O presente estudo insere-se no contexto dos estudos que envolvem a Avaliação Psicológica e a Psicopatologia e objetiva contribuir para a área validando um instrumento psicológico que avalie o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A utilização de instrumentos padronizados auxilia no raciocínio clínico e no diagnóstico do transtorno. Além disso, atender crianças e adolescentes com suspeita do TEA é um grande desafio na medida em que os psicólogos brasileiros precisam planejar a avaliação psicológica com os recursos disponíveis e ponderar os aspectos éticos intrínsecos ao processo. Até o presente momento não há instrumentos com pareceres favoráveis no site do Conselho Federal de Psicologia que avaliam o TEA. Um instrumento específico para avaliar os comportamentos característicos do transtorno colaboraria no processo avaliação. Diante desse contexto, o presente projeto ¿Estudos Psicométricos da Escala de Comportamentos do Transtorno do Espectro Autista (EC-TEA)¿ visa validar o instrumental para que possa ser utilizada não só no campo das pesquisas, mas do ambiente profissional.

Este estudo buscará evidências de validade da Escala de Comportamentos do Transtorno do Espectro Autista (EC-TEA) recorrendo aos professores e pais/cuidadores como informantes do instrumental. Também examinará as propriedades psicométricas das duas versões (professores e pais/cuidadores) em amostra de crianças entre dois e 12 anos. O foco estará em verificar a capacidade discriminativa das variáveis da escala EC-TEA para identificar crianças com o TEA das crianças sem diagnóstico de transtornos mentais. Além disso, buscar a validação de conteúdo da versão para pais/cuidadores, a sistematização da padronização e normatização das duas versões. Em síntese, o presente estudo tem como objetivo geral avaliar as propriedades psicométricas da escala EC-TEA (Silva & Zanini, 2021). Como objetivos específicos, o estudo pretende: 

• Revisar a caracterização das manifestações clínicas, comportamentais e desenvolvimentais na literatura, tendo como referência os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V para o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista; 
• Grupo focal de profissionais para seleção dos comportamentos característicos do Transtorno do Espectro Autista (TEA), tendo em vista a validação de conteúdo da EC-TEA para o informante pais/cuidadores e a revisão do formulário para professores;
• Validação de conteúdo e estruturação dos dois formulários da escala EC-TEA: versão Professores e versão Pais/Cuidadores;
• Aplicação da escala EC-TEA dos instrumentos Escala de Responsividade Social (SRS-2) e Escala Baptista de Depressão (EBADEP-IJ) em amostra piloto (N = 60) para validação dos formulários (amostra clínica e não clínica). 
• Avaliação das características psicométricas das duas versões (professores e pais/cuidadores) em crianças de dois a 12 anos. Estudo de evidências de validade baseadas na estrutura interna: Análise Fatorial Exploratória (AFE).
• Compilação final dos formulários (professores e pais/cuidadores) em crianças de dois a 12 anos.
• Aplicação da escala EC-TEA e dos instrumentos SRS-2 e EBADEP-IJ em amostra clínica e não clínica, em três regiões diferentes do Brasil, entre crianças de dois a 12 anos (N = 1.450). 
• Comparar se existem diferenças nos resultados entre os grupos (grupo clínico e grupo não clínico), com base nos resultados da EC-TEA e dos instrumentos SRS-2 e EBADEP-IJ.
• Estudo de evidências de validade com base nas relações com medidas externas: validade convergente, discriminativa, concorrente e preditiva.
• Desenvolvimento da normatização dos escores da EC-TEA. 
• Confeção do manual técnico da escala EC-TEA.

Embora os instrumentos encontram-se disponíveis em publicações científicas nacionais, indicando estudos preliminares de validade no contexto de pesquisa, não localizamos instrumentos com pareceres favoráveis no site do Conselho Federal de Psicologia que avaliam o transtorno TEA. Isso significa que não há garantia de evidências de validade e confiabilidade destes instrumentos para a população brasileira, tampouco tabelas normativas para possíveis comparações; seria considerada falta ética a utilização dos mesmos no ambiente profissional. Considerando o contexto de avaliação, um instrumento específico para avaliar os comportamentos característicos do transtorno colaboraria no processo de triagem e encaminhamentos, além de direcionar investigações mais específicas para as suspeitas levantadas. 

Diante desse contexto, o presente projeto de pesquisa, intitulado “Estudos Psicométricos da Escala de Comportamentos do Transtorno do Espectro Autista (EC-TEA)” é um desdobramento da dissertação de mestrado intitulado “Desenvolvimento e Evidências de Validade da Escala de Comportamentos do Transtorno do Espectro Autista” desenvolvido também na PUC Goiás. O projeto anterior possibilitou a estruturação de dois artigos: 1. Instrumentos de Avaliação no Transtorno do Espectro Autista: uma Revisão Sistemática; e 2. Evidências de Validade da Escala de Comportamentos do Transtorno do Espectro Autista. Ambos publicados em revistas científicas e o segundo artigo foi premiado em Primeiro Lugar na modalidade ‘‘Tema Livres no V Prêmio Melhores Trabalhos em Ciência e Tecnologia’’ no Congresso de Ciência e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. 

Espera-se que a escala construída neste trabalho avalie o espectro de acordo com os critérios expostos pela literatura e, posteriormente, possa ser utilizada não só no campo das pesquisas, mas do ambiente profissional. A Escala de Comportamentos do Transtorno do Espectro Autista (EC-TEA) será alvo de outras validações para que, ao final, o instrumento possa ser submetido ao Conselho Federal de Psicologia para análise e uso dos psicólogos.