Detalhes do Projeto de Pesquisa

THEODOR ADORNO: A DIALÉTICA NEGATIVA, A EDUCAÇÃO E A EXPERIÊNCIA FORMATIVA PARA A HUMANIZAÇÃO: PERSPECTIVAS ATUAIS

Dados do Projeto

614

THEODOR ADORNO: A DIALÉTICA NEGATIVA, A EDUCAÇÃO E A EXPERIÊNCIA FORMATIVA PARA A HUMANIZAÇÃO: PERSPECTIVAS ATUAIS

2020/2 até 2024/2

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES

ESTUDOS CRÍTICOS E EDUCAÇÃO: ASPECTOS ÉTICOS, ESTÉTICOS E SOCIOCULTURAIS - PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS

Educação, Sociedade e Cultura

ESTELAMARIS BRANT SCAREL

Resumo do Projeto

O presente projeto visa refletir, por meio da obra Dialética negativa (2009), sobre os paradoxos nos quais a sociedade burguesa ocidental foi recaindo em virtude de centrar-se cada vez mais na racionalidade objetiva em detrimento da subjetividade, consequentemente, debilitando-a. Dessa forma, a partir de alguns modelos de dialética como, por exemplo, o de Hegel (2011), o de Marx (1996), o de Marx e Engels (1999), o de Kant (1996; 2005) e o de Freud (2010; 2011), demostrar o quanto a ideologia do progresso engendrada pela burguesia minou as condições de possibilidades de realização do sujeito. Assim, a consequência da falsa unidade criada pela sociedade moderna burguesa redundou na cisão entre sujeito e objeto, universal e particular, teoria e práxis.

Objetivos

  • Elaborar análises e debates críticos à luz da Dialética Negativa, consoante Adorno (2009), visando à apreensão tanto das contradições presentes no contexto contemporâneo quanto ao entendimento da educação como experiência formativa com vistas ao alcance da humanização dos sujeitos.

Justificativa

        Na obra “Educação e Emancipação” (1995b), Adorno torna evidente a necessidade de os sujeitos primarem por uma formação cultural (Bildung) ampla, que lhes propiasse resistir não somente aos processos (de)formativos, tais como os “valores” veiculados pelos meios de comunicação em geral e pela ideologia do progresso econômico, que inculcam nos sujeitos “[...] uma falsa consciência e um ocultamento da realidade”, mas, acima de tudo, que lhes devolvesse a capacidade de “[...] pensar problematicamente conceitos como estes são assumidos meramente e sua positividade, possibilitando adquirir um juízo independente e autônomo a seu respeito” (ADORNO, 1995b, p. 80).

Infere-se que essa concepção de formação apontada por este frankfurtiano[1], isto é, que se refere à capacidade de os sujeitos “pensarem problematicamente conceitos” e, por conseguinte, a realidade de um modo geral, só poderia ser recobrada por intermédio de uma experiência formativa voltada para o exercício do pensamento que se reconhece não como um “Ser” mas como um “vir-a-ser”, kantianamente expressando, que consiste exatamente na “[...] revolução axial da virada copernicana por meio de uma autorreflexão crítica” (ADORNO, 2009, p. 8).

        Daí a essencialidade do exercício da experiência formativa. Entende-se que é a experiência que impede a cisão entre sujeito e objeto, em virtude de ela, a experiência, impor a “unidade da consciência”, segundo a perspectiva kantiana. 


O ‘eu penso’ tem que ‘poder’ acompanhar todas as minhas representações; pois do contrário, seria representado em mim algo que não poderia de modo algum ser pensado, o que equivale a dizer que a representação seria impossível ou, pelo menos para mim, não seria nada. A representação que pode ser dada antes de todo o pensamento denomina-se ‘intuição’. Portanto, todo o múltiplo da intuição possui uma referência necessária ao ‘eu penso’, no mesmo sujeito em que este múltiplo é encontrado (KANT, 1996, p. 121).


        Por isso a ascendência[2] de Kant sobre o pensamento de Adorno, em especial, nas suas reflexões contidas no texto sobre “Sujeito e Objeto” (1995a), o qual se constitui em um dos pilares da obra “Dialética Negativa” (2009), que, consoante Zanolla (2007), configura-se em um “método” filosófico de “conhecimento preliminar” e de crítica ao sistema, uma vez que esta obra oportuniza não apenas o embate com a “[...] racionalidade regressiva, mas, acima de tudo, mediante a autorreflexão crítica, enseja alcançar a verdade que a ratio tradicional[3] procurou sempre manter sob seu controle” (SCAREL, 2016, p. 13-14).

Essas ponderações, bem como as análises anteriores não só justificam mas, sobretudo, evidenciam a atualidade da “Dialética Negativa” (2009) adorniana para se deter sobre a realidade contemporânea sob o domínio da Indústria Cultural, que não esgota jamais os seus artifícios para prender os consumidores nas suas teias repressoras, bem como para se pensar filosoficamente tanto a concepção de “experiência filosófica” quanto a relevância desta experiência para o entendimento da Educação como experiência formativa em prol da humanização dos sujeitos.


Na experiência filosófica, as chances que o universal concede aos indivíduos de maneira desordenada voltam-se contra o universal que sabota a universalidade de uma tal experiência. Se essa universalidade fosse produzida, a experiência de todos os indivíduos se transformaria com ela e ela abandonaria muito da contingência que até o presente a deformou irremediavelmente, mesmo onde ela ainda se faz sentir (ADORNO, 2009, p. 43).


        Ora, frente à fragilização dos processos educativos no contexto atual, “[...] que encurtam, talham sob medida e estropiam multiplamente as forças produtivas espirituais” (Idem, p. 42), reforçando sobremaneira as idealizações, os reducionismos teóricos e, consequentemente, levando os sujeitos à prática de toda sorte de extremismos, isto é, de barbárie, nada mais pertinente, oportuno e hodierno do que a reflexão sobre o teor desta rigorosa obra de pensamento. “É por meio da autorreflexão que a consciência individual consegue se libertar daí e se ampliar” (ADORNO, 2009, p. 47).




 


[1]  “A chamada Escola de Frankfurt, composta por alguns membros do Institut für Sozioalforschung [Instituto de Pesquisas Sociais], de fato pode ser vista como apresentando de forma quintessencial o dilema do intelectual de esquerda no século XX. Poucos de seus equivalentes foram tão sensíveis ao poder absorvente da cultura dominante e de seus pretensos adversários. Durante toda a existência do Institut, e especialmente no período de 1923 a 1950, o medo da cooptação e da integração inquietou profundamente seus membros. Embora as exigências da história os tenham obrigado ao exílio, como parte da migração intelectual da Europa Central depois de 1933, eles já eram exilados em relação ao mundo exterior desde quando começaram a trabalhar juntos” (JAY, 2008, p. 29). Dentre os principais representantes dessa Escola pode-se citar os nomes de “Herbert Marcuse, Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Walter Benjamin, Leo Löwenthal, Friedrich Pollock, Franz Neumann” (Idem, p. 30)

[2]  Aqui é preciso que se registre que, embora Kant tenha influência sobre os trabalhos de Adorno, este autor, entretanto, não deixou de formular sua crítica aos esquematismos kantianos, como se segue: “[...] o que em Kant chama-se enformação [Formung], é essencialmente deformação” (ADORNO, 1995a, p. 194).

[3]  A Teoria Tradicional, segundo a concepção de Horkheimer (1991, p. 69), fundamenta-se no “Discurso do Método” do filósofo e matemático francês René Descartes (1595-1650). Na sua perspectiva, o método cartesiano “[...] organiza a experiência à base da formulação de questões que surgem em conexão com a reprodução da vida dentro da sociedade atual. Os sistemas das disciplinas contêm os conhecimentos de tal forma que, sob circunstâncias dadas, são aplicáveis ao maior número possível de ocasiões. A gênese social dos problemas, as situações reais, nas quais a ciência é empregada e os fins perseguidos em sua aplicação, são por ela mesma consideradas exteriores. – A teoria crítica da sociedade, ao contrário, tem como objeto os homens como produtores de todas as suas formas históricas de vida. A situações efetivas, nas quais a ciência se baseia, não é para ela uma coisa dada, cujo único problema estaria na mera constatação e previsão segundo as leis da probabilidade. O que é dado não depende apenas da natureza, mas também do poder do homem sobre ela. Os objetos e a espécie de percepção, a formulação de questões e o sentido da resposta dão provas da atividade humana e do grau de seu poder”.

Equipe do Projeto

Nome Função no projeto Função no Grupo Tipo de Vínculo Titulação
Nível de Curso
CESAR PEREIRA MARTINS
Email: cesarpereiramat@gmail.com
Pesquisador Estudante [aluno] [null]
CLEUDES MARIA TAVARES ROSA
Email: cleudestavares@gmail.com
Pesquisador Pesquisador [professor] [mestre]
DANIELLA COUTO LOBO
Email: coutolobo@gmail.com
Pesquisador Pesquisador [professor] [doutor]
ESTELAMARIS BRANT SCAREL
Email: estelamaris.brant@gmail.com
Coordenador Líder [professor] [doutor]
EVELYN ALVES DE BRITO CABRAL
Email: evelynelenalves@gmail.com
Pesquisador Estudante [aluno] [null]
GESSIONE ALVES DA CUNHA
Email: g-dacunha@hotmail.com
Pesquisador Estudante [aluno] [null]
JUSSIMARIA ALMEIDA DOS SANTOS
Email: jussi.ped@hotmail.com
Pesquisador Pesquisador Externo [externo] [mestre]
LEIDIANE PEREIRA DA SILVA
Email: ufgleidiane@gmail.com
Pesquisador Estudante [aluno] [null]
MARCIA CRISTINA FERNANDES PEREIRA BESSA
Email: marciacristinaidb@gmail.com
Pesquisador Estudante [aluno, aluno] [null, null]
MARCO ANTÔNIO OLIVEIRA LIMA
Email: marcobasquetebol@gmail.com
Pesquisador Estudante [aluno, externo] [null, mestre]
NELMA ROBERTO GONCALVES MENDES
Email: nelma_rob@hotmail.com
Pesquisador Estudante [] []