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ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS TRANSNACIONAIS SUL-AMERICANAS: CONCEPÇÃO, HISTÓRICO E VIOLÊNCIA ORGANIZADA
2022/1 até 2025/2
ESCOLA DE DIREITO, NEGÓCIOS E COMUNICAÇÃO
GRUPO DE ESTUDO E PESQUISA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Segurança Internacional
GIOVANNI HIDEKI CHINAGLIA OKADO
O objetivo geral deste projeto é analisar as organizações criminosas transnacionais (OCTs) sul-americanas em uma perspectiva teórico-conceitual e histórico-evolutiva, com particular interesse nas relações entre essas organizações e a violência organizada na América do Sul. Já os objetivos específicos são listados a seguir:
A atuação das OCTs na América do Sul implica em riscos e ameaças à segurança nos níveis individual, estatal e regional. Individualmente, as populações que vivem em territórios dominados por essas organizações são constantemente sujeitas à coerção, física ou psicológica, e têm que conviver com ela no dia a dia. Para exemplificar, diversos estudos publicados sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC) (Dias, 2013; Manso e Dias, 2018; Feltran, 2018) demonstram como o grupo criminoso passou a exercer o controle social e o monopólio da violência, primeiro, nos presídios paulistas e, depois, em concorrência com o governo do estado de São Paulo. Dias (2013, p. 443) é categórica ao afirmar que “o PCC, é, evidentemente, um elemento essencial na manutenção desse poder [emprego da força física] que detém a prerrogativa de decidir sobre a vida e a morte dos indivíduos que se encontram sob os seus domínios.”
No nível estatal, as relações entre o crime organizado transnacional e a falência (ou fracasso) do estado (Sung, 2004; Miraglia et al., 2012), assim como o modelo de governança híbrida estabelecido entre governos nacionais e/ou subnacionais e OCTs (Villa et al., 2021; López-Vallejo e Fuerte-Celis, 2021), são frequentemente investigadas pela literatura científica. Recorda-se, conforme a analogia proposta por Cepik e Borba (2011, p. 386), que o crime organizado se comporta de maneira parasitária em relação ao estado, pois “não atua no sentido de dominar ou destruir a estrutura social, mas sim de aproveitar-se dela. A existência do parasita está condicionada à sobrevivência do hospedeiro.” Dessa forma, a fragilidade do estado, enquanto hospedeiro, proporciona condições para a governança híbrida: as OCTs também atuam na distribuição de bens públicos. Exemplos dessa atuação são os casos do PCC no Brasil e das Bandas Criminais (BACRIM) na Colômbia, que provêm segurança privada à sociedade (Villa et al., 2021), e do Los Zetas e do cartel do Golfo no México, que garantem investimentos em projetos energéticos, particularmente em matéria de combustíveis fósseis (López-Vallejo e Fuerte-Celis, 2021).
No nível regional, o efeito de transbordamento do crime organizado transnacional entre países vizinhos é uma recorrente ameaça à paz na América do Sul (Ferreira, 2019; Gehre, 2021). Há diversos episódios que geraram tensões nas relações interestatais, às vezes colocando os países da região à beira de um conflito. A título de ilustração, em 2008, o governo colombiano realizou um ataque aéreo em território equatoriano que levou à morte de Raul Reyes, um dos principais líderes das FARC. Esse ataque violou a soberania equatoriana e provocou uma crise diplomática entre Colômbia, Equador e Venezuela. Estes romperam as relações diplomáticas com o primeiro, e o então presidente venezuelano Hugo Chávez, à época acusado de apoiar o grupo guerrilheiro, também destacou tropas militares para a fronteira com a Colômbia sob a alegação de que poderia sofrer uma invasão (Mayorca, 2010). Outro episódio foi a disputa entre o PCC e o traficante Jorge Rafaat Toumani – conhecido como o “Rei da Fronteira” – pelo controle do tráfico de drogas e de armas na região da Tríplice Fronteira em 2016. Essa disputa desencadeou uma onda de assassinatos na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, entre eles, do próprio Rafaat, que sofreu uma emboscada em Pedro Juan Caballero e foi morto por 70 integrantes do PCC – estes portando, inclusive, armas de guerra (Konig, 2016).
Não obstante a produção científica tenha avançado em análises sobre o crime organizado transnacional, as OCTs e a violência organizada, tanto em aspecto teórico-conceituais quanto empíricos, inclusive na América do Sul, ainda não há uma nomenclatura conceitual consolidada nem um banco regional de dados para estudar essas organizações. Além disso, a maior parte dos estudos parece focar mais em determinados países da região, como Brasil e Colômbia, enquanto outros, como Argentina, Uruguai e Chile, ainda demandam maiores esforços de pesquisa. Até o momento, não existe um levantamento sistemático ou um mapeamento das OCTs sul-americanas baseado em critérios qualitativos, que permita compreender e avaliar, não apenas suas origens e evolução, senão também as interações entre elas, estado e sociedade, particularmente aquelas relacionadas com o emprego da violência organizada. Assim, é preciso superar algumas imprecisões e lacunas no estudo das OCTs atuantes na América do Sul e produzir novos conhecimentos sobre elas, razões que justificam o projeto ora proposto.
Nome | Função no projeto | Função no Grupo | Tipo de Vínculo | Titulação Nível de Curso |
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GIOVANNI HIDEKI CHINAGLIA OKADO
Email: giovanni.okado@gmail.com |
Coordenador | Pesquisador | [professor] | [mestre] |