Detalhes do Projeto de Pesquisa

ATUAÇÃO DO CANABIDIOL NO GANHO DE PESO, MARCADORES GLICÊMICOS, HEPÁTICOS E RENAIS EM RATOS WISTAR, MANTIDOS COM DIETA HIPERLIPÍDICA

Dados do Projeto

710

ATUAÇÃO DO CANABIDIOL NO GANHO DE PESO, MARCADORES GLICÊMICOS, HEPÁTICOS E RENAIS EM RATOS WISTAR, MANTIDOS COM DIETA HIPERLIPÍDICA

2022/2 até 2024/2

ESCOLA DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA VIDA

GRUPO DE FISIOLOGIA APLICADA

Sociedade, Ambiente e Saúde

GRAZIELA TORRES BLANCH

Resumo do Projeto

A Cannabis (CB) é uma planta que possui propriedades medicinais e psicoativas, além de uma ampla capacidade de se adaptar a novos ambientes. Ela possui 2 espécies principais, Cannabis sativa e Cannabis indica, sendo aquela mais alta e fibrosa e esta mais baixa e mais psicoativa. Quanto a origem geográfica dessa planta, estudos Paleobotânicos apresentam-na retrocedendo à época holocênica, a cerca de 11.700 anos atrás, prevalecendo em regiões da Ásia central. O primeiro uso de CB por humanos data a 10.000 anos atrás, no fim da era do gelo. As primeiras aplicações com um método científico experimental da CB foram iniciadas no século XIX por William Brooke O¿Shaughnessy, que utilizou extratos alcoólicos da Cannabis em pacientes com cólera, reumatismo, tétano e convulsões. Esses pacientes reagiram bem ao tratamento. Graças ao seu estudo e de outros, o interesse medicinal pela CB voltou a crescer e se espalharam os estudos sobre essa planta no mundo. Apesar das proibições e restrições, em 1967 cientistas identificaram pela primeira vez as estruturas químicas das substâncias ativas da CB como o ¿9 ¿tetrahydrocannabinol (¿9 ¿ THC). Isso motivou a segunda onda de estudos sobre a CB, resultando na descoberta do sistema endocanabinoide (SECB) na década de 90. Atualmente, a CB vive uma nova era de redescoberta sobre seu potencial médico, com políticas mais permissivas do seu uso medicinal em vários países, demonstrando eficácia no tratamento de diversas doenças, e a descriminalização/legalização do seu uso recreacional A síndrome metabólica (SM) está relacionada com ganho de peso visceral, aumento da resistência insulínica, diabetes, hipertensão e esteatose hepática. Há também um quadro de inflamação associado a SM, essa resposta está relacionada com ativação imune de macrófagos, que por sua vez convoca mediadores inflamatórios, como a Interleucina-6 (IL-6), fator de necrose tumoral alfa (TNF) e prostaglandina E2. Além disso, os macrófagos também são responsáveis pela síntese de dois importantes agonistas dos receptores canabinóides, a Anandamida e a 2-AG, que estão relacionados com o aumento da lipogênese, resistência insulínica, esteatose hepática e aumento da ingestão de alimentos através dos receptores CB1. O uso de canabinoides, como o ¿9 ¿ THC, está relacionado com a redução de atividades inflamatórias exacerbadas. Ademais, alguns estudos abordam o uso do CBD em modelos animais de obesidade, apresentando resultados positivos quanto ao controle de peso, perfil lipídico e glicêmico. Dessa forma torna-se de especial relevância o estudo da suplementação do CBD em modelos de obesidade

Objetivos

 OBJETIVO GERAL

Demonstrar o impacto da suplementação alimentar com o CBD em modelos de obesidade.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

-Pesquisar os efeitos metabólicos do CBD em ratos obesos e não obesos.

-Analisar os níveis glicêmicos de ratos obesos e não obesos submetidos à suplementação com CBD.

-Analisar possível benefício na hipertrofia cardíaca de ratos obesos e não obesos submetidos à suplementação com CBD.

- Analisar o perfil lipídico, renal e hepático de ratos obesos e não obesos submetidos à suplementação com CBD.

Justificativa

A distribuição de sítios do SECB possibilita a compreensão de possíveis ações relacionadas, como o controle a ingestão de alimentos e da saciedade; regulação da secreção de hormônios do SNC e dependentes de hormônios hipotalâmicos/hipofisários; modulação do sistema imunológico e seu papel inflamatório; lipogênese e resistência insulínica. (GODOY-MATOS et al., 2006). Ademais, essa distribuição de sítios, principalmente de receptores CB1 em órgãos periféricos como a tireoide, trato gastrointestinal e glândula adrenal, podem controlar o comportamento alimentar e auxiliar no ganho de peso corporal (KANO et al., 2009).

Concomitantemente, o apetite e os comportamentos alimentares também possuem outras vias relacionadas ao SECB, principalmente relacionadas aos receptores CB1 no SNC. Pode haver modulação através desse sistema a nível mesolímbico e hipotalâmico. Sendo nesse primeiro pela modulação da motivação de ingestão alimentar e no segundo através de mediadores orexigênicos e anorexigênicos. Além disso, foi demonstrado também que o THC age induzindo o a ingestão alimentar, enquanto a Anandamida age, de forma dependente de receptores CB1, induzindo a hiperfagia quando administrada no hipotálamo (KANO et al., 2009). O THC já foi aprovado como um estimulante de apetite no tratamento de síndrome consumptiva induzida pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) ou pacientes com Alzheimer, e também como medicação anti-emética e anti-náusea em pacientes tratados com quimioterápicos (KANO et al., 2009)

Por outro lado, há vias relacionadas aos SECB que auxiliam no controle do apetite. Alguns estudos em modelos animais relacionados à SM, já demonstraram que o uso de antagonistas de receptores CB1 (Rimonabanto) agem na diminuição na procura por alimentos doces; perda de peso; redução do estado inflamatório resultante da obesidade; resistência ao desenvolvimento de esteatose hepática e diminuição da resistência periférica à ação da insulina (GODOY-MATOS et al., 2006)O Rimonabanto chegou a ser comercializado como um medicamento para tratar a obesidade, tendo apresentados resultados quanto a perda de peso e diminuição da lipogênese, porém ele foi retirado de circulação quando uma série de estudos começaram a demonstrar efeitos colaterais relacionados a depressão, ideação suicida e ao suicídio. Vemos então que ao falarmos da ativação desses receptores não podemos ter uma visão simplista, pois a modulação mediada por eles é ampla e pode inclusive se relacionar com humor e bem-estar (BLOOMFIELD et al., 2019; GODOY-MATOS et al., 2006; GRUDEN et al., 2016; HILL; PATEL, 2013; ROMERO-ZERBO et al., 2020; ZOU; KUMAR, 2018).

A obesidade é caracterizada pelo índice de massa corporal acima de 30 kg/m² sendo um problema de saúde pública no Brasil, que apresentou números aumentados em 67,8% entre os anos de 2006 e 2018, apresentando uma prevalência atual de 18,9% entre a população brasileira (“Pesquisa Vigitel Brasil 2018”, 2018). Ademais, pode estar associada à predisposição de diversas doenças como hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes, angina, acidente vascular cerebral, dislipidemias, esteatose hepática, alterações ósseas secundárias à obesidade, doença arterial coronariana, infarto de miocárdio, aterosclerose, insuficiência cardíaca congestiva, fibrilação atrial, cardiomiopatia dilatada, cor pulmonale e síndrome de hipoventilação, apneia do sono e depressão (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA - CFM, 2015; FERREIRA; SZWARCWALD; DAMACENA, 2019).

A síndrome metabólica (SM) está relacionada com ganho de peso visceral, aumento da resistência insulínica, diabetes, hipertensão e esteatose hepática. Há também um quadro de inflamação associado a SM, essa resposta está relacionada com ativação imune de macrófagos, que por sua vez convoca mediadores inflamatórios, como a Interleucina-6 (IL-6), fator de necrose tumoral alfa (TNF) e prostaglandina E2. Além disso, os macrófagos também são responsáveis pela síntese de dois importantes agonistas dos receptores canabinóides, a Anandamida e a 2-AG, que estão relacionados com o aumento da lipogênese, resistência insulínica, esteatose hepática e aumento da ingestão de alimentos através dos receptores CB1. O uso de canabinoides, como o Δ9 ¿ THC, está relacionado com a redução de atividades inflamatórias exacerbadas, causando uma inibição da atividade dos macrófagos.(GODOY-MATOS et al., 2006; MCALLISTER; GLASS, 2002)

Os receptores CB2 são expressos em órgãos do sistema imune e no cérebro, sendo em menores quantidades neste último. Acredita-se que esses receptores desempenham um papel de proteção, para limitar e evitar comprometimento tecidual, através de sinalização lipídica. Logo, o desequilíbrio e a disfunção de receptores CB2 podem apresentar um importante papel no desenvolvimento de doenças. O aumento de níveis de canabinoides e a estimulação do CB2 em humanos está relacionada, de forma positiva ou negativa, ao desenvolvimento de obesidade, doença hepática gordurosa não alcoólica, isquemia hepática-lesão por reperfusão, fibrose e cirrose hepática, diverticulite, colite, doença inflamatória intestinal, pancreatite e câncer (PACHER; MECHOULAM, 2011).

Na doença hepática a ativação dos receptores CB2 em diferentes células hepáticas causam a mediação do apoptose celular, efeitos anti-fibróticos, atenuam a inflamação e a geração de espécies de oxigênio e nitrogênio reativos. Essa ativação pode causar uma atenuação da inflamação e do ganho de peso relacionados à obesidade e idade. Além desses efeitos, os receptores CB2 quando estimulados também causam uma atenuação da inflamação e da sensitividade visceral em doenças inflamatórias gastrointestinais. Por fim, no câncer os receptores CB2 apresentam dubiedade de ação, pois podem causar tanto a atenuação dos fatores de crescimento tumoral, quanto a promoção desses fatores (PACHER; MECHOULAM, 2011)

No Brasil, o CBD já pode ser prescrito, ainda que de maneira muito controlada e de com alto custo. Essa prescrição acontece normalmente para o tratamento de doenças neuropsiquiátricas, como o transtorno de ansiedade social, psicose e distúrbios do sono (CRIPPA; ZUARDI; HALLAK, 2010). Em alguns estados dos EUA, como California, Colorado, Nevada, Oregon e Washington , compostos derivados da Cannabis já são utilizados para acelerar a recuperação muscular de atletas e aumentar a performance (YORKWILLIAMS et al., 2019). Além disso, o CBD é um dos compostos do extrato da Cannabis sativa, responsável por cerca de 40% de sua composição, além de ser um composto não psicoativo, ao contrário do THC, e já é um composto legalizado no Brasil para o uso terapêutico. Diante disso, e tendo em vista os possíveis efeitos metabólicos, o uso de canabinoides pode auxiliar na redução dos efeitos adversos oriundos da SM, caracterizando-se como um possível suplemento alimentar com baixa adversidade a ser utilizado como adjuvante no tratamento dessa síndrome (PACHER; MECHOULAM, 2011)

Ademais, alguns estudos abordam o uso do CBD em modelos animais de obesidade, apresentando resultados positivos quanto ao controle de peso, perfil lipídico e glicêmico. (PACHER; MECHOULAM, 2011). Dessa forma torna-se de especial relevância o estudo da suplementação do CBD em modelos de obesidade.

Equipe do Projeto

Nome Função no projeto Função no Grupo Tipo de Vínculo Titulação
Nível de Curso
CLAYSON MOURA GOMES
Email: claysonmoura@yahoo.com.br
Pesquisador Pesquisador [professor] [doutor]
GRAZIELA TORRES BLANCH
Email: grazielatb@gmail.com
Coordenador Líder [professor] [doutor]
MONATHA NAYARA GUIMARAES TEOFILO
Email: monathateofilo@gmail.com
Pesquisador Pesquisador Externo [externo] [mestre]