O intestino de cães e gatos pode ser acometido por afecções de etiologias variadas (Dandrieux; Masfild, 2019). As manifestações mais descritas são vômito, diarreia, inapetência e perda de peso (Dandrieux et al., 2019). Ademais, após a exclusão de causas infecciosas, neoplásicas, metabólicas, renais e hepáticas, a doença intestinal pode ser dividida em responsiva a dieta, responsiva a antibióticos, responsiva a imunossupressores e as não responsivas (Dandrieux, 2016). Biomarcadores séricos e fecais auxiliam no diagnóstico e no monitoramento do tratamento de pequenos animais com enteropatias (Heilmann; Steiner, 2018). É essencial para aplicabilidade de um biomarcador, auxiliar na avaliação da funcionalidade do órgão, atuar no reconhecimento do risco de desenvolvimento da doença e possuir valor diagnóstico (Parikh; Vasan, 2007). Porém, devido a patogenia heterogênea das enteropatias, uma recente revisão (Siel et al., 2022) sugere novas pesquisas para biomarcadores intestinais. Os parâmetros laboratoriais utilizados para avaliação do sistema digestivo podem ser classificados como funcionais, bioquímicos, inflamatórios, celulares, genômicos, proteinômicos, metabolômicos e microbiológicos (Heilmann, 2015). Anteriormente a avaliação desses marcadores, algumas variáveis devem ser observadas para diagnóstico diferencial e para verificação do estado geral do animal, embora sejam inespecíficos (Dandrieux, 2016; Erdmann; Heilmann, 2017). Essa avaliação de triagem inicial inclui hemograma, perfil bioquímico renal e hepático, urinálise, avaliação pancreática, biópsia, histopatológico e exames de imagem como a ultrassonografia (USG) (Washabau et al., 2010). Dessa forma, a USG é uma modalidade importante de diagnóstico por imagem para avaliação do trato gastrointestinal de pequenos animais, uma vez que trata-se de um exame não invasivo que fornece informações dinâmicas e pode ser recomendado nas enteropatias agudas e crônicas (Haber et al., 2002; Bhavani et al., 2021). Tem indicação para cães que apresentam êmese, anorexia, perda de peso, diarreia e auxilia no esclarecimento da etiologia desses sinais clínicos (Delaney et al., 2003). A avaliação ultrassonográfica intestinal fornece informações relevantes sobre a topografia, espessamento da parede, estratificação das camadas, ecogenicidade, motilidade, conteúdo luminal e características das estruturas adjacentes como linfonodos, peritônio e demais órgãos anexos ao sistema digestivo (Larson; Biller, 2009). Dessa forma, a USG pode, portanto, ser indicada para animais com sinais clínicos intestinais e sugerir o diagnóstico (Pennick, 2008; Larson; Biller, 2009). Portanto, os biomarcadores intestinais e a USG são técnicas que se integram e fornecem informações importantes sobre a função e a etiopatogenia das doenças que acometem o intestino (Larson; Biller, 2009; Heilmann, 2015). Justifica-se a realização do presente trabalho visto a ausência de informações na literatura sobre metodologia da aplicação dos parâmetros laboratoriais e dos exames de imagem na avaliação do trato gastrointestinal de cães e gatos. Além disso, a realização deste estudo é essencial no entendimento da correlação da mensuração ultrassonográfica intestinal com os biomarcadores nas diferentes enteropatias. Sendo assim, com potencial de auxiliar na compreensão da patogenia, diagnóstico e tratamento das afeções intestinais. Com os dados deste estudo será possível avaliar se existe correlação das alterações entre a ultrassonografia e biomarcadores séricos e fecais para avaliação intestinal em cães e gatos.

Avaliar a função intestinal de pequenos animais por meio de USG em modo B e exames laboratoriais. Especificamente objetiva-se realizar avaliação clínica geral e específica de cães e gatos com diversas enteropatias. Aqueles cães que apresentarem enteropatias crônicas (evolução superior a três semanas) também passarão pelo escore Canine Chronic Enteropathy Activity Index (CCECAI) (Allenspach et al., 2007). Os gatos com a mesma característica de evolução clínica, passarão pelo escore Feline Chronic Enteropathy Activity Index  (FCEAI) (Jergens et al., 2010). Ademais, objetiva-se verificar se os parâmetros laboratoriais avaliados podem ser utilizados como biomarcadores intestinais; mensurar as camadas intestinais por meio de exame ultrassonográfico; comparar achados dos exames de imagem com os laboratoriais em cães e gatos hígidos e com enteropatias de diferentes origens e por fim, verificar existência de correlação (positiva ou negativa) entre esses parâmetros verificados.

Justifica-se a realização do presente trabalho visto a ausência de informações na literatura sobre metodologia da aplicação dos parâmetros laboratoriais e dos exames de imagem na avaliação do trato gastrointestinal de cães e gatos. Além disso, a realização deste estudo é essencial no entendimento da correlação da mensuração ultrassonográfica intestinal com os biomarcadores nas diferentes enteropatias. Sendo assim, com potencial de auxiliar na compreensão da patogenia, diagnóstico e tratamento das afeções intestinais.