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A SACRALIZAÇÃO DA URBE: LISBOA MEDIEVAL E OVIEDO; MODELOS NA CONSTRUÇÃO DE UMA TOPONÍMIA SUBLIME
2023/2 até 2025/2
ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES
CULTURA, PODER E REPRESENTAÇÕES
Poder e representações
RENATA CRISTINA DE SOUSA NASCIMENTO
No território peninsular a tradição herdada do período visigótico e moçárabe espalhou pelo território uma grande quantidade de corpos santos, e de objetos. Estes contribuíram para a idealização da presença de forças especiais, que garantiram a este espaço sua sacralidade diferenciada. Neste aspecto os santos e relíquias de prestígio tornaram-se um fenômeno de massa, consolidando o status da região, inseridas dentro do processo de cristianização do espaço. Reunimos nessa pesquisa dois estudos de caso, oriundos da Idade Média, que marcaram a religiosidade ibérica: O culto à São Vicente Mártir e a veneração à Arca Santa de Oviedo (Astúrias).
1.1- As Relíquias e o Culto a São Vicente em Portugal
O Martirológio Romano assim narra os sofrimentos finais de São Vicente, considerado o mais célebre dos mártires da Hispania, falecido conforme a tradição cristã a 22 de janeiro de 304. Nascido em Huesca São Vicente viveu em um dos períodos mais difíceis para os cristãos, durante as perseguições empreendidas pelo imperador Diocleciano[1]. Neste período de perseguições aos cristãos era diácono em Saragoça. Vicente foi preso por ordem de Daciano, governador da região. A historicidade deste personagem é confusa, pois não há nenhuma documentação coeva que situe historicamente a existência do governador. Após ser transferido para Valência[2] o santo foi cruelmente martirizado, por recusar-se a oferecer sacrifícios aos deuses. A memória cultual do mártir situa sua veneração tanto na Europa, quanto no norte da África; ao longo do período romano, da ocupação visigoda e da Idade Média. Sua devoção expandiu-se em toda Hispania e na Gália. Em Sevilha e Córdoba seu culto foi intenso, antes da invasão muçulmana. (NASCIMENTO, 2019) Dos séculos VIII ao X há uma proliferação de igrejas dedicadas ao mártir. Esta difusão também atingiu cidades da Península Itálica, especialmente Milão e Ravena.
Parte de suas relíquias foram supostamente espalhadas por várias regiões, como sua estola (manto) que teria sido transportada de Valência a Paris pelo rei merovíngio Childeberto da Nêustria, após cerco empreendido em 541. Conforme Alberto (2012), também para a cidade de Oviedo foram levadas no ano de 761 relíquias trazidas de Valência. A leitura da Paixão de São Vicente solidificou-se, exaltando sua vitória sobre os tormentos e a morte. A Paixão de São Vicente, Diácono e Mártir (século VI) apresenta elementos detalhados sobre os prodígios realizados através de seus vestígios corporais. Exposto em campo aberto por ordem do governador Daciano o corpo teria continuado intacto: “Não longe dali vivia um corvo...depois de espantar as outras aves, magníficas e rápidas de asas, assustou um lobo que aparecera de repente, atacando-o em voo, e afastou-o do corpo.[3]” Por ter permanecido imune aos ataques das feras novamente o governador mandou jogá-lo ao mar: ... “enchei um pequeno cesto de vime com o seu corpo retalhado e com pedras pesadíssimas. E quando os marinheiros tiverem avançado até bem longe atirem-no às ondas... se as feras da terra não o devoram, que seja pois estraçalhado pelas insaciáveis dentadas dos monstros marinhos.”[4] Conforme a narrativa hagiográfica apesar dos esforços dos marinheiros o corpo permaneceu intacto, sendo posteriormente descoberto. “Ficou sepultado no litoral, no limite entre a água e a terra, ele que tinha sido posto à prova, em testemunho da fé e para seu triunfo, tanto em terra como no mar.[5]” E mais adiante: “E Vicente, bem merecedor de o acharem para ser honrado com a sepultura, foi finalmente descoberto. Dali, foi transportado para uma Igreja, venerável a todos e já bem aventurado pelas honras sepulcrais.”[6] Inicialmente somente os cristãos sabiam da localização dos vestígios, depois as relíquias teriam supostamente sido transladadas para vários locais, fomentando seu culto. Do ponto de vista histórico é difícil conceber um percurso mais direto das relíquias do santo, pois há grande dependência discursiva das hagiografias, hinos e sermões que foram compostos ao longo dos tempos. De toda forma o que nos interessa neste momento é a difusão do culto em Portugal, após a conquista de Lisboa aos mouros, empreendida em 1147.
Em Portugal existiam igrejas de invocação do santo, provavelmente desde o século VII. Seria na região conhecida por promontório sacro, no Algarve que a tradição assinalaria a presença dos vestígios corporais de São Vicente, trazidos de Valência para o local no século VIII. Os cristãos moçárabes que viviam nesta região veneravam o mártir. Conforme narrativas lendárias D. Afonso Henriques teria prometido que recuperaria as relíquias de São Vicente, caso fosse bem sucedido na conquista de Lisboa.[7] Segundo Isabel Rosa Dias (2011) o relato mais antigo da transladação do corpo de S. Vicente para o Algarve é oriundo da Crónica do Mouro Rasis, incorporada na Crónica Geral de Espanha de 1344.[8] Pelas narrativas as relíquias teriam sido trazidas pelos cristãos valencianos devido às invasões muçulmanas.
Outra fonte sobre o translado do corpo santo encontra-se na Crónica de Portugal de 1419... “os homens bõos que tinhão o corpo do mártir Sam Viçente, quando souberom que Adonaamer vinha tão apoderado ...ouverom seu acordo de se irem com ele e o levarem a terra donde fosse guardado”[9]. Continuando a narrativa: “E prouve a Deos de os guiar à quele luguar que vos já disemos, a que dizem o cabo de Sam Viçente, onde ele foy enterrado e escondido...[10] Neste momento o Algarve era considerado terra de infiéis. Posteriormente estas supostas relíquias foram transladadas para Lisboa, cumprindo assim Afonso Henriques sua promessa, impulsionando a cristianização da cidade. Tal como Oviedo, Compostela, Toledo ou Leão, também Lisboa quis ter as suas relíquias insignes para elas representarem a sacralização da urbe, para assim obter a proteção divina e atraírem devotos e peregrinos. (MATTOSO, 2011) Os restos mortais do mártir valenciano foram depositados inicialmente na Igreja de Santa Justa, e depois foram transferidos para a Sé[11]. Nota-se a proximidade dos moçárabes algarvios com os lisboetas. Conforme Pedro Picoito (2008), este translado não foi pacífico, e teria sido uma tentativa dos moçárabes de resistirem ao domínio religioso imposto pelo rei de Portugal. Queriam os moçárabes que o corpo ficasse na Igreja de Santa Justa. Também os monges de São Vicente de Fora, teriam requerido as relíquias, declarando-se seus legítimos possuidores. A disputa pelas relíquias entre moçárabes, regrantes de São Vicente e os cônegos da Sé mostram sua valoração política e simbólica, daí sua mobilidade intensa. (NASCIMENTO, 2019). “Registra-se, pois, e celebra-se em alegria e grata memória o dia em que, segundo consta, o corpo do grande S. Vicente foi transladado para a igreja de Lisboa. Essa transladação festiva e solene está marcada no dia 15 de setembro do ano do Senhor 1173...”[12] Por intermédio das relíquias do santo vários milagres foram relatados pelo chantre em Milagres de S. Vicente dados a público em Lisboa por Mestre Estevão, chantre da Sé Ulissiponense. Através das Coleções de Milagres atribuídas a São Vicente a fama taumatúrgica de restos mortais solidificou-se.
1.2- A Arca Santa e o Sudário de Oviedo
Diante da possibilidade de rememoração da Terra Santa (e de transposição de suas relíquias), o ocidente medieval recriou e readaptou em seu território localidades que seriam reconhecidas como espaços sublimes. Entre estes, pode-se citar a promoção do culto às relíquias da Catedral de Oviedo (Astúrias), que serviu de modelo, a longuíssimo prazo, de reavivamento da presença tangível de Cristo na Terra. Com o objetivo de sacralizar a região e fortalecer a Sé de Oviedo, entre outros, os discursos e a posse da Arca Santa são representações fundamentais nessa construção memorativa. Entre os espaços especiais da Igreja de São Salvador de Oviedo (Sancta Ovetensis), a Câmara Santa é considerada o mais significativo. A tradição afirma que a construção desse local está associada à necessidade de abrigar a Arca Santa, projeto supostamente concebido pelo rei Afonso II, o Casto, que foi rei das Astúrias de 791 a 842. Este teria mandado construir em seu palácio um local adequado para receber o conjunto de relíquias, e transportado a Arca de um eremitério de Monsacro, em 840. Esta narrativa carece, entretanto, de legitimidade histórica. Faz-se, portanto, necessária a compreensão de que estes objetos são elementos simbólicos, portadores de significado e sentido. Seus usos políticos revelam a constante manipulação do sagrado, e das narrativas lendárias que solidificaram a inventio.
No espaço possível deste projeto, iremos recuperar três textos historiográficos significativos, que nos ajudam a interpretar a relevância simbólica e histórica da Arca Santa de Oviedo: o de Miguel Calleja Puerta,[13] intitulado Las reliquias de Oviedo en los siglos VIII-X. Religión y poder; o de Enrique López Fernández,[14] cujo título é Fuentes históricas para el conocimiento de las reliquias de la catedral de Oviedo; e o artigo de Raquel Alonso Álvarez,[15] La cámara santa de la catedral de Oviedo: de thesaurus a relicario. Estes estudos refletem, em épocas distintas, resultados de publicações especiais relacionadas a efemérides que marcaram a restauração do conjunto sacro.
Em seu artigo, Calleja Puerta (2004, p. 97) aponta como principais objetivos: “Indagar para qué sirven las reliquias en la Edad Media y, en consecuencia, de qué modo particular se emplearon en la sede catedralicia de San Salvador de Oviedo”[16]. O lugar que ocupa o culto às santas relíquias no período medieval é também medido pela capacidade de atração de peregrinos. Estes percorriam longas distâncias para venerar um objeto intercessor que pudesse representar a presença visível de Cristo e de seus santos. Conforme o autor, possuir estes vestígios divinos era um vigoroso instrumento de poder, que equivalia a possibilidade de controlar o sagrado, os signos identitários de uma comunidade.
O patronato e protagonismo de uma relíquia se estendia aos gestores e promotores de seu culto, que desde a Antiguidade Tardia gravitavam ao redor dos bispos, principais autoridades em escalas locais. “Por su proprio cometido religioso y su protagonismo en las comunidades urbanas, los obispos serán los primeros en usar en beneficio proprio el poder de las relíquias, su presencia, difusión y control.”[17] (CALLEJA PUERTA, 2004, p. 102). O carisma religioso expressava-se em sua dimensão simbólica e reclamava um objeto sagrado de grande valor. A criação do relicário ovetense e seu redimensionamento é visto como estratégia de poder ligada à monarquia asturiana e aos esforços dos bispos que ocuparam a Sé de Oviedo, na Idade Média, isto é, o processo de identificação de um projeto político com um credo religioso e seus signos.
No reinado de Afonso II, o Casto, já se verifica uma mudança e aceleração do processo de cristianização e definição das Astúrias como um reino solidamente cristão. Além deste fato, é importante a tentativa de promoção urbana desta localidade. A consolidação de templos dotados de relíquias, como as de Santa Eulália, por exemplo, seriam estratégias propagandísticas de poder. Igrejas pré-românicas posteriores completariam esse conjunto, entre elas, pode-se citar a de Santa María del Naranco, consagrada em 848. No entanto, no século IX, não há provas documentais da presença da Arca Santa em Oviedo. As rotas de peregrinação estavam associadas ao Caminho de Santiago. Para o culto Jacobeo, canalizavam-se as disputas entre monarcas e bispos. Naquele século, a Cidade de Oviedo começaria a consolidar-se como centro simbólico de poder, necessitando, portanto, de distinção religiosa para sua Sé:
La situación descrita en la Galia recuerda mucho a lo que conocemos del siglo IX en Asturias; en varios diplomas hallamos a sus monarcas intitulados como reyes de Oviedo, y que esta ciudad se convirtiera en todo un símbolo, en el valor de representación es acaso mayor que sus propias funciones como sede de una corte sometida a permanente itinerancia, se manifiesta plenamente en el gusto con que las Crónicas recorren la nueva formación urbana. (CALLEJA PUERTA, 2004, p.109.)[18]
Grande parte da tradição atribui ao rei Afonso, o Casto, a constituição do bispado, de uma nova sede para o reino das Astúrias em Oviedo, porém, a historiografia prefere localizar no período de Afonso III, que reinou de 866 a 910, o provável reconhecimento desta cidade como sé episcopal. Independente deste fato, o que interessa, segundo o autor, é que
[…] del mismo modo resulta, comprensible que, en las décadas siguientes, ya consolidados en la cúspide del reino, sean los monarcas quienes rehagan el mapa episcopal del reino y lo conviertan en vehículo de su política centralizadora. (CALLEJA PUERTA, 2004, p. 115)[19].
Em torno da história primitiva da Câmara Santa e suas origens, também não há consenso historiográfico acerca de quando este local se transformou em relicário e oratório régio, para depois se transformar em depósito das relíquias da catedral.
O artigo de Enrique López Fernández (2016) faz um levantamento de fontes documentais que precisam quais seriam as relíquias existentes na Arca Santa, fundamentais para seu culto. Conforme o pesquisador, a primeira notícia que oferece um detalhamento das relíquias da Catedral é a Ata de Abertura, realizada sob patrocínio do rei Afonso VI, em 14 de março de 1075. De acordo com a historiografia, somente a partir do século XI é possível verificar o culto às santas relíquias de Oviedo. O levantamento feito por Fernández (2016, p. 13) corresponde, pois, ao período entre a Baixa Idade Média e o limiar da Era Moderna.
Así las cosas, adelantamos que estas fuentes históricas, que nos hablan detalladamente de las relíquias son, fundamentalmente, dos: las buletas del cabildo y las actas de las visitas de los obispos a la Cámara Santa. A ellas se podrían sumar aún: la Escritura de la fundación de la Cofradía de la Cámara Santa (7 octubre 1344), la Escritura de Privilegios de la Cofradía de la Cámara Santa (14 junio 1465) y la visita de Ambrosio de Morales (1572) […] [20]
As Buletas del Cabildo seriam uma espécie de certificação escrita, firmada pela autoridade competente em troca de uma esmola dada pelos fiéis que tivessem cumprido a peregrinação até a Sancta Ovetensis. Fontes tardias afirmam que esta certificação teria sido criada próxima ao Jubileu da Santa Cruz, de 1438. Elas representavam também um sumário das graças que poderiam receber os peregrinos. Enrique López Fernández (2016) discorda do ano de sua “invenção” e tenta localizar o surgimento remoto dessas certificações no século XII, ao tempo do bispo Don Pelayo, grande promotor do culto à Arca Santa. De longa duração, teriam estas sido ainda reeditadas em 1852. Sobre a estrutura formal dos documentos, o autor aponta três aspectos formativos:
Quanto à origem, estes documentos reavivam a tradição da inventio, ou seja, a crença de que os vestígios sagrados existentes na Arca eram oriundos da Terra Santa, périplo este reproduzido na Historia silense e no Liber testamentorum ecclesiae ouvetensis. Quanto ao número de relíquias,
[…] la buleta impresa de 1493 reproduce prácticamente la misma lista que presenta el obispo Don Pelayo en su relato de la historia del arca., ignorando, por lo tanto, la relación que hace el Rey Don Alfonso VI en la escritura de donación de Langreo, la célebre historia de la apertura del arca de 1075. (LÓPEZ FERNÁNDEZ, 2016, p. 15). [21]
A partir do século XVI, o autor já enumera uma tradição mista, que envolve tanto a narrativa pelagiana como a afonsina, misturando as informações sobre o número de relíquias presentes no Tesouro Sacro.
Outra fonte de análise elencada por Fernández refere-se às Atas das visitas de bispos à Câmara Santa, gênero totalmente distinto, que difere bastante das Buletas del Cabildo, quanto ao número e à natureza das relíquias ovetenses. O caráter das visitas dos bispos à Câmara Santa era diverso e distinto, podendo tratar-se de devoção pessoal, estadas protocolares e “[...] visitas con apeo y control de las relíquias existentes, en presencia de secretario, que en algún caso, al menos, podrían coincidir con una de las visitas protocolares.” (LÓPEZ FERNÁNDEZ, 2016, p. 16)[22]. As visitas analisadas no artigo referem-se à época moderna, selecionando Atas dos séculos XVI ao XIX, preciosidades documentais que expressam a longa vitalidade da veneração à Arca Santa e ao Sudário de Oviedo, além de todo o complexo da Igreja de São Salvador.
Por último, passemos à discussão de um dos textos de Raquel Alonso Álvarez (2017), considerada atualmente uma das principais estudiosas do conjunto sacro existente na Arca Santa. A autora procura identificar elementos que potencializaram a promoção da Câmara Santa; de capela palatina a relicário de prestígio. Alonso Álvarez corrobora com a historiografia recente, que concorda com o início do culto às relíquias de Oviedo no século XI, não antes. Nenhuma prova documental anterior ao fim do século XI sustenta a possibilidade de que em Oviedo se celebrava um culto às relíquias: “Tanto los monarcas asturianos como los leoneses favorecieron el culto a Santiago, a la vez que silenciaban el conjunto relicario de Oviedo.” (ALONSO ÁLVAREZ, 2017, p. 62).[23]
Provavelmente, a Câmara Santa transformou-se em relicário após o século XI, mudando a finalidade inicial do edifício. O prestígio concedido pela posse de relíquias foi intenso desde a Antiguidade Tardia, e os monarcas ibéricos tinham consciência também deste fato. Os reis ocidentais fizeram uso constante e interessado dos despojos hipoteticamente divinos, buscando o colecionismo sacro. As analogias relacionadas à Arca da Aliança bíblica estiveram sempre presentes nas narrativas cristãs e sua simbologia representava a própria presença de Deus. Conforme o Livro de Números, capítulo 7: 89, quando Moisés entrava na Tenda da Reunião para se dirigir a Ele, ouvia a voz que lhe falava do alto do propiciatório, que estava sobre a Arca da Aliança, entre os dois querubins. Luís IX fez amplo uso desses signos: “[...] la comparaison de Louis IX avec Moise serait exprime par la représentation de l’arche d’alliance, qui aurait sevi de modèle pour la fabrication de la châsse contenant les reliques de la Passion.” (MERCURI, 2011, p. 113).[24]
Em relação às principais fontes lendárias relacionadas às relíquias de Oviedo, Alonso Álvarez (2017) apresenta duas narrativas: A História Silense e o Corpus literário pelagiano, produzido no scriptorium organizado pelo bispo D. Pelayo de Oviedo, ambas escritas no século XII. Na História Silense, aparece uma versão ampliada do translado da Arca Santa até a cidade de Oviedo:
Según el cronista leonés, una colección de reliquias se habría trasladado de Jerusalén a Sevilla y de ahí a Toledo. La invasión musulmana forzó un nuevo desplazamiento del conjunto, que desembarcó en el puerto de Subsalas, de difícil identificación pero que está situado en las proximidades de Gijón. Ya em Oviedo, Alfonso II habría ordenado la erección de una capilla dedicada a santa Eulalia en cuyo piso superior se depositó el arca. El texto atribuye claramente la edificación de la Cámara Santa al rey Casto y supone que su función primitiva fue la de relicario. (ALONSO ÁLVAREZ, 2017, p. 68).[25]
D. Pelayo de Oviedo é autor de um corpus documental e historiográfico influente tanto em sua época, como na historiografia posterior (ALONSO ÁLVAREZ, 2017). O bispo ovetense foi o principal divulgador do tesouro sacro que continha a localidade, criando uma tradição para a Sé. Nesse sentido, promoveu o rei Afonso, o Casto, ao papel de protagonista tanto no translado da Arca, quanto na construção da Câmara Santa. Fomentado uma tradição “irreal”, D. Pelayo fortaleceu, divulgou e forjou uma topografia simbólica para Oviedo, elevando-a à categoria de Cidade Santa, por possuir um conjunto sacro sublime e significativo.
Em Construir lo sagrado y edificar la sociedad en el occidente medieval (500- 1500), Dominique Iogna-Prat (2016) discute a definição do conceito de sagrado, lembrando que o mesmo somente aparece no vocabulário das ciências sociais em período contemporâneo, por volta de 1900. Em uma definição mais moderna do termo, o sagrado relaciona-se com a complexidade das experiências humanas frente aos mistérios da vida. A Igreja medieval autoproclamou-se também como instância de poder, legitimadora do que é ou não sagrado, santo; “Es sagrado aquello que ha sido consagrado por la mediación de la institución” (IOGNA-PRAT, 2016, p. 15)[26]. O cristianismo supõe a transformação/ transmutação da categoria dos homens e dos bens pela consagração, “Lo sagrado Cristiano está centrado en tempos, lugares y hombres, que instauran un espacio fuera del espacio” (IOGNA-PRAT, 2016, p. 15)[27]. No contexto ibérico, a inventio de restos corporais de santos, e de vestígios materiais associados à vida e paixão de Cristo, fez da região um celeiro de relíquias. As circunstâncias históricas da chegada das relíquias nem sempre são bem documentadas, mas seu simbolismo é indiscutível (NASCIMENTO, 2019). A conservação de um acontecimento declarado como inesquecível fomentou a identidade cristã, possibilitando uma reconstrução, uma remodelação de recordações. Pode-se dividir o culto às relíquias de Oviedo na Idade Média em duas fases distintas:
Nesse âmbito, o bispo D. Pelayo
[…] promovió la redacción de un corpus histórico encaminado tanto a defender los derechos de su sede y promover el culto a las reliquias contenidas en el Arca Santa, como a mantener el prestigio de un territorio escenario importantes acontecimientos históricos. (ALONSO ÁLVAREZ, 2020, p. 66).[28]
Entre essas estratégias discursivas/ narrativas, pode-se citar a História Silense, o Liber testamentorum ecclesiae ouetensis[29] e o Corpus pelagianum.[30]
O monarca Afonso II, o Casto, foi o personagem central dessa reconstrução memorial empreendida por D. Pelayo. A tumba desse rei também foi objeto de uma atenção renovada, existindo a partir desse período um culto a seus vestígios mortais. A promoção das relíquias da Catedral de São Salvador esteve ligada à exaltação monárquica, fazendo parte de um projeto que pretendia vincular o patrimônio sacro de Oviedo às origens da monarquia asturiana. Na Historia Silense, é possível dimensionar a intenção narrativa do autor, ao forjar a participação ativa de Afonso II, o Casto na sacralização da cidade, e no fomento da veneração à Arca Santa:
Mas el rey Alfonso, luego que se vió divinamente enriquecido con tan gran dádiva, en lugar de la perdida Toledo, decreto fabricar una sede para la venerable arca. Para realizar este plan, dejadas las otras atenciones y ansiándolo más y más cada día, desde entonces por espacio de treinte años fabrico una iglesia en Oviedo de admirable obra, en honor de san Salvador, y en ella, a los lados derecho e Izquierdo del altar mayor, construyo dos grupos de a seis altares dedicados a los doce apóstoles. (HISTORIA…, 1959, p. 31)[31]
Na tentativa de dignificação das relíquias existe, concomitantemente, uma busca pelo prestígio e independência da cátedra ovetense. No discurso de monumentalização, o relicário passa de emblema do poder monárquico ao diocesano (ALONSO ÁLVAREZ, 2020; NASCIMENTO, 2019), fomentando o mito de uma cristianização antiquíssima para a Hispania. No futuro, a mesma estratégia será revivida, para destacar a importância da cidade na construção de uma história de santidade territorial, nacional. A viagem de Ambrósio de Morales, realizada em 1572, fez parte deste projeto modelar de uma topografia sublime para a região[32]. Nesse périplo, o objetivo principal foi o mapeamento das riquezas espirituais célebres existentes em três locais: Reino de León, Galícia e Principado das Astúrias. O próprio cronista reafirma o interesse real pelas coisas sagradas, dando destaque também à cidade de Oviedo: “En este medio le trajeron al Rey nuestro Sénor de Oviedo una Relación de las Reliquias, Enterramientos Reales, y Libros antiguos, que hay en aquella Santa Iglesia” (VIAGEM..., 1765, p. I)[33]. Nessa cidade, encontrou Morales uma numerosa quantidade de objetos e corpos santos. Em relação ao Santo Sudário, a narrativa reafirma que sua relíquia estaria entre os pertences da Arca Santa, tendo coberto a cabeça de Cristo, após a crucificação.
El testimonio es la veneración antiquísima en que se tiene esta Reliquia, y la tradición también antigua de que se sacó del Arca Santa, donde, como se ha visto en su letrero, se dice que hay parte de la Sábana de nuestro Redemptor, y no hay duda, sino que no está en esta Reliquia todo el Sudario de nuestro Redemptor, sino parte de él, pues no fue posible envolverse toda la Divina Cabeza en esto solo. (VIAGEM, 1765, p. 80).[34]
A posse do referido lenço/ mortalha era um elemento de destaque nesta reconstrução simbólica da cidade santa de Oviedo, uma miragem da cidade sagrada de Jerusalém. Entre os principais pertences do conjunto de fragmentos sublimes existentes na Arca, pode-se citar várias classes de relíquias: vestígios ligados à vida de Cristo, da Virgem Maria, de personagens do Antigo Testamento, dos apóstolos, de São João Batista, e de diversos santos de renome. Mas, entre estes, o Sudário é o mais significativo, considerado pelos fiéis como testemunha silenciosa da morte e ressurreição de Cristo.
Manipulações e interpolações textuais eram comuns em textos medievais, frequentes nos cartulários, hagiografias e crônicas. Portanto, a busca por fontes que provassem a primazia da Sé de Oviedo sobre suas concorrentes, que garantisse privilégios para a Igreja Asturiana, são elementos recorrentes nos documentos da época. Entre estes, como já citado, encontram-se o Liber testamentorum ecclesiae ouetensis[35], cartulário suntuoso e propagandístico levado a cabo no scriptorium catedralício, de datação imprecisa (entre 1109- 1130), e a Historia Silense. As políticas propagandísticas episcopais estabeleceram-se pouco a pouco, compondo uma tradição, muitas vezes através de tais interpolações textuais, readaptando narrativas pré-existentes sobre o espaço e os vestígios sagrados existentes na Sé de Oviedo. Essas estratégias tornaram-se mais sólidas desde o bispo Arias, promotor da abertura da Arca Santa em 1075. A história lendária do trajeto da Arca Santa até Oviedo, e sua importância estratégica nesta rememoração, também é objeto de discussão, pois não há certeza absoluta quanto a sua definitiva instalação na Câmara Santa. Nessas narrativas documentais, comparações buscavam associar o tesouro sacro e a localidade aos textos bíblicos, elevando o estatuto espiritual da região. Nesse sentido, as associações mais comuns foram:
Reino das Astúrias------------------------------------------------ Terra Santa
Oviedo---------------------------------------------------------------- Jerusalém
Monarquia asturiana-------------------------------------------------- Reis de Israel
Arca Santa------------------------------------------------------------ Arca da Aliança
Afonso II ------------------------------------------------------------ Rei Salomão
Conforme o Livro de Êxodo, a Arca da Aliança seria um veículo de comunicação entre Deus e seu povo escolhido: “Ali virei a ti e, de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins que estão sobre a arca do Testemunho, falarei contigo acerca de tudo o que eu te ordenar para os isralelitas” ( Capítulo 25: 2). As Astúrias, possuindo um objeto de grande valor simbólico e análogo à Arca da Aliança, constituiu-se em território sagrado, protegido por Deus e por seus santos, através de algo tátil, visível, concreto, uma espiritualidade que passava pela materialidade, e manifestação divina protetora de uma região e de um povo especial, separado e escolhido.
O espaço físico, mesmo que representativo, não dá conta da totalidade de signos necessários à perpetuação da memória. Para tanto, é preciso incorporar um cenário mais intenso, dramático, que consiga reunir os elementos necessários a uma lembrança singular e muitas vezes forjada. Essa memória pode ser projetada através de símbolos, que passam a constituir sua identidade, produzindo e reproduzindo novos saberes. O contexto imaginário em que se inserem vai evoluindo e proliferando segundo mecanismos complexos, que se refazem sem cessar. Essa mesma memória torna-se capaz de articular uma relação com o passado, projetando-o no presente. Recursos vários são utilizados nessa elaboração memorativa.
Nos séculos XI e XII, a proliferação de relíquias no ocidente e a multiplicação de lugares de culto são resultados da ocupação cristã de territórios no litoral sírio- palestino após a Primeira Cruzada (1099). A exaltação da monarquia sagrada das Astúrias, através da posse e promoção de fragmentos divinos, faz parte de um projeto propagandístico que teve por centro simbólico a cidade de Oviedo. O culto aos restos mortais do Rei Casto (Afonso II), depositados na Catedral de São Salvador, reforçam os usos políticos das relíquias. A atmosfera de santidade revitalizou a localidade, propiciando uma distinção e singularidade ancoradas em uma reconstrução memorialística do passado. Esta lembrança pode ser reestruturada, manipulada, atendendo a interesses vários, sendo necessária a evocação da origem desses objetos, e de fragmentos que fortalecessem e legitimassem as rotas de peregrinação. Uma narrativa histórica, de origem religiosa, apoderou-se de tais espaços, envolvendo o conjunto de vestígios considerados divinos aí existentes, especialmente a Arca Santa.
Atribui-se ao bispo D. Pelayo (1101-1130) um investimento maior em discursos e representações que fortaleceram, durante seu episcopado, a promoção gradativa do culto às relíquias de São Salvador de Oviedo na Idade Média. Este intentou compor um conjunto documental fundacional, que colaborou nas reinvindicações catedralísticas da primazia. Outras intenções menos claras nesse projeto memorial também incentivaram tamanho investimento e esforço: “Pelayo no solo era obispo de una diócesis concreta, con límites más o menos precisos o en trámite de fijación definitiva; era también el titular de un señorío feudal vinculado a la mitra de San Salvador” (ALONSO ÁLVAREZ, 2013, p. 156)[36]. A este bispo e senhor feudal seria necessário e urgente tamanho empreendimento documental, administrativo e diplomático.
Santuário de peregrinação, a catedral de Oviedo concorria com Santiago de Compostela como local sublime na Hispania, rota que levava ao corpo do Apóstolo de Cristo, São Tiago. Na capital das Astúrias, região rememorada por fazer frente ao avanço muçulmano na Península Ibérica, a presença de Cristo era viva através de muitos fragmentos associados à sua vida terrena e paixão. Para os fiéis, estes representavam a materialidade transcendente, fator de proteção contra o mal, as guerras, as doenças e a morte. A história da origem e do culto da coleção de relíquias da região foi utilizada como emblema monárquico, diocesano e identitário. O relato da inventio dos objetos inseridos na Arca ancora-se na cidade de Jerusalém, onde teria origem a simbologia que estes continham.
[1] Proclamado imperador em 284.
[2] Fato curioso, pois Saragoça e Valência pertenciam a províncias distintas (Tarraconense e Cartaginense).
[3] Paixão de São Vicente, Diácono e Mártir. Documento publicado em Santos e Milagres na Idade Média em Portugal- Textos da Antiguidade Tardia e Alta Idade Média. São Vicente-. Lisboa: FCT/ André Simões, 2015. Volume 1. p 42
[4] Idem. p 43
[5] Idem. p 44
[6] Idem. p 44
[7] O cerco da cidade teve início a 1º de julho de 1147.
[8] O autor se manteve bem fiel ao texto de al-R¿z¿.
[9] Crónica de Portugal de 1419. Edição crítica com Introdução e Notas de Adelino de Almeida Calado. Universidade de Aveiro, 1998. p. 26-27
[10] Crónica de Portugal de 1419. Edição crítica com Introdução e Notas de Adelino de Almeida Calado. Universidade de Aveiro, 1998. p.
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[11] “Regressam, pois, a Lisboa e, sob acção de Deus, entram no porto desejado, remam para terra jubilosos e, pondo aos ombros, com piedade, o corpo sacratíssimo retiram-no do navio. Entretanto, não fosse a violência de alguns, por inconsiderada, causar qualquer dano, durante a noite, quase sem deixarem entender por onde passavam, conduzem-no em segredo à Igreja da virgem Santa Justa A verdade é que quando, ao romper da manhã, a ocorrência de tal facto tão excelso se tornou conhecida da cidade, acorrem os homens, uns desarmados mas outros armados. Estes sustentam, em modos violentos, que o corpo do santo deve ser levado para o mosteiro de uns religiosos situados fora da cidade e aí deposto, os outros, mais ponderadamente, contrapõem que ele deve ser levado para a catedral”. Milagres de S. Vicente dados a público em Lisboa por Mestre Estevão, chantre da Sé Ulissiponense. In Miracula S. Vincentii. Ed e tradução de NASCIMENTO, Aires do e Gomes, Saul A. In São Vicente de Lisboa e Seus Milagres Medievais. In Didaskalia, vol XV, fasc I Lisboa: UCP, 1985. p.103
[12] Milagres de S. Vicente dados a público em Lisboa por Mestre Estevão, chantre da Sé Ulissiponense. In Miracula S. Vincentii. Ed e tradução de NASCIMENTO, Aires do e Gomes, Saul A. In São Vicente de Lisboa e Seus Milagres Medievais. In Didaskalia, vol XV, fasc I Lisboa: UCP, 1985. p. 96- 159
[13] Docente do departamento de História da Universidade de Oviedo.
[14] Cônego da Catedral de Oviedo.
[15] Docente titular do departamento de História da Arte da Universidade de Oviedo.
[16] “Indagar para que servem as relíquias na Idade Média e, consequentemente, o modo particular como foram utilizadas na sé catedralícia de São Salvador de Oviedo”. (Tradução livre)
[17] “Por seu próprio intuito religioso e seu protagonismo nas comunidades urbanas, os bispos serão os primeiros a utilizar, em benefício próprio, o poder das relíquias, sua presença, difusão e controle”. (Tradução livre)
[18] “A situação descrita na Gália lembra muito o que conhecemos do século IX em Astúrias; em diversos diplomas encontramos seus monarcas intitulados como reis de Oviedo e que esta cidade se convertera em todo um símbolo, no qual o valor de representação é ainda maior que as suas próprias funções como sede de uma corte submetida em permanente itinerância, manifestando-se plenamente no gosto com que as Crónicas recorrem a nova formação urbana”.
[19] “[…] da mesma forma resulta compreensível que, nas décadas seguintes, já consolidados na direção do reino, sejam os próprios monarcas quem refaçam o mapa episcopal do reino e o convertam em veículo da sua política centralizadora”. (Tradução livre)
[20] “Assim as coisas, adiantamos que estas fontes históricas, que nos falam detalhadamente das relíquias, são, fundamentalmente, duas: as buletas do cabildo e as atas das visitas dos bispos à Santa Câmara. A elas ainda poderiam somar-se: A Escritura da Fundação da Confraria da Santa Câmara (7 outubro 1344), a Escritura de Privilégios da Confraria da Santa Câmara (14 junho 1465) e a visita de Ambrósio de Morales (1572) […]”. (Tradução livre)
[21] “[…] a buleta impressa de 1493 reproduz praticamente a mesma lista que apresenta o bispo Don Pelayo no seu relato da história da arca, ignorando, portanto, a relação que faz o Rei Don Alfonso VI na escrita de doação de Langreo, a célebre história da abertura da arca de 1075”. (Tradução livre)
[22] “[...] visitas com investigação e controle das relíquias existentes, na presença do secretário, que em algum caso, ao menos, poderiam coincidir com uma das visitas protocolares”.
[23] “Tanto os monarcas asturianos como os leoneses favoreceram o culto a Santiago, ao mesmo tempo que silenciavam o conjunto relicário de Oviedo”. (Tradução livre)
[24] “[...] a comparação de Luís IX com Moisés ficaria expressa pela representação da Arca da Aliança, que teria servido de modelo para a fabricação do relicário que continha as relíquias da Paixão”.
[25] “Segundo o cronista leonês, una coleção de relíquias teria sido trasladada de Jerusalém para Sevilha, e daí para Toledo. A invasão muçulmana forçou um novo deslocamento do conjunto, que desembarcou no porto de Subsalas, de difícil identificação, mas que está localizado nas redondezas de Gijón. Já em Oviedo, Alfonso II teria ordenado a ereção de uma capela dedicada a Santa Eulália, em cujo andar superior foi depositada a arca. O texto atribui claramente a edificação da Câmara Santa ao Rei Casto e supõe que a sua função primitiva foi a de relicário”.
[26] “É sagrado aquilo que tem sido consagrado pela mediação da instituição”.
[27] “O sagrado cristão está centrado em tempos, lugares e homens, que instauram um espaço fora do espaço”.
[28] “[…] promoveu a redação de um corpus histórico encaminhado tanto na defesa dos direitos da sua sé e promoção do culto às relíquias contidas na Arca Santa, quanto na manutenção do prestígio de um território, cenário de importantes acontecimentos históricos”.
[29] Suntuoso cartulário.
[30] Confeccionado em uma espécie de scriptorium catedralício.
[31] “Mas o rei Alfonso, logo que se viu divinamente enriquecido com tão grande dádiva, no lugar da perdida Toledo, decretou fabricar uma sede para a venerável arca. Para realizar este plano, deixadas as outras atenções e ansiando-o mais e mais a cada dia, desde então por longos trinta anos, construiu uma igreja em Oviedo de admirável obra, em homenagem de São Salvador, e nela, nos lados direitos e esquerdo do altar principal, construiu dois grupos de seis altares dedicados aos doze apóstolos”. (Tradução livre)
[32] Ver VIAGEM de Ambrosio de Morales… (1765).
[33] “Neste meio trouxeram ao Rei, nosso Senhor de Oviedo, uma relação das Relíquias, Sepultamentos Reais e Livros antigos, que há naquela Santa Igreja”. (Tradução livre)
[34] “O testemunho é a veneração antiquíssima que se tem sobre esta Relíquia, e a tradição também antiga que foi tirada da mesma Arca Santa, onde, como foi visto no seu letreiro, se diz que há parte do Santo Sudário do nosso Redentor, e não há dúvida senão que não está nesta relíquia todo o Sudário do nosso Redentor, senão parte dele, pois não foi possível envolver toda a Divina Cabeça somente nisso”. (Tradução livre)
[35] Cópias de doações e privilégios outorgados à diocese de Oviedo.
[36] “Pelayo não era só bispo de uma diocese concreta, com limites mais ou menos precisos ou em tramite de fixação definitiva; era também o titular de um senhorio feudal vinculado à mitra de São Salvador”.
Nome | Função no projeto | Função no Grupo | Tipo de Vínculo | Titulação Nível de Curso |
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RENATA CRISTINA DE SOUSA NASCIMENTO
Email: renatacristinanasc@gmail.com |
Coordenador | Pesquisador | [professor] | [doutor] |