Detalhes do Projeto de Pesquisa

A IGREJA CATÓLICA E O GOLPE CIVIL-MILITAR EM GOIÁS (1961-1968)

Dados do Projeto

697

A IGREJA CATÓLICA E O GOLPE CIVIL-MILITAR EM GOIÁS (1961-1968)

2022/1 até 2023/1

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES

CULTURA, PODER E REPRESENTAÇÕES

Poder e representações

EDUARDO GUSMÃO DE QUADROS

Resumo do Projeto

Um período conturbado de nossa história, sobre o qual ainda existe uma disputa intensa de interpretações, é o da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985). O estado de Goiás teve uma temporalidade relativamente diferente nesse processo político e social, pois o governador Mauro Borges (1961-1964) era militar de alta patente, apoiou os setores contra o presidente João Goulart e o golpe só se concretizou nas terras goianas no mês de novembro de 1964. Nesse ínterim, temos a atuação do arcebispo Dom Fernando Gomes de Oliveira (1957-1985), muito ligado aos valores dos governos interrompidos, federal e estadual, promotor da renovação conciliar por meio da vertente que podemos denominar catolicismo social. Investiga-se nesse projeto de pesquisa os entrecruzamentos entre a esfera religiosa, a política e as demandas da sociedade durante a execução e a consolidação do regime ditatorial. Buscamos relacionar as decisões dos documentos advindos do Vaticano, em nível global, com as transformações vividas localmente, o que resultou tanto em embates com os órgãos de repressão quanto em estratégias para viver o que se concebia como fidelidade evangélica.

Objetivos

  1. GERAL: Analisar historicamente as transformações ocorridas na igreja católica durante a ditadura civil-militar em Goiás, a partir de seus meios oficiais de atuação e das posições assumidas pelo arcebispo Dom Fernando Gomes dos Santos, líder e principal voz eclesiástica. 

    1. ESPECÍFICOS:
      b1) Estudar as relações do catolicismo com o governo de Mauro Borges e suas consequências, especialmente após a cassação política desse governador;

      b2) Identificar os grupos sociais e religiosos que apoiaram o golpe e sustentaram as práticas de repressão instaladas;

      b3) Considerar o papel da religiosidade, seja no apoio à ditadura militar seja na resistência e denúncia do terrorismo de Estado;

      b4) Compreender historicamente o discurso eclesiástico bem como as formas de apropriação realizadas pelos movimentos sociais;

      b5) Demonstrar como os órgãos de repressão influenciaram os posicionamentos assumidos pelo clero, em especial na defesa dos Direitos Humanos;

      b6) Descrever as mudanças pastorais e teológicas ocorridas no período, destacando-se a incorporação das questões sociais e políticas em sua esfera de atuação por meio do conceito de justiça.

Justificativa

A relação entre religião e política, suas interfaces e tensões, é tradicional na historiografia. Existe o princípio jurídico da laicidade estatal, contudo ao refletir acerca da construção da soberania na modernidade, o pensador germânico Carl Schmitt sugeriu que “todos os conceitos significativos da teoria do estado moderno são conceitos teológicos secularizados” (2009, p. 37). O autor percebeu que havia uma relação de dependência entre o campo religioso e o campo político, mesmo no estado liberal e democrático. Por isso, ele propôs a existência da Politsche Theologie - traduzido geralmente como teologia política, mas que preferimos teológico-político, para ressaltar sua unidade e tensão - na manutenção da soberania estatal.

A secularização ocorreu quando diversos conceitos e valores perderam, na história ocidental, a referência transcendente que os sustentava. Mas o Estado e o direito não ganharam a autonomia positiva que se imaginava. Permaneceu uma importante área de mescla, como se fosse uma concordata invisível, entre o nível teológico e a vida política (SCHMITT, 2009, p.120).

Mesmo mantendo o vocábulo de origem grega para divindade (theos), estamos mais interessados no movimento das crenças que circulam entre o religioso e o político. Pois compreendemos o crer como um investimento dinâmico, não exatamente como um sinônimo de fé (este, sim, um conceito teológico). O investimento a que nos referimos parte da vertente psicanalítica, assemelhando-se a uma pulsão voltada para certo objeto/ideia transcendental concretizada em uma representação afetiva. Como todo investimento, o crer é dinâmico não somente porque se move e muda, mas porque envolve um poder especial considerado superior ou divino.

Inspirados em Michel de Certeau, ressaltamos que a ação de crer não está limitada à esfera religiosa, perpassando quaisquer vínculos sociais. A crença é mais “uma ‘modalidade’ de afirmação e não o seu conteúdo” (1996, p.278). Compreende-se que o campo religioso disputa intensamente a capacidade de crença das pessoas, enfrentando ou interagindo com a economia, a política, a mídia e, até, a diversão. Mas ele possui também sua especificidade no modo em que considera o mal, a dor, a luta contra a morte.

Portanto, respeitando a autonomia relativa e a lógica interna de cada esfera social, buscamos compreender seus intercâmbios. O ato de crer gera fidelizações e identidades tanto no campo religioso quanto no político. Tais identidades são dinâmicas, cambiando com as situações específicas. Essas variações da economia teo-política fizeram o povo emergir como significante central e em disputa semântica entre o Estado e a Igreja (QUADROS, 2014). Outra categoria importante, que congrega as experiências deste período, é a de justiça. Seguindo a metodologia da historia dos conceitos (KOSELLECK, 2006) buscaremos mapear esse trânsito na análise das fontes documentais.

Equipe do Projeto

Nome Função no projeto Função no Grupo Tipo de Vínculo Titulação
Nível de Curso
EDUARDO GUSMÃO DE QUADROS
Email: eduardo.hgs@hotmail.com
Coordenador Líder [professor] [doutor]