Detalhes do Projeto de Pesquisa

POLITEÍSMO SUBJACENTE NAS LITERATURAS SAGRADAS DAS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS

Dados do Projeto

773

POLITEÍSMO SUBJACENTE NAS LITERATURAS SAGRADAS DAS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS

2022/2 até 2026/2

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES

RELIGIÃO, TEOLOGIA E SOCIEDADE

TEOLOGIA, BÍBLIA E RELIGIÃO

MARIOSAN DE SOUSA MARQUES

Resumo do Projeto

Judaísmo, Cristianismo e Islamismo são consideradas religiões monoteístas. A crença em um único Deus é um dos pilares comum a essas religiões. No Judaísmo essa crença se torna expressão de oração, como é a recitação do Shemá Israel feita diariamente pelo judeu. O Cristianismo prega um Deus único em três Pessoas em seu credo trinitário. O Islão se expressa como detentor de um monoteísmo puro. Porém, uma leitura crítica das literaturas sagradas dessas religiões revela esforços para a ocultação do politeísmo das tradições de suas origens pari passo com o apagamento da presença ativa da presença feminina. No Judaísmo, o nome Deus já traz em si o sinal da pluralidade, visto que não é substantivo singular. No que tange à presença ativa das mulheres, ela é diminuída pela edição final dos textos sagrados feita pelos judeus no contexto do pós-exílio babilônico, com o intuito de preservar a ¿religião pura¿. No Cristianismo, segundo alguns autores, acontece algo semelhante: a força transformadora da mensagem de Jesus teria perturbado a ¿ordem social de cunho patriarcal¿. E juntamente com o apagamento das mulheres nos lugares de liderança, houve também a eliminação de ¿credos populares¿ e a purificação da religião. No que tange ao Islamismo, o esforço do profeta Maomé foi em direção à eliminação do politeísmo presente em Meca. E embora sua esposa Cadija tenha tido um papel fundamental na vida do profeta, ela e as mulheres em geral não tiveram espaço nas tradições oficiais do Islão. Além dessas três religiões tidas oficialmente como monoteístas, alguns estudiosos recentes levantam em questão o monoteísmo Egípcio na reforma religiosa de Akhenaton no Egito e os esforços monoteístas de Zoroastro na Antiga Pérsia. Ambas as reformas, partem de tradições politeístas precedentes e envolvem de alguma forma a presença de figuras femininas. A pesquisa procura elementos de bases comuns entre essas tradições e busca identificar uma possível relação entre reforma religiosa em direção monoteísta e o apagamento de figuras femininas.

Objetivos

a) Objetivo geral:


  • Evidenciar operações hermenêuticas de ocultamento do politeísmo por parte das tradições monoteístas institucionalizadas pari passu com o silenciamento de lideranças femininas em seus textos sagrados.


b) Objetivos específicos:


  • Desconstruir a ideia preponderante do evolucionismo aplicado às tradições religiosas a qual considera as religiões monoteístas mais evoluídas e as tradições politeístas como antigas e atrasadas.
  • Questionar as categorias de “atrasadas” aplicada às tradições religiosas antigas e originárias e “modernas” aplicada às religiões monoteístas, favorecendo um novo cenário conceitual em que a pluralidade religiosa contribua para a transformação da organização religiosa e social.
  • Aplicar o método exegético aos textos das literaturas sagradas das religiões monoteístas e perceber as operações hermenêuticas de recensões, acréscimos e cortes, operações essas guiadas por objetivos teológicos bem específicos, motivados por vontade de poder e domínio, com a consequente obliteração ou enfraquecimento de ideias e/ou figuras menores como mulheres e leigos na participação da organização religiosa e social.
  • Suscitar a percepção de que quase sempre, nas reformas religiosas antigas em direção ao monoteísmo, é notável a tomada de decisões que impliquem na retomada e/ou reafirmação de conceitos, pensamentos e atitudes de domínio, superioridade e exclusão.
  • Fomentar a pesquisa interdisciplinar, especialmente a Exegese, a Sociologia, a História Social das Religiões e a Fenomenologia das Religiões para assegurar uma abordagem ampla, minuciosa e assertiva, resultando em revisão história de conceitos e ideias sedimentadas, garantindo publicações conjuntas de alta qualidade.  
  • Visibilizar a pesquisa, seja por meio das ferramentas da tecnologia da informação, seja por meio de publicação em periódicos da área, bem como na apresentação de comunicações em congressos e seminários e formação de grupos de estudo abertos à iniciação científica de estudantes de graduação.

Justificativa

A trajetória investigativa a ser percorrida a partir deste projeto de pesquisa visa o confronto de dois percursos epistêmicos: a operação hermenêutica de ocultamento do politeísmo nas escrituras sagradas das religiões monoteístas e o enfraquecimento da presença feminina em posições de liderança. Nessa linha, constata-se uma ausência de estudos que unam esses dois percursos, o que justifica essa pesquisa. Esta justificativa pode ser melhor expressa nos argumentos que se seguem:

I) O primeiro argumento de nossa justificativa, decorrente diretamente do escopo da pesquisa, consiste na ausência de pesquisas que entrecruzem a construção histórico-literária dos monoteísmos e o cancelamento do papel das mulheres na conservação de tradições religiosas populares. A necessidade da investigação é amparada ainda pela carência de elementos teológicos que pondere a relação entre monoteísmo e a afirmação das sociedades hierárquicas e opressoras e consequentemente a construção social da figura masculina de poder e força em detrimento do feminino e sua capacidade de resiliência.

II) Em segundo lugar, destaca-se entrecruzar dessas duas perspectivas, monoteísmo e feminismo. Tendo já essa última ganhado resultados vultosos na luta pela emancipação das mulheres e ocupação do seu lugar de direito no espaço não só público, mas também religioso, a primeira carece ainda de uma reavaliação. Com efeito, a despeito de o monoteísmo ser considerado como o mais alto grau da evolução religiosa, ele pode ser o resultado da obliteração da pluralidade. E historicamente é preciso não esquecer que os grandes impérios, responsáveis por conquistas, guerras e destruição sem fim, sempre se apoiaram numa religião única, normalmente de cunho monoteísta. Repensar o conceito de monoteísmo à luz da sadia e necessária pluralidade é um imperativo que norteará essa pesquisa em perspectiva multidisciplinar. Ademais, como já foi mencionado, há indícios consideráveis, nas literaturas sagradas das religiões, da afirmação dos monoteísmos em detrimento não só da pluralidade como também da condição de igualdade e coparticipação das mulheres nas posições de comando.  

III) Em terceiro lugar, a pesquisa projeta-se para ser desenvolvida nos vários degraus acadêmicos, incluindo os níveis de iniciação científica, mestrado e doutorado, por pesquisadores vinculados à PUC Goiás e outras Universidades. Ressalta-se que o pesquisar titular, tendo feito mestrado em Roma com extensão em Israel, poderá mediar a troca de experiência e diálogo entre diferentes religiões no que toca à formulação dos monoteísmos bem como no que tange à lida pela reverberação da igualdade de gênero nos espaços sagrados. Partindo de um recorte eminentemente interdisciplinar, aberto a diversos pesquisadores, espera-se consolidar resultados abrangentes que possibilite a consolidação da PUC Goiás como Universidade de impacto internacional.

IV) Em último lugar, é preciso ressaltar o perfil do pesquisar titular com formação de mestrado em Exegese Bíblica no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e doutorado em Ciências da Religião na PUC Goiás na linha de pesquisa “Religião e Literatura Sagrada”, sendo habilitado para fomentar parcerias em nível de pós-graduação, resultando em dossiês temáticos, eventos científicos e organização de livros centrados no foco da pesquisa. Ademais, como professor na graduação de teologia desta Universidade, poderá incluir os graduandos nos primeiros passos da pesquisa através da iniciação científica. 

Essas são, em resumo, algumas das razões que evidenciam a importância e necessidade da presente pesquisa, possibilitando uma abordagem interdisciplinar e ampliando com um recorte teológico sociológico específico, qual seja, o repensar das concepções monoteístas e suas construções históricas como processo de ganhos e perdas. Uma voz única, embora permita a sua audição com melhor clareza, significa também o silenciamento das polifonias que permitem a explosiva beleza da sinfonia.

Equipe do Projeto

Nome Função no projeto Função no Grupo Tipo de Vínculo Titulação
Nível de Curso
MARIOSAN DE SOUSA MARQUES
Email: mariosansousa@hotmail.com
Coordenador Pesquisador [professor] [doutor]