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PROTAGONIZANDO VIDAS: MULHERES EM NARRATIVAS
2022/2 até 2027/2
ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES
MEMÓRIA SOCIAL E SUBJETIVIDADE
Diversidade Cultural, Reconhecimento e subjetividade
MARIA DO ESPIRITO SANTO ROSA CAVALCANTE RIBEIRO
3.1 - Historicizar a vida de mulheres através de suas experiências e de seus lugares de sociabilidades.
3.2- Empreender um estudo a partir da categoria mulheres como viés de leitura dessas experiências pessoais, legítimas e legitimadoras do tempo e do lugar em que seus protagonismos as tornam reconhecíveis.
3.3- Construir novas narrativas a partir das histórias de vidas protagonizadas por mulheres, enquanto referências deslegitimadoras dos saberes históricos construídos a partir de um sujeito único.
3.1 – Objetivos específico
3.1.1- Considerar que as mulheres que viveram os mesmos períodos históricos, ainda que muito próximos, não são contemporânesas pois, ‘o critério de sexo,a idade, a categoria social, o local geográfico, a tradição, ou a cultura”, (Corbin, 2005) que cada mulher vivenciou não mensura a singularidade de sentir o seu mundo e as múltiplas possibilidades de expressá-lo.
3.1.2- Considerar essa complexidade e simultaneidade de experiências de vidas protagonizadas por mulheres, se insere no campo da história das sensibilidades.
3.1.3- Legitimar o campo das sensibilidades como a via possível de apreensão do passado pelos sentidos, o que exclui qualquer tentativa de construção de narrativa histórica homogênea reduzida, portanto, a um sentido único.
3.1.4-Constatar que as categorias espaço e tempo , “não estão presentes no mundo empírico como um dado, mas como um produto mental, sob a forma de representações.”(Pesavento, 2004)
3.1.5-Considerar que as representações que estas mulheres constroem a partir de seus protagonismos, são portadoras de sentidos que se constroem nos limites de suas experiências de vida no âmbito do espaço doméstico e de suas relações de sociabilidades.
3.1.6- Aplicar os usos dos conceitos e categorias metodológicas “em termos de fronteira e de contato”(Perro,1998:357) considerando sempre o lugar de onde falam estas mulheres, como falam e para quem falam.
3.1.7- Comprovar que fazer história na perspectiva da subjetividade, pressupõe o diálogo constante entre as fontes do campo das representações(a oralidade, a literatura, as imagens e outras) e o campo das práticas sociais.
3.1.8- Contribuir para pensar as subjetividades como o campo das pesquisas históricas que lidam com o imensurável, a vida privada e suas sutilezas e formas de revelar, de exorcizar ou esconder as emoções guardadas e que podem ser narradas historicamente ou esquecidas.
3.1.9- Legitimar os usos das memórias nas pesquisas históricas e a relação necessária e indispensável que estas estabelecem com “as fontes escritas, os objetos e a arqueologia do cotidiano.”(Perrot,1998:358)
Este projeto “Protagonizando vidas : mulheres em narrativas” tem sua primeira versão no projeto de pesquisa de Iniciação Científica “Vozes do Tocantins- Mulheres Sertanejas”, parcialmente concluído em julho de 2004 e que prosseguiu até julho de 2007 , na PROPE/ UCG /PIBIC/CNPq com o projeto “ Sertanejas do Brasil Central”, que se justificava pela pesquisa no acervo documental de Santa Cruz de Goiás, cuja documentação manuscrita dos sécs. XVIII e XIX ( Despesas Provinciais- dízimo, venda de gado/ Fazenda Provincial- balancetes/ Fórum de Santa Cruz- Inventário post mortem do Cartório do 1º Ofício, processos judiciais e testamentos) são referências que oportunizam leituras inéditas, dentre estas, sobre as mulheres administradoras de fazendas de gado em Goiás no séc. XIX. Acervo que possibilitou prosseguir a pesquisa histórica na perspectiva de inserção dessas mulheres na economia agropastoril do sudeste de Goiás ao longo do séc. XIX. Como resultado da exploração desta documentação merece destacar a pesquisa monográfica “Representações da mulher, no Goiás sertão, séc. XIX”,( 2005), de Clerismar Aparecido Longo e, também, a pesquisa de mestrado/UFG de Hugo Leonnardo Cassimiro, “Trabalho e Relações Sociais de Sexo em Goiás, séc. XIX”, desdobramento do projeto de Iniciação Científica “As Mulheres e sua inserção nas Fazendas de Criar Gado em Goiás no Séc. XIX”. Mais recentemente, as monografias de conclusão do curso de licenciatura em História em 2010, “Narrativas sobre a maternidade” de Eduardo Henrique Oliveira e Silva e Shirlei Fernandes Romano “ Mulheres do Sertão: Vozes, narrativas e visibilidades”. Ambos bolsistas PIBIC/CNPq, em projeto de Iniciação Científica:” Lembranças e Narrativas de Mulheres do Sertão.” sob minha orientação. A partir desses projetos reconheço que a linha de pesquisa sobre Mulheres foi se legitimando e consolidando como campo de pesquisa no Programa de Mestrado em História da PUC GO e também na graduação em História. Nesse sentido, destaco a disciplina de mestrado: História e Estudos de Gênero, ministrada por mim e em parceria com outras colegas por várias vezes no Programa do Mestrado como disciplina optativa. Com certeza essa disciplina contribui também, para consolidar uma produção significativa sobre os estudos feministas, mulheres e gênero na PUC GO. Vale ainda ressaltar as orientações de mestrado, de iniciação científica, e trabalhos de conclusão de curso já concluídas e em andamento: Em 2009, do Programa de mestrado em História de Maria das Graças Cunha Prudente, “ O Silêncio no Magistério: Professoras na Instrução Pública na Província de Goyaz no séc. XIX.” ; A dissertação de Eli Braz da Silva Júnior : “Velha Goiás, Velha Cad:eia: as vozes que se podem ouvir”, que através de pesquisa em arquivos do séc. XIX, na cidade de Goiás, dá voz ás mulheres presidiárias. Em 2010: Rúbia Carla Martins Rodrigues: “História e Memória do Movimento Feminista em Goiânia”. Em 2012: “ Os Crimes de Maria: um estudo sobre a criminalidade feminina na cidade de Goiás, Séc. XIX”, de Lúcia Ramos de Souza; Dymilla Francyella Freitas Menezes. “Conquistas e Resistências: Historicizando as Experiências de Mulheres em Aragarças e Barra do Garças (1970 A 1990)”; Em 2013: Neide Sousa Almeida Rodrigues: “Fotografia, Gênero e Cidade: Bela Vista de Goiás sob as lentes de Antônio Faria”; Wayne Gonçalves da Silva: “ As cantoras de Rádio em Goiânia nas décadas de 1950 e 1960”; Henrique Pinto Coelho: “É Favor me Olhar com Cuidado: Mulheres e suas Representações nas Fotografias de Luiz Pucci em Goiânia”, Nilson de Sousa Freire. “Casamento, Embates e Arranjos Políticos em Goiás: uma abordagem das relações de poder na perspectiva de gênero”; Em 2013,conclusaõ da orientação de Iniciação Cientifica: “A TRAJETÓRIA DE CONQUISTA DOS DIREITOS DAS MULHERES NO GOIÁS SERTÃO”. de Marília Queiroz Costa, bolsista PIBIC PUC GO. Em 2014: “A Emancipação das Mulheres e suas controvérsias”, pesquisa de TCC de história de Leita Cristina da Silva. Em 2015 “ O Corpo e a Ditadura da Moda na perspectiva do filme: O Diabo Veste Prada”, orientação do TCC de história, de Lorena Maria Gonçalves; ”. Em 2015 dissertação de mestrado: “Representações das Mulheres no Jornal Daqui” de Esdra Basílio; 2015 “ Cora Coralina e suas outras mulheres”, TCC de História de Ana Paula Pereira Afonso. Em 2015, conclusão da supervisão de pós doutorado da profa. Dra. Cristiane Thais do Amaral Cerzósimo Gomes, da Universidade Federal do Mato Grosso: “IMIGRAÇÃO DE SOLTEIROS NA ROTA DO PRATA: vivências, experiências e sensibilidades de italianos em Mato Grosso (1856 a 1914).”Em 2016 Tatiana Luiza Souza Coelho. Dissertação de mestrado: “As Mulheres do(no) Pasquim. O Risível sob os Traços de Ziraldo”;. Em 2016 Lindinalva Gomes da Silva. Dissertação de mestrado: “Mulheres Negras na Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado, Séc. XX em Goiás”; 2016 dissertação de mestrado de Sônia Nogueira Leandra. “AS MULHERES NEGRAS NA LUTA CONTRA A ESCRAVIDÃO: submissão e resistência em Vila Boa- GO (Séc. XIX)”. Em 2017 orientação de Iniciação Científica: “ A Violação dos Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha (2006-2017)”, da bolsista voluntária de Iniciação Científica Letícia Plácido Cabral. E 2018 orientação de mestrado: “A Representação Política das mulheres em Goiás, a partir da Lei 9.504/1997( Lei de Cotas), da mestranda Daiane Alves de Sá. Em 2022 orientação de mestrado: Direitos Humanos e o sistema prisional: mulheres transexuais/ travestis egressas do sistema penitenciário do Distrito Federal e Goiás, de Ludmila Soares Paiva.
Merece evidenciar a importância para a pesquisa histórica em Goiás, com destaque para as possibilidades de pesquisas sobre as mulheres, o acervo documental do IPEHBC – Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central da Universidade Católica de Goiás, que dispõe de documentos manuscritos dos sécs. XVIII, XIX, XX(Processos de gênero, dispensas matrimoniais, compromissos de irmandades, diários, visitas pastorais e cartas de ordenação presbiterial) e cópias da documentação da Capitania de Goiás(1731-1822). E o acervo do Arquivo Histórico de Goiás ( os registros de coletoria). Fontes que evidenciam a existência de mulheres proprietárias de gado, de escravos, de terras, de engenho e tavernas,”fontes de onde se pode partir para outras, com mais riquezas de detalhes, pela forma como expõem nominalmente os lançamentos de impostos.” ( Cassimiro, 2006)
A referência a esta disponibilidade documental é apenas para indicar as possibilidades de pesquisas através de projetos que tem como pressuposto de pesquisa as experiências de mulheres e seus protagonismos ainda não legitimados nas narrativas históricas. Dentre estas fontes, vale destacar o acervo iconográfico do fotográfo Hélio de Oliveira, que em 50 anos de fotografia dispõe de 34.000 fotos, uma fonte inédita, que pode ser explorada na pesquisa histórica em Goiás, com ênfase na representação das mulheres em Goiás, nas suas primeiras décadas do Séc. XX. Os álbuns de famílias, também, reveladores da memória de lugares e tempos, constituem fontes de primeira mão para as narrativas históricas inéditas possíveis de recontar a vida das mulheres do ponto de vista memória imagética.
Vale lembrar que este projeto proposto é o desdobramento de descobertas de novas fontes e lacunas na pesquisa histórica no decorrer da execução dos projetos de iniciação científica, de TCC e orientações de mestrado, que o antecedem. As etapas que o precedem não esgotaram todo o referencial que ainda deve ser pesquisado, tanto fontes de arquivos, quanto fonte oral, vale ressaltar a observação de uma das bolsistas de iniciação científica daquela primeira fase do projeto:
Quando este projeto de pesquisa sobre as mulheres sertanejas começou a ser executado o que mais chamou a atenção foi a inexistência de produção bibliográfica a respeito do assunto ou, quase nenhum estudo de memórias voltado para essas mulheres. (Sílvia Clímaco ,2004)
Com certeza, há muito o que se perguntar e há muito o que se revelar sobre as singularidades das histórias dessas mulheres que viveram o Sertão do Brasil Central e o Goiás moderno, portanto, propor esta temática é apenas o começo de possibilidades de pesquisas que só agora vislumbram novas perspectivas de abordagens históricas. Lembrando Câmara Cascudo quando disse “ não existem pequenos temas e sim pequenos investigadores”, fica o desafio de saber sempre o que se quer perguntar e onde se pretende chegar para não correr-se o risco de uma produção mimética, plástica e sem interlocução com as demandas desafiadoras do tempo em que insere-se esse projeto.
Em tempos de novas possibilidades paradigmáticas vale lembrar a observação de Matos quando reconhece que a temática dos estudos de gênero e mulheres por serem flexíveis e abrangentes impõem “ dificuldades para definições precisas, exigem criatividade, sensibilidade e imaginação. São muitos os obstáculos para os pesquisadores que se atrevem a enveredar pelos estudos de gênero_ campo minado de incertezas, repleto de controvérsias e de ambigüidades, caminho inóspito para quem procura marcos teóricos fixos e definidos.( Matos, 2002:1060)
Nome | Função no projeto | Função no Grupo | Tipo de Vínculo | Titulação Nível de Curso |
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MARIA DO ESPIRITO SANTO ROSA CAVALCANTE RIBEIRO
Email: mariarosacavalcante@gmail.com |
Coordenador | Pesquisador | [professor] | [doutor] |