A pandemia de COVID-19 ocasionada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) atinge atualmente mais de 188 países com consideráveis morbidade e mortalidade. A lesão miocárdica é uma complicação reconhecida da infecção, podendo ser explicada pela interação do vírus com os receptores da enzima conversora da angiotensina 2 (ECA2) nos cardiomiócitos e microvasculatura ou por resposta secundária à tempestade de citocinas. A miocardite apresenta-se como uma grave implicação da doença, e sua possível ocorrência em atletas gera preocupação uma vez que exercícios de alta intensidade, quando praticados na vigência desta complicação, podem desencadear arritmias malignas durante ou após o esforço, podendo evoluir para morte súbita (MS). A Avaliação Pré-Participação (APP) para atividades físico-esportivas torna-se fundamental no contexto da pandemia e do retorno à prática de esportes por atletas acometidos pela COVID-19, com o objetivo de descartar condições cardiovasculares silenciosas, que podem se manifestar conforme estímulo adrenérgico e hemodinâmico do exercício, como a miocardite. A sistematização desta avaliação se faz necessária, conforme proposto por especialistas e instituições que lidam com a temática, para a segurança do atleta. A Ressonância Magnética Cardíaca (RMC) desempenha papel importante na suspeita de miocardite, através de análise funcional e estrutural. A avaliação de realce tardio (RT) e imagem ponderada em T1 e T2 por este método possui alta sensibilidade, especificidade e acurácia para detecção de inflamação miocárdica. Dito isto, o objetivo deste trabalho é avaliar a ocorrência de sinais, sintomas e alterações em exames complementares que levem à hipótese diagnóstica de miocardite em jovens atletas futebolistas previamente infectados pelo SARS-CoV-2, pertencentes às categorias de base de clubes do futebol goiano. A avaliação será composta pela aplicação de um questionário específico para APP (PAR-Q), associado a outro específico para aquisição de dados referentes ao diagnóstico, sintomatologia e exames complementares relacionados a COVID-19, além de exame físico, eletrocardiográfico de 12 derivações e de imagem complementar por RMC naqueles com suspeita clínica de miocardite ou com histórico de sintomas moderados ou grave enquanto acometidos pelo novo coronavírus. Palavras-chave: Miocardite; COVID-19; SARS-CoV-2; Ressonância Magnética Cardíaca; Retorno ao Esporte.

Objetivo geral
Avaliar a ocorrência de sinais, sintomas e alterações em exames complementares sugestivos de miocardite, em jovens futebolistas das categorias de base do futebol goiano, comprovadamente infectados pelo SARS-CoV-2.
Objetivos específicos
- Realizar nova avaliação pré-participação, aplicando questionário específico (PAR-Q), associado a novo eletrocardiograma de repouso, nos atletas comprovadamente infectados pelo SARS-Cov-2;
- Submeter estes atletas a teste de esforço, em busca de alterações desencadeadas pelo estresse hemodinâmico, sugestivas de acometimento cardiovascular;
- Avaliar a incidência de disfunção ventricular, dilatação de câmaras, realce tardio e alterações em análise de T1 e T2 por Ressonância Magnética Cardíaca, nos atletas com >1 achado anormal em sua avaliação, ou com histórico de sintomas moderados ou grave durante a infecção pelo novo coronavírus.

A miocardite é responsável por 7 a 20% dos casos de MSC em atletas jovens, sendo uma das principais causas no Brasil. Geralmente, é resultante de uma infecção viral, podendo apresentar clínica variada, incluindo quadros assintomáticos. Com a emergência da pandemia de COVID-19 e consequente exposição de atletas, questiona-se sobre a ocorrência de miocardite nessa população e a segurança do retorno dos esportes sem devido conhecimento acerca de sua real incidência e efeitos a médio e longo prazo, uma vez que estudos vem demonstrando consideráveis taxas de acometimento cardíaco associado. (17) Um estudo Inglês demonstrou que entre 28 pacientes com teste molecular (RT-PCR) reagente para o SARS-CoV-2, 45% apresentaram sinais de miocardite em RMC pela técnica do realce tardio (RT). (20) Torna-se relevante considerar potenciais danos miocárdicos ocasionados pela COVID-19 em atletas, uma vez que a exposição a exercícios de alta intensidade durante as fases subaguda e crônica da miocardite pode predispor o indivíduo a arritmias. (11)
O objetivo da APP para atividades físico-esportivas reside na prevenção, detecção e tratamento de doenças cardiovasculares, que em última estância podem desencadear MSC. (15) No contexto da COVID-19 e retorno à prática esportiva, é importante que os atletas acometidos pelo doença sejam submetidos a nova avaliação cardíaca, comparativa à realizada previamente à pandemia, e em caso de suspeita de miocardite, realizada investigação complementar com RMC, seguindo a recomendação de que indivíduos diagnosticados com miocardite devam ser afastados de atividades físicas por 3 a 6 meses. (17,21) Importante destacar sua alta sensibilidade (81%), especificidade (71%) e acurácia (79%) para detecção de inflamação miocárdica. (11)
A avaliação clínica por meio de exame físico detalhado, eletrocardiografia e teste de esforço é recomendada para a pesquisa de alterações sugestivas de acometimento cardíaco mesmo em casos assintomáticos. (17) Diante da suspeita de miocardite e de sintomatologia moderada a grave da COVID-19, o uso de métodos de imagem demonstra importância pois a avaliação constituída apenas por exame clínico e eletrocardiograma de repouso pode ser insuficiente. Uma pesquisa conduzida nos Estados Unidos com 670 pacientes constatou que a presença de RT com gadolínio sugestiva de miocardite não foi necessariamente associada a alterações eletrocardiográficas. (22)
Deste modo, o presente estudo justifica-se pela necessidade da geração de dados, e análise destes, relacionados a jovens atletas da principal categoria esportiva do país, acometidos pelo novo coronavírus, capaz de acometer o tecido cardíaco e causar, além de sequelas debilitantes, a temida Morte Súbita Cardíaca. Através de sistemática avaliação cardíaca, baseada em protocolo proposto por especialistas, o estudo contribuirá para a saúde e segurança de jovens brasileiros.