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TRANSPONDO BARREIRAS NA EDUCAÇÃO: A IDENTIFICAÇÃO E VALIDAÇÃO DE SINAIS-TERMOS PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA PROMOVENDO A INCLUSÃO DE ESTUDANTES SURDOS
2024/1 até 2025/2
ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES
GRUPO DE PESQUISA EM FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS EXATAS E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
Ensino de ciências, matemáticas e suas tecnologias
SANDRA REGINA LONGHIN
Objetivo Geral.
Apoiando-nos no que asseveram o art. 8°, do Capítulo II, da Lei 13.146 de 2015, que determina que a educação é um direito de todos e dever do estado (BRASIL, 2015) e BNCC (BRASIL, 2017) - documento homologado pela Portaria MEC n° 1.570/2017, que estabelece que à área de Ciências da Natureza deve garantir o desenvolvido de competências específicas. Assim, a fim de responder a nossa questão de pesquisa, traçamos um objetivo geral, que demandou vários objetivos específicos. O objetivo desta pesquisa é identificar os sinais-termos e o processo de criação de conceitos e significados no momento de elaboração/criação de sinais específicos entre TILS e estudante surdo relacionados ao ensino de Ciências da Natureza na Educação Básica na Rede Pública de Educação em Goiás e construir um banco de sinais-termos devidamente validado pela comunidade surda com a importante presença de representantes surdos, suportado em plataforma educativa digital no modelo wiki, de forma a possibilitar o acesso ao conhecimento e aplicação dos sinais validados aos professores, TILS, acadêmicos de Pedagogia e Licenciaturas, por meio de oficinas de aprendizagem, criando assim um ambiente favorável à discussão, capacitação e aprendizagem de estudantes surdos, colaborando assim com a permanência dos estudantes surdos nas escolas da rede pública do estado de Goiás ao propiciar, a partir dos resultados obtidos, um avanço dos sinais-termos em Libras referente a termos técnicos/científicos que abrangem a área de conteúdos voltados para o ensino de Ciências da Natureza, oportunizando a compressão desses conteúdos considerados muita das vezes como abstratos.
Objetivos específicos
Quadros e Karnopp (2004) apontam que a Libras como a língua materna dos surdos do Brasil, enquanto modalidade linguística é espaço-visual, logo é imprescindível que o professor da Educação Básica tenha acesso a esse conhecimento no planejamento de suas aulas, de forma a favorecer a compreensão e aprendizagem de todos os estudantes em sala de aula, não excluindo os estudantes surdos (GARCIA, 2022). Corrobora com esta afirmação Skliar (2013) quando destaca que ser surdo é viver na experiência visual; raciocinar e compreender o mundo pela experiência visual, evidenciando a importância de professores capacitados para o ensino inclusivo, na busca de atender as demanda específica dos sujeitos surdos, que se encontra ancorada na língua de sinais e cultura surda, pois é a partir dessa particularidade que eles têm a compreensão de mundo e a prática do professor refletirá diretamente no processo de construção do conhecimento desses estudantes.
Um outro desafio na educação inclusiva é a carência de capacitação ofertada aos profissionais TILS. Segundo Quadros (2007), o TILS tem a função de intermediar as relações entre os professores e estudantes surdos, como também, entre estudantes surdos e ouvintes. No entanto, precisa dominar a língua oral e a língua de sinais do país; ser qualificado para tal função ao ter domínio de estratégias e técnicas de tradução e interpretação, além de ter formação na área de sua atuação (QUADROS, 2007). Nesse mesmo sentido, Ribeiro e Moura (2021, p.3) mencionam que:
A função do intérprete é processar a informação dada na língua fonte e fazer escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo que devem se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na língua fonte. Assim sendo, o intérprete também precisa ter conhecimento técnico para que suas escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, o ato de interpretar envolve processo altamente complexos (RIBEIRO; MOURA, 2021, p.3).
Assim, devido à complexidade do processo de interpretação, a escassez de capacitação para TILS no Brasil compromete o exercício da sua função por não terem cursos de aprimoramento, para ampliação léxicos, gramática, estratégias e técnicas interpretativas.
Os TILS vivenciam na educação inclusiva de surdos a escassez de sinais específicos em Libras referente aos vários conteúdos escolares, entre eles de Ciências da Natureza. Quando não se tem o sinal, a soletração do termo científico não permite uma compreensão clara do que significa aquele conceito. Porto (2014), em sua pesquisa sobre o processo de construção/elaboração de sinais da Libras específicos para áreas exatas, destaca que a elaboração de sinais facilita a compreensão e aprendizagem do estudante surdo, como também, o processo de tradução e interpretação.
Um desafio do momento é a padronização dos sinais e sinais-termos[1] específicos elaborados/criados por surdos/intérpretes/professores. Nas instituições de ensino (IE), o TILS nem sempre possuem formação específica para atuarem nesse processo de intermediação do conteúdo escolar de Ciências da Natureza, sendo esse profissional por vezes remanejado dentro das instituições para atender a demanda presente, alterando a série, disciplina ou curso que atuaram (PORTO, 2014). Dessa forma, se esse TILS for remanejado para outra série, disciplina ou curso que não reforce esse sinal que foi elaborado, quando precisar novamente, já terá se esquecido. No caso de o estudante surdo não ter o mesmo TILS no ano letivo seguinte, é provável que esqueça os sinais que foram elaborados no ano anterior, o que fará com que tenha de aprender um novo sinal, com o mesmo significado, novamente (re)elaborado por ele e pelo novo intérprete.
Com a padronização dos sinais/sinais-termos, evitaremos que estudantes e TILS utilizem de sinais provisórios entre si, o que poderia descaracterizar a língua, transformando-a em um “dialeto intérprete-aluno” em cada sala, das várias escola e de todas as cidades, sem a possibilidade de dialética com os outros usuários desta língua. Com a padronização é possível motivar o próprio usuário da Libras, ou seja, a comunidade surda (SANTOS, CARVALHO, 2021), pois requer debate para a escolha do melhor sinal/sinal-termo para cada termo, de modo a enriquecer a própria língua com embasamento teórico. Desta forma se promove a igualdade de condições de acesso aos conteúdos escolares visando um ensino inclusivo como preconizado pelo art. 205 da Constituição Federal de 1988, que determina que a educação é um direito de todos e dever do estado e da família (BRASIL, 1988).
O aprofundamento nos estudos, apoiados em experiências/vivências e no referencial teórico adotado, possibilita a viabilidade de superação dos desafios apresentados na educação inclusiva para surdos, que são inúmeros. A partir dessas motivações e experiências vividas, diagnosticamos a necessidade de subsidiar a área de ensino de Ciências da Natureza de forma a promover o ensino de surdos. Corrobora com este projeto os resultados apresentados na dissertação de mestrado de Garcia (2022).
Na busca de solucionar os desafios apresentados, os proponentes deste projeto têm o intuito de realizar uma pesquisa dos sinais-termos adotados pelos TILS para o ensino de Ciências da Natureza, é a padronização dos sinais específicos elaborados/criados por surdos/intérpretes/professores, por membros da comunidade surda, visando a padronização e validação do melhor sinal para cada termo, de modo a enriquecer a própria língua com embasamento teórico.
Os resultados obtidos serão socializados por meio de plataforma educacional digital e a divulgação para conhecimento da sociedade como um todo se dará por meio de oficinas de formação para professores, intérpretes, estudantes de Pedagogia, demais Licenciaturas entre outros interessados onde abordaremos temas respaldados cientificamente como: o ensino de surdos numa perspectiva inclusiva; parceria entre professor-TILS; metodologia voltada para o ensino de surdos; capacitação prática na área de Ciências para o ensino de surdos, promovendo a Educação Inclusiva.
Os benefícios desse projeto para o Programa de Pós-graduação em Educação para Ciências e Matemática, do IFG câmpus Jataí, serão a nível de desenvolvimento tecnológico e educacional na área de Ensino de Ciências, com a elaboração de uma plataforma educacional digital para alocação dos sinais-termos validado e dos produtos finais que serão:
- sinais-termos devidamente validados;
- oficinas de aprendizagem;
- livro digital;
- protocolo de validação de sinais-termos;
- formação continuada de professores.
A plataforma educacional digital permite a divulgação de sinais-termos específicos voltados para o Ensino de Ciências, numa perspectiva sustentável, recurso esse que poderá ser amplamente acessado por todo o Estado do país.
Enquanto benefícios sociais, o mais relevante deste projeto é a formação de profissionais capacitados para a Educação em uma perspectiva inclusiva, com foco na educação de surdos.
[1] o termo “sinal-termo” aqui adotado, designa um sinal que compõe um termo específico da Libras, considerando a extensão conceitual na formação e o agrupamento de sinais no contexto da comunicação, estabelecido por Messias Ramos Costa (2012).
Nome | Função no projeto | Função no Grupo | Tipo de Vínculo | Titulação Nível de Curso |
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SANDRA REGINA LONGHIN
Email: srlpucgoias@gmail.com |
Coordenador | Líder | [professor] | [doutor] |