Escreveu o helenista alemão Edouard Zeller (1814-1908), certa feita, que nós, professores, devemos aos sofistas, intelectuais gregos que viveram majoritariamente no século V a.C., um pedido de desculpas. Esses intelectuais foram os primeiros professores da história, no sentido moderno da atividade. Com eles a educação tornou-se teórica. Com eles, ainda, o conhecimento passou a ter não somente o valor de obtenção e de aplicação, mas também de transmissão, valor passível de ser quantificado. Por fim, diz-nos Zeller, a invenção do professor remunerado fez com que a atividade docente se colocasse ao alcance de todos os capacitados, concentrando em um único lugar os talentos mais diversos. A pesquisa que propomos tem como propósito estudar a sofística grega sob a perspectiva da prática definidora do movimento: o ensino pago. Tendo como principais referências as obras Protágoras e Sofista, ambas escritas pelo filósofo grego Platão (428-348 a.C.), a peça As Nuvens, de Aristófanes (c. 447 a.C. ¿ c. 385 a.C.) e o manuscrito anônimo intitulado Duplos Argumentos (Dissoi Logoi), de 404 a.C., quer-se investigar a prática sofística de cobrar para ensinar, associando, ao mesmo tempo, a educação e o trabalho remunerado. e, de outro, a educação, propõe-se a investigação acerca do movimento sofista tomando como ponto de apoio o modo como a cultura que abrigou o movimento percebia a atividade remunerada, a riqueza e o dinheiro, em contraste com a absoluta novidade que a quantificação do conhecimento e sua oferta mediante pagamento representavam no século V a.C. Palavras-chave: Movimento sofista ¿ educação grega ¿ trabalho remunerado ¿ filosofia grega.

2.1. Objetivo Geral (ou primário)

Compreender os pressupostos que determinaram tanto os meios quanto os fins pretendidos pela pedagogia sofística, assim como sua vinculação com o ensino pago, como resposta à demanda de sua época por um conhecimento específico e orientado para o exercício da cidadania.  

2.2. Objetivos Específicos (ou secundários)

2.2.1 Defender a tese de que a rejeição histórica aos sofistas tem origem na rejeição do homem grego ao trabalho em si e à remuneração do trabalho, juntamente com o apreço pelo ócio e pelos valores aristocráticos tradicionais.

2.2.2 Identificar e explorar a dissociação entre ensino pago e conhecimento e extrair dela suas consequências teóricas possíveis; 

1. Trazer novamente à discussão o aspecto do modelo de educação que permanece até nossos dias que envolve o valor do conhecimento e o recebimento de pagamento por sua transmissão.
2. Estabelecer um paralelo entre a educação sofística e o atual modelo de formação técnica, utilitarista, hedonista e mercadológica da atualidade.

A investigação a ser desenvolvida se justifica, primeiramente, do ponto de vista histórico: os sofistas não foram apenas os primeiros pedagogos da história ocidental; mais que isso, eles inventaram a educação como a entendemos hoje. O resgate e o reconhecimento da importância da revolução pedagógica promovida pelos sofistas já são razões suficientes que justifiquem a escolha pelo tema, mas o resgate histórico do movimento não pode ser nosso único propósito. 

Assim, a pesquisa proposta é relevante não apenas por objetivar o movimento sofista, mas porque, assim fazendo, é capaz de provocar reflexões acerca de muitos dos problemas filosóficos e pedagógicos fundamentais de nosso tempo. Apesar de distanciados no tempo, os sofistas lidavam com problemas práticos e teóricos que não são distintos dos da atualidade. A discussão sobre a quantificação do saber e o valor de transmissão do conhecimento é atualíssima.