Detalhes do Projeto de Pesquisa

AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DE 2014 E A CIDADANIA ATIVA MULTICULTURAL NA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS MÉDICOS: ESTUDO DA RECEPÇÃO PELOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSOS DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA

Dados do Projeto

821

AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DE 2014 E A CIDADANIA ATIVA MULTICULTURAL NA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS MÉDICOS: ESTUDO DA RECEPÇÃO PELOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSOS DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA

2023/1 até 2025/2

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES

GRUPO DE PESQUISA EM RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE

RELIGIÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS

LORENZO LAGO

Resumo do Projeto

O projeto pretende investigar a recepção da proposta de inclusão do reconhecimento das práticas culturais populares e as afro-indígenas, da atenção à diversidade étnico-racial e de gênero e da afirmação da multidimensionalidade do processo saúde-doença, avançada pelas últimas e vigentes Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de graduação em medicina, instituídas em 2014 pela Resolução n. 3 do Conselho Nacional de Educação. O contexto brasileiro tem aparentemente todas as credenciais para o desenvolvimento de práticas e competências avançadas no campo da interseção entre os temas da religiosidade/espiritualidade, da diversidade étnico-racial e de gênero para a promoção efetiva da cidadania ativa multicultural na atenção à saúde. A diversidade cultural é um dos traços marcantes da sociedade brasileira e com certeza se reflete na atenção à saúde e deveria refletir na gestão e na educação em saúde. As experiências religiosas e espirituais, típicas da cultura brasileira, apresentam uma densidade e diversidade ímpar, que dificilmente poderá ser encontrada em outros países. O sistema de saúde poderia efetivamente cooperar com as práticas populares e culturais em saúde, muitas vezes incorporadas em sistemas de significado religiosos ou espirituais, melhorando a qualidade de seu desempenho global. As DCN abrem possibilidades, nomeando algumas diversidades e insinuando sua interseccionalidade pela transversalidade. A timidez das referências contrasta com a riqueza da produção acadêmica sobre estas interseções, não só das ciências humanas e sociais, como também das próprias ciências da saúde. É necessário investigar a persistência de resistências política, cognitivas e emocionais, historicamente consolidadas, que podem estar alimentando filtros e precauções, que impedem que os resultados das discussões e pesquisas sejam levados na devida consideração para a elaboração das DCN e dos projetos pedagógicos. Descritores: formação médica; diretrizes curriculares; cidadania ativa multicultural; diversidade étnico-racial; religiosidade/espiritualidade.

Objetivos

Objetivo Geral

Avaliar a recepção das exigências de formação humanista, de competência cultural e de cidadania ativa multicultural, presentes nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em medicina, nos projetos pedagógicos dos cursos ativos.


Objetivos Específicos

1. Avaliar a presença e o posicionamento curricular do tema das práticas populares de saúde nos projetos pedagógicos dos cursos ativos.

2. Avaliar a presença e o posicionamento curricular do tema das práticas e das percepções culturais de saúde afro-indígenas-brasileiras nos projetos pedagógicos dos cursos ativos.

3. Avaliar a presença e o posicionamento curricular do tema das práticas religiosas e espirituais de saúde nos projetos pedagógicos dos cursos ativos.

Justificativa

Nos últimos 30 anos aumentou significativamente o número das pesquisas e das publicações sobre os impactos da religiosidade e da espiritualidade na saúde, nas estratégias de enfrentamento das doenças e na relação entre o profissional e o paciente (KOENIG, 2012; MOREIRA-ALMEIDA; LUCCHETTI, 2016). A maior parte dessas pesquisas provêm do campo das ciências da saúde, especialmente das áreas da medicina, da psiquiatria, da psicologia e da enfermagem.

O volume da produção acadêmica e científica sobre o tema começa a ter efeitos nos projetos pedagógicos e nos currículos dos cursos de graduação, responsáveis pela formação dos profissionais da área, em vários países. Os cursos de medicina, especialmente, parecem abrir espaços para a discussão do tema em várias formas, curriculares ou não curriculares (COLLETTA DE AGUIAR; CAZELLA; ROSA DA COSTA, 2016; CULATTO; SUMMERTON, 2015; SCHONFELD; SCHMID; BOUCHER-PAYNE, 2016).

Em contraste com a fragilidade ou a ausência de referências nas DCN, o contexto brasileiro tem aparentemente todas as credenciais para o desenvolvimento de práticas e competências avançadas no campo da interseção entre os temas da religiosidade/espiritualidade, da diversidade e da cidadania ativa multicultural na atenção à saúde. As experiências religiosas e espirituais, típicas da cultura brasileira, apresentam uma densidade e diversidade ímpar, que dificilmente poderá ser encontrada em outros países. A diversidade cultural é um dos traços marcantes da sociedade brasileira e com certeza se reflete na atenção à saúde e deveria refletir na gestão e na educação em saúde. O sistema de saúde poderia efetivamente cooperar com as práticas populares e culturais em saúde, muitas vezes incorporadas em sistemas de significado religiosos ou espirituais, melhorando a qualidade de seu desempenho global.

As DCN abrem algumas possibilidades, nomeando algumas diversidades e insinuando sua interseccionalidade pela transversalidade. A timidez das referências, porém, contrasta com a riqueza da produção acadêmica não só das ciências humanas e sociais sobre estas interseções, como também com a produção das próprias ciências da saúde. É necessário reconhecer a persistência de resistências política, cognitivas e emocionais, historicamente consolidadas, que podem estar alimentando filtros e precauções, que impedem que os resultados das discussões e pesquisas sejam levados na devida consideração para a elaboração das DCN?

A recepção da proposta de formação médica inscrita nas DCN de 2014 está sendo objeto de pesquisas com estudantes (FERREIRA; OLIVEIRA; JORDÁN, 2016; MEIRELES et al., 2019), que apontam algumas tendências significativas. As metodologias participativas e a inserção precoce na prática da atenção recebem grande adesão dos estudantes. Já o foco generalista da formação e a ampliação de temas das humanidades médicas são avaliados com maiores restrições, sendo percebidos como desvio da atenção da formação técnica específica.

A esse quadro de recepção ambígua das DCN devemos acrescentar o acelerado crescimento da oferta de vagas e da abertura de novos cursos de medicina. Desde 2014, já sob a égide das novas DCN, o número de cursos de medicina no país quase dobrou, passando de menos de 200 para mais de 350, que oferecem quase 40 mil vagas anuais. Essa explosão coloca o Brasil no segundo lugar mundial quanto à quantidade de escolas, logo atrás da Índia. Com uma escola para cada 600 mil habitantes, o Brasil está muito à frente de países como Estados Unidos, Japão, França e Alemanha. Das 355 escolas de medicina em 2022, 212 (60%) são privadas ou comunitárias e 143 públicas (federais, estaduais ou municipais).

Nesse cenário de crescimento das escolas e de demanda aquecida para a formação médica, deve ser analisada cuidadosamente a efetiva recepção das tímidas exigências de formação para a cidadania ativa multicultural e de atenção à multidimensionalidade do processo saúde-doença avançadas pelas DCN.


Esse projeto se relaciona com o projeto de pesquisa “Religião, espiritualidade e saúde: os sentidos do viver e do morrer” (Projeto n. 489/Sigep, com vigência 2020/1-2024/2), coordenado pela dra. Carolina Teles Lemos, que busca estudar mudanças no campo médico (novas tecnologias e redefinição da relação médico-paciente) e no campo religioso (teodiceias tradicionais e novas espiritualidades), inclusive para contribuir com subsídios para orientar os projetos pedagógicos dos cursos da área de saúde.

Equipe do Projeto

Nome Função no projeto Função no Grupo Tipo de Vínculo Titulação
Nível de Curso
LORENZO LAGO
Email: lorenzo@pucgoias.edu.br
Coordenador Pesquisador [professor] [mestre]