Detalhes do Projeto de Pesquisa

ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS TRANSNACIONAIS SUL-AMERICANAS: CONCEPÇÃO, HISTÓRICO E VIOLÊNCIA ORGANIZADA

Dados do Projeto

731

ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS TRANSNACIONAIS SUL-AMERICANAS: CONCEPÇÃO, HISTÓRICO E VIOLÊNCIA ORGANIZADA

2022/1 até 2025/2

ESCOLA DE DIREITO, NEGÓCIOS E COMUNICAÇÃO

GRUPO DE ESTUDO E PESQUISA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Segurança Internacional

GIOVANNI HIDEKI CHINAGLIA OKADO

Resumo do Projeto

As organizações criminosas transnacionais (OCTs) representam um dos principais desafios globais da atualidade, em particular da América do Sul. Se, por um lado, a região registra baixos índices de violência interestatal desde a Segunda Guerra Mundial, por outro, há elevados índices de violência intraestatal e transnacional, diretamente relacionada com a atuação das OCTs. A literatura científica tem priorizado estudos de caso, individuais ou comparados, dessas organizações e de países sul-americanos onde elas estão presentes, mas ainda prevalecem divergências conceituais e inexiste um levantamento sistemático delas, consolidado, por exemplo, em um banco regional de dados. Dessa forma, o objetivo deste projeto de pesquisa é analisar as OCTs sul-americanas em uma perspectiva teórico-conceitual e histórico-evolutiva, com particular interesse nas relações entre essas organizações e a violência organizada na região. Há três conjuntos de questões que orientam esta pesquisa: 1) quais são as OCTs em cada país sul-americano, como elas surgiram e evoluíram?; 2) de que forma essas organizações atuam e como recorrem à violência organizada?; e 3) como ocorre a transnacionalização da atividades delas e da violência organizada? Para lidar com o objetivo e as questões propostas, emprega-se o método qualitativo, com ênfase na revisão bibliográfica, no levantamento estatístico e no estudo de caso. Ao final do projeto, espera-se contribuir com a criação de um banco de dados das OCTs atuantes na América do Sul e, complementarmente, gerar subsídios para a formulação de políticas públicas de enfrentamento da criminalidade transnacionalizada na região.

Objetivos

O objetivo geral deste projeto é analisar as organizações criminosas transnacionais (OCTs) sul-americanas em uma perspectiva teórico-conceitual e histórico-evolutiva, com particular interesse nas relações entre essas organizações e a violência organizada na América do Sul. Já os objetivos específicos são listados a seguir:

  • Revisar a bibliografia teórico-conceitual, desde o âmbito local (por exemplo, autores de países sul-americanos) até o global (por exemplo, autores extra-regionais, organizações internacionais etc.), sobre as OCTs para elaborar uma classificação original que seja aplicável à América do Sul.
  • Revisar a bibliografia teórico-conceitual e os bancos de dados existentes sobre a violência organizada, com o propósito de identificar suas potencialidades e limitações ao estudo das OCTs sul-americanas. 
  • Desenvolver uma classificação original, com critérios qualitativos, para identificar as OCTs sul-americanas, a atuação delas e suas conexões com a violência organizada nos âmbitos doméstico e regional. 
  • Selecionar países sul-americanos para a realização de estudos de caso das OCTs atuantes neles, levantar a produção científica desses países sobre essas organizações e consultar fontes hemerográficas locais para a coleta de dados. 
  • Promover, entre as instituições parceiras, a produção científica coordenada e integrada em temas relacionados com as OCTs sul-americanas e a violência organizada, assim como realizar eventos científicos, como encontros, seminários, workshops etc. 
  • Fortalecer, institucionalmente, a PUC Goiás e inserir essa universidade na comunidade epistêmica brasileira que lida com a área de segurança internacional.

Justificativa

A atuação das OCTs na América do Sul implica em riscos e ameaças à segurança nos níveis individual, estatal e regional. Individualmente, as populações que vivem em territórios dominados por essas organizações são constantemente sujeitas à coerção, física ou psicológica, e têm que conviver com ela no dia a dia. Para exemplificar, diversos estudos publicados sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC) (Dias, 2013; Manso e Dias, 2018; Feltran, 2018) demonstram como o grupo criminoso passou a exercer o controle social e o monopólio da violência, primeiro, nos presídios paulistas e, depois, em concorrência com o governo do estado de São Paulo. Dias (2013, p. 443) é categórica ao afirmar que “o PCC, é, evidentemente, um elemento essencial na manutenção desse poder [emprego da força física] que detém a prerrogativa de decidir sobre a vida e a morte dos indivíduos que se encontram sob os seus domínios.” 

No nível estatal, as relações entre o crime organizado transnacional e a falência (ou fracasso) do estado (Sung, 2004; Miraglia et al., 2012), assim como o modelo de governança híbrida estabelecido entre governos nacionais e/ou subnacionais e OCTs (Villa et al., 2021; López-Vallejo e Fuerte-Celis, 2021), são frequentemente investigadas pela literatura científica. Recorda-se, conforme a analogia proposta por Cepik e Borba (2011, p. 386), que o crime organizado se comporta de maneira parasitária em relação ao estado, pois “não atua no sentido de dominar ou destruir a estrutura social, mas sim de aproveitar-se dela. A existência do parasita está condicionada à sobrevivência do hospedeiro.” Dessa forma, a fragilidade do estado, enquanto hospedeiro, proporciona condições para a governança híbrida: as OCTs também atuam na distribuição de bens públicos. Exemplos dessa atuação são os casos do PCC no Brasil e das Bandas Criminais (BACRIM) na Colômbia, que provêm segurança privada à sociedade (Villa et al., 2021), e do Los Zetas e do cartel do Golfo no México, que garantem investimentos em projetos energéticos, particularmente em matéria de combustíveis fósseis (López-Vallejo e Fuerte-Celis, 2021). 

No nível regional, o efeito de transbordamento do crime organizado transnacional entre países vizinhos é uma recorrente ameaça à paz na América do Sul (Ferreira, 2019; Gehre, 2021). Há diversos episódios que geraram tensões nas relações interestatais, às vezes colocando os países da região à beira de um conflito. A título de ilustração, em 2008, o governo colombiano realizou um ataque aéreo em território equatoriano que levou à morte de Raul Reyes, um dos principais líderes das FARC. Esse ataque violou a soberania equatoriana e provocou uma crise diplomática entre Colômbia, Equador e Venezuela. Estes romperam as relações diplomáticas com o primeiro, e o então presidente venezuelano Hugo Chávez, à época acusado de apoiar o grupo guerrilheiro, também destacou tropas militares para a fronteira com a Colômbia sob a alegação de que poderia sofrer uma invasão (Mayorca, 2010). Outro episódio foi a disputa entre o PCC e o traficante Jorge Rafaat Toumani – conhecido como o “Rei da Fronteira” – pelo controle do tráfico de drogas e de armas na região da Tríplice Fronteira em 2016. Essa disputa desencadeou uma onda de assassinatos na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, entre eles, do próprio Rafaat, que sofreu uma emboscada em Pedro Juan Caballero e foi morto por 70 integrantes do PCC – estes portando, inclusive, armas de guerra (Konig, 2016).

Não obstante a produção científica tenha avançado em análises sobre o crime organizado transnacional, as OCTs e a violência organizada, tanto em aspecto teórico-conceituais quanto empíricos, inclusive na América do Sul, ainda não há uma nomenclatura conceitual consolidada nem um banco regional de dados para estudar essas organizações. Além disso, a maior parte dos estudos parece focar mais em determinados países da região, como Brasil e Colômbia, enquanto outros, como Argentina, Uruguai e Chile, ainda demandam maiores esforços de pesquisa. Até o momento, não existe um levantamento sistemático ou um mapeamento das OCTs sul-americanas baseado em critérios qualitativos, que permita compreender e avaliar, não apenas suas origens e evolução, senão também as interações entre elas, estado e sociedade, particularmente aquelas relacionadas com o emprego da violência organizada. Assim, é preciso superar algumas imprecisões e lacunas no estudo das OCTs atuantes na América do Sul e produzir novos conhecimentos sobre elas, razões que justificam o projeto ora proposto.

Equipe do Projeto

Nome Função no projeto Função no Grupo Tipo de Vínculo Titulação
Nível de Curso
GIOVANNI HIDEKI CHINAGLIA OKADO
Email: giovanni.okado@gmail.com
Coordenador Pesquisador [professor] [mestre]