para o possível aumento do risco de suicídio (PFEFFERBAUM, NORTH; 2020). 6 Segundo a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), todos os anos milhões de pessoas tentam suicídio. Ainda que a ocorrência de suicídio esteja presente em todas as etapas da vida, evidencia-se que é mais recorrente entre os jovens, sendo que, a existência de uma tentativa prévia de suicídio é o fator de risco mais significativo às outras tentativas (OPAS, 2021). O suicídio é considerado um grave problema de saúde pública, contudo, podem ser evitados em tempo oportuno, com base em evidências e com intervenções de baixo custo. Para uma efetiva prevenção, as respostas nacionais necessitam de uma ampla estratégia multissetorial (OPAS, 2021). Destaca-se que presença de doença física pode aumentar em 24% o risco de suicídio. A dor, incapacidade física, atividade social limitada, perdas financeiras e adoecimento/morte de familiares apresenta-se diretamente associados à decisão de tirar a própria vida. Em tempos de isolamento social, o risco se torna maior (FIOCRUZ, 2020). Estudo de revisão acerca da saúde mental no início da pandemia por Covid-19, identificou que a baixa e a alta escolaridade, ser estudante e/ou trabalhador, ser do sexo feminino e adultos jovem (18 a 40 anos) apresentam maior propensão para sofrimento psíquico, sendo considerados fatores de risco para desfechos psicológicos negativos (TALEVI et al., 2020), como o maior risco para suicídio. Dados do último ano da OPAS apontam para maior risco de suicídio frente ao aumento de angústia, ansiedade e depressão somados ao consumo excessivo de álcool e abuso de substâncias (OPAS, 2021). O consumo de substâncias psicoativas merece atenção no contexto da pandemia de Covid-19, pois tem sido favorecido pelo aumento do desemprego, crise financeira e isolamento social (BARBOSA, et al., 2020). Dados do relatório mundial sobre drogas de 2020, apontam a diminuição de opioides, em consequência da pandemia, o que contribuirá para o aumento proporcional de consumo de álcool, benzodiazepinas e drogas sintéticas, entre os países em desenvolvimento como o Brasil (UNODC, 2020). Há ainda, uma preocupação com o consumo de algumas drogas específicas (maconha, cocaína, crack) e o tabaco por comprometerem o sistema respiratório, enfraquecer o sistema imunológico e tornar mais suscetível às infecções virais e bacterianas, incluindo a Covid-19 (RODRÍGUEZ, 2020). Desse modo, na pandemia, torna-se oportuno compreender os potenciais mudanças nos padrões de consumo de álcool, psicofármacos e outras drogas depressoras, estimulantes ou perturbadoras do sistema nervoso central, pois além do isolamento, vive-se o distanciamento de uma rede socioafetiva e de um tratamento adequado (FARHOUDIAN, et al., 2020). Pesquisa realizada com graduandos e pós-graduandos brasileiros durante a Pandemia, identificou que 9,9% da amostra apresentaram nível severo de depressão e 14,6% com nível extremo severo, já em relação à ansiedade identificou-se que 8,7% apresentaram nível severo e 7 18,1% extremo severo; para sintomas de estresse, 18,1% foram classificados com nível severo e 9,9% extremo severo, segundo o instrumento DASS-21 (ZANCAN et al; 2021). Em um cenário de instabilidade na pós-graduação, a pandemia pode acentuar alguns aspectos, como a manutenção ou não de bolsas de estudo, prazos para conclusão de créditos, possíveis prorrogações de prazos e até a incerteza de emprego futuro, aspectos que podem impactar a saúde e a qualidade de vida (COMIN et al, 2021). Soma-se ainda que, a modificação e a perda de relações em consequência da Pandemia podem também influenciar a qualidade de vida (QV) (ROYCHWDHURY, 2020), entendida, segundo a OMS, como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores, nos quais ele vive, considerando suas metas, expectativas, padrões e interesses (FLECK et al., 1999, p. 34). A QV tem relação com a saúde física, mental, social das pessoas, sendo notório a pandemia de Covid-19 tem afetado direta e indiretamente a QV de uma elevada parcela da população em geral (GUIRADO, 2021). Salienta-se ainda, que o impacto na QV oriunda da pandemia pode se expressar de diferentes formas, dependendo da atividade laboral desenvolvida, classe social, gênero e relações familiares. As necessidades de adequações nas diferentes esferas como nas famílias, educação, trabalho e na liberdade de ir e vir, fez com que a rotina de todos se modificasse, que aliados a períodos de isolamento (SILVA, et al., 2020), vem contribuindo para os crescentes sentimentos de desamparo, abandono, insegurança em relação ao futuro e às repercussões econômicas e sociais (SILVA, et al., 2020). Tais questões impactam a QV e reforçam o diferencial da presente pesquisa em investigar a população de pós-graduandos brasileiros, devido suas especificidades. Ainda que a realidade de sofrimento mental entre pós-graduandos seja crescente, pouco se investiga ou se discute na academia meios de se tratar ou acolher essa população. Há ainda um elevado percentual de pós-graduandos que sofrem com instabilidade financeira, não se sentem seguros em relação ao futuro profissional (ocasionando angústia e medo do desemprego), sentem solidão em várias etapas da pós-graduação, pressão e cobrança para defesa e redução de prazos para o desenvolvimento da pesquisa, sendo também alguns dos fatores de risco para o surgimento de transtorno mental entre esses jovens (GARCIA DA COSTA; NEBEL, 2018). Tais questões têm potencial para se agravem na pandemia de Covid-19, especialmente pelo isolamento, medo da suspensão de bolsas ou incentivo financeiro, a necessidade de realização de atividades remotas em universidades para conter a transmissão de Covid-19, as dificuldades para se coletar dados ou realizar experimentos científicos e, por fim, atender a tempo os prazos de qualificação e defesa. 8 Diante de tal contexto, faz-se necessário conhecer o real perfil de saúde mental da população mais jovem, em especial dos pós-graduandos brasileiros, para identificar a prevalência de TMC, o uso de psicofármacos, a automedicação, a qualidade de vida, uso de álcool, o risco de suicídio e os sintomas de depressão, ansiedade e estresse dessas pessoas que contribuem significativamente com a ciência brasileira. Salienta-se que há um maior enfoque em estudos durante a pandemia de Covid-19 voltados para os aspectos biológicos da doença, tendendo a subestimar os aspectos psicossociais, igualmente importantes (NABUCO, OLIVEIRA, AFONSO; 2020; ORNELL et al., 2020; HO; CHEE; HO, 2020). Por se tratar de uma doença recente, estudos acerca do impacto da pandemia na saúde mental ainda são escassos (MAIA, DIAS; 2020). Ademais, estudos em epidemias, tragédias, guerras e surtos anteriores são escassos e os que foram realizados descrevem que o comprometimento da saúde mental fora mais prolongado e em alguns casos superou a prevalência da epidemia, refletindo no aumento de transtornos mentais, abuso de substâncias, como drogas, álcool e outros (NABUCO, OLIVEIRA, AFONSO; 2020; GALEA, MERCHANT, LURIE; 2020). A maior possibilidade de desenvolver TMC entre aqueles que usam álcool tem sido investigada (LUCCHESE, et al., 2017). No entanto, conhecer os fatores associados ao TMC, o risco de suicídio, o uso de psicofármacos, automedicação e qualidade de vida durante a pandemia de Covid-19 de públicos específicos como de pós-graduandos, poderá subsidiar ações que vislumbrem maior atenção a essa população e pode contribuir para a prestação de cuidados, seja profissional, familiar e social. Há também outras modificações com a pandemia que impactam na qualidade de vida e na saúde mental de diferentes populações; dentre elas temos o trabalho, com impacto direto, ampliando o desemprego e a adoção do trabalho remoto em várias empresas e instituições. Entretanto o trabalho remoto tem contribuído para a desigualdade social, de gênero e cor da pele (LEMOS, BARBOSA, MONZATO; 2020). Nessa perspectiva, o trabalhar em casa, aliado ao cuidar dos afazeres domésticos e dos filhos têm sobrecarregado especialmente as mulheres. Por fim, o investimento em ações conscientizadoras, preventivas e interventivas que alcancem a população universitária e a comunidade podem minimizar o automedicar-se, além de contribuir para o manejo da saúde mental (OLIVEIRA, et al., 2018). Nessa perspectiva, visando a melhoria da qualidade de vida dos pós-graduandos e a promoção da saúde mental na pandemia de Covid-19, têm-se a utilização das tecnologias de informação e comunicação (TICs) como ferramenta, por meio de vídeos educativos e de esclarecimento, sendo abordagem didática e simples para sensibilizar às instituições de ensino superior, programas de pós-graduação e toda comunidade acadêmica acerca da identificação dos sintomas de TMC, risco de suicídio e uso de álcool e onde encontrar apoio e acompanhamento. 9 Considerando os aspectos descritos, os resultados desta pesquisa poderão além de gerar uma tecnologia de intervenção direcionada à saúde mental de pós-graduandos poderá, ainda, fornecer subsídios para outras ações específicas, bem como para ampliar as discussões da temática entre gestores das universidades, profissionais de saúde, e sociedade.
Nome | Função no projeto | Função no Grupo | Tipo de Vínculo | Titulação Nível de Curso |
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MARINA ALEIXO DINIZ REZENDE
Email: marinadinizpuc@gmail.com |
Coordenador | Pesquisador | [professor] | [doutor] |
VANESSA DA SILVA CARVALHO VILA
Email: vanessa.enf@pucgoias.edu.br |
Pesquisador | Líder | [professor] | [doutor] |