Detalhes do Projeto de Pesquisa

AS CASACAS DE CLIO: OS ARQUÉTIPOS AUTORITÁRIOS DO LEGADO PATRIMONIAL

Dados do Projeto

774

AS CASACAS DE CLIO: OS ARQUÉTIPOS AUTORITÁRIOS DO LEGADO PATRIMONIAL

2022/2 até 2024/2

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES

CULTURA, PODER E REPRESENTAÇÕES

Poder e representações

EDUARDO GUSMÃO DE QUADROS

Resumo do Projeto

As democracias passaram por um refluxo, em termos globais, no início do século XXI. Do ponto de vista histórico, pode-se remontar ao período da Guerra Fria a reformulação dos arquétipos autoritários que, ainda celebrando a vitória sobre o nazi-fascismo, retomaram seus dispositivos para estabelecer os padrões de governança social. No Brasil, podemos identificar com maior clareza sua emergência no período ditatorial civil-militar, desde a articulação do movimento golpista de 1964 até a promulgação da Constituição Federal de 1988. Esse projeto de pesquisa está voltado para a análise da política cultural formulada nesse período, em particular as concepções do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Buscamos compreender, com a utilização do arcabouço da Teoria Crítica, o entrecruzamento entre os usos autoritários da reelaboração do passado e as pretensões de controle político-social.

Objetivos

- GERAL: Identificar os arquétipos autoritários evidenciados na política cultural promovida pelo estado ditatorial, em particular na visão do legado do tempo, a partir dos discursos e práticas patrimoniais do Iphan.

            - ESPECÍFICOS:

 - Compreender como o projeto de futuro nacional levou à valorização e uma forma de sensibilidade com as heranças do passado;

- Analisar as publicações e as decisões tomadas pelo órgão governamental responsável pelo patrimônio histórico brasileiro;

- Inserir a perspectiva regional no estudo da história das políticas patrimoniais e a os traços da inserção de Goiás no projeto de integração territorial;

- Apontar os efeitos da Guerra Fria na construção de um tempo histórico que reforça os aspectos cívicos em detrimento da cidadania e que aponta para as qualidades da hegemonia capitalista.

- Refletir teoricamente sobre a vigência dos arquétipos autoritários, seu funcionamento infrapolítico, desde a perspectiva pioneira da Escola de Frankfurt e de Theodor Adorno em especial;

- Formar novos pesquisadores, demonstrando a importância de demarcar as heranças ditatoriais na historiografia e na política patrimonial brasileira.

Justificativa

No caso brasileiro, teremos a imposição do regime ditatorial em 1964. Nossos olhos se voltam, então, para a emergência dos arquétipos autoritários a partir da busca de legitimação das ações repressivas promovidas pelo Estado. O combate fundamental da esfera política, expresso por Schmitt (2008) por meio da relação amigo-inimigo, ultrapassou os limites dos Direitos Humanos para a eliminação dos inimigos, o que foi concretizado pelo Ato Institucional Nº 5. Nesse ato, além da caça ao perigoso “inimigo interno”, já se fala na “imperiosa adoção de medidas que impeçam sejam frustrados os ideais superiores da Revolução, preservando a ordem, a segurança, a tranquilidade, o desenvolvimento econômico e cultural...” (apud FICO, 2014, p.383).

            Esse projeto de pesquisa pretende analisar exatamente a política cultural que encarnou esses ideais e de que modo eles permaneceram no período da lenta redemocratização (1979-1985). O foco está nas noções, valores e ações realizadas por meio do órgão responsável pelo patrimônio brasileiro. Em 1967, foi empossado o arquiteto Renato Soeiro na gestão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), substituído em 1979 por Aloísio Magalhaes até 1982. Ambos buscaram, nas palavras de Santos (2019), construir uma “memória nacional unificada” por meio da atuação estatal. Há ainda, paralelamente, a atuação do Conselho Federal de Cultura, já estudado por Maia (2012) e que corrobora tais metas. 

A pesquisa aqui proposta se divide em três áreas correlacionadas:

  1. A análise crítica dos conceitos de história, passado, arte, patrimônio, nação, povo e cultura apresentados nas publicações do Iphan durante o período ditatorial, identificando os modos como os arquétipos autoritários se manifestam na documentação que produziu. Essa análise se dá no âmbito nacional e por meio das publicações produzidas pelo órgão;
  2. O estudo a partir do acervo da Superintendência do Iphan em Goiás das ações realizadas no Estado (ainda com o território do atual Tocantins na época) e do material publicado, enfocando a valorização do patrimônio goiano. O objeto aqui tratado está nas representações do que o estado possui de valor e o que pode oferecer esteticamente à construção nacional idealizada enquanto sociedade pacífica e integrada;
  3. Uma visão ampliada da política cultural latino-americana a partir de sua integração no lado ocidental da Guerra Fria e da ocorrência dos golpes de Estado preventivos que acarretaram em regimes ditatoriais na ampla maioria dos países. Isso significou tanto a adesão à cosmovisão do capitalismo liberal e dependente quanto a repressão aos movimentos organizados populares, captados desde as políticas públicas e relacionadas ao patrimônio histórico. 

Na articulação destas três esferas, ou três escalas de análise, podemos compreender melhor o título dado ao projeto. Os gestores das políticas culturais não eram propriamente militares com suas “fardas”, mas profissionais liberais que, com suas “casacas” autoritárias, advogaram noções coadunadas com a organização hierárquica da sociedade, com as políticas de repressão, com a difusão do espírito cívico conforme os parâmetros ditatoriais. O conflito entre os dois ramos da elite política, fundadores da república brasileira (CARVALHO, 1998), estava relativamente bem resolvido.

Equipe do Projeto

Nome Função no projeto Função no Grupo Tipo de Vínculo Titulação
Nível de Curso
EDUARDO GUSMÃO DE QUADROS
Email: eduardo.hgs@hotmail.com
Coordenador Líder [professor] [doutor]