Detalhes do Projeto de Pesquisa

IMAGENS E MEMÓRIAS: OS 50 ANOS DE ADRIAN COWELL NA AMAZÔNIA

Dados do Projeto

581

IMAGENS E MEMÓRIAS: OS 50 ANOS DE ADRIAN COWELL NA AMAZÔNIA

2020/1 até 2025/2

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES

PATRIMÔNIO CULTURAL

Saberes Tradicionais, Memória e Patrimônio Cultural

MARCOS HENRIQUE BARBOSA FERREIRA

Resumo do Projeto

A pesquisa que se apresenta põe em evidência o legado do cineasta inglês Adrian Cowell, produzido ao longo de cinquenta anos de trabalhos realizados na Amazônia Brasileira. Nesse período, Cowell participou de expedições de contato com grupos indígenas isolados a convite dos irmãos Vilas Boas; presenciou conflitos fundiários violentos; tornou-se amigo do grande antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro; além de apresentar pela primeira vez ao mundo quem era Chico Mendes. O acervo com o material filmado ao longo daqueles cinquenta anos encontra-se hoje no IGPA/PUC Goiás. Por meio desta pesquisa conheceremos a fundo esse acervo e as memórias guardadas nele sobre a história de Adrian, do Brasil, da Amazônia Brasileira e seus povos tradicionais. Palavras-chave: Imagens; memória; Amazônia brasileira; povos indígenas do Brasil

Objetivos

2 OBJETIVOS 


2.1. Objetivo Geral 


Viabilizar ações que permitam a produção de conhecimento sobre o acervo fílmico de Adrian Cowell, envolvendo pesquisadores e estudantes em atividades de pesquisa, ensino e extensão.  



2.2. Objetivos Específicos 


Identificar possíveis apoiadores e editais de financiamento a nível nacional e internacional para as atividades deste projeto, 


Viabilizar a aquisição de equipamento para digitalização do acervo de Adrian Cowell;


Concluir o trabalho de identificação do Acervo Fílmico de Adrian Cowell;


Publicar um livro envolvendo pesquisadores que se dedicam ao estudo sobre o legado de Adrian Cowell no Brasil;


Criar um laboratório de tecnologias digitais e áudio visuais especializado em produção audiovisual e digitalização de acervos;


Capacitar pesquisadores e estudantes a desenvolverem produtos e serviços nas áreas de antropologia e arqueologia visuais, produção audiovisual e digitalização de acervos;


Realizar séries de documentários, em parceria com a PUC TV, sobre a história do acervo de Adrian Cowell em suas articulações com a história do Brasil e da Amazônia brasileira;


Realizar oficinas de produção audiovisual, a partir do material digitalizado, com estudantes da PUC Goiás e de outras instituições;


Realizar uma exposição integrada (com imagens e sons), no Memorial do Cerrado, em parceria com a PROEX/PUC e o Museu Antropológico/UFG, como parte da programação da Semana da Cidadania de 2021.


Organizar a primeira edição de uma “mostra goiana de vídeos etnográficos” em parceria com a Escola de Comunicação/PUC Goiás, como parte da programação da Semana dos Povos Indígenas de 2021;

Realizar um seminário sobre acervos etnográficos e audiovisuais;


Viabilizar a continuidade do trabalho de preservação do acervo de Adrian Cowell.

Justificativa

3 REFERENCIAL TEÓRICO 


  As imagens, conforme defendeu Taussig (1993) não são apenas uma cópia do real, mas parte intrínseca do próprio processo de conhecimento, mimesis que implica não apenas um processo cognitivo, mas, igualmente, sensível, processo em que se aprende de modo táctil, ou seja, “aprender no duplo sentido de conhecer e tocar”. (CAIUBY NOVAES: 2004, p. 11)

  A produção de imagens sobre os grupos indígenas brasileiros a partir do olhar de não indígenas é uma constante na história do Brasil. Ao longo do tempo essas imagens alimentaram e expressaram um imaginário construído não apenas a respeito dos indígenas, mas igualmente a respeito de quem os retrata. Como signos de alteridade, neste sentido, essas imagens falam muito sobre os não indígenas, mostrando algo daquilo o que eles são e que gostariam de ser. (CAIUBY NOVAES: 2004, p. 16) Mostram também as dificuldades dos não indígenas em lidarmos com outras formas de vida e as tentativas do Estado de solapar as diferenças culturais e de homogeneizá-las em nome de um projeto de Nação. 

  Por outro lado, além de poderosas ferramentas de conhecimento, as imagens também são ferramentas de comunicação. O contato com o outro, a comunicação intercultural, é um dos temas caros à antropologia desde o surgimento desta disciplina. Esta comunicação é mais viável através de imagens do que através do texto escrito. (CAIUBY NOVAES: 2004, p. 17)

Considerando, portanto, conforme defendeu Geertz, que o objetivo da Antropologia é “o alargamento do universo do discurso humano” (1989:25), é necessária a atenção a outras formas de discurso que não o texto escrito. O vídeo ou documentário etnográfico, desde Flaherty, passando por Asch, ou desde Jean Rouch que certamente tem sido o mais comentado antropólogo-cineasta no Brasil[1], desperta uma série de debates epistemológicos importantes na medida em que atribui aos interlocutores da pesquisa um papel muito mais ativo na produção do conhecimento antropológico e seus discursos. 

Por meio de imagens, uma sociedade constrói, sobre si, um discurso visual e esta construção deve ser entendida num sentido amplo. Se por um lado ela é obra daquele que capta as imagens ou do diretor do filme, por outro lado esse discurso visual é também obra dos próprios interlocutores que, ao perceberem que estarão divulgando uma imagem para além de seus territórios, procuram elaborar esta imagem por critérios específicos. (CAIUBY NOVAES: 2004, p. 12; 13) 

Nesses termos, a utilização da imagem na Antropologia ou, no caso desta pesquisa, a reflexão antropológica produzida acerca de imagens, coloca como um de seus fundamentos a ideia de que a etnografia é sempre uma construção e, nesse caso mais do que em outros, uma construção conjunta, fundada em princípios éticos e de colaboração.  

  A Antropologia Visual, enquanto prática ética e epistemológica, valoriza o momento da “restituição”, quando o pesquisador apresenta o produto de sua pesquisa ao grupo com o qual trabalhou. (ALVAREZ; BÁEZ LANDA: 2017, p. 10) O que abre a possibilidade de se produzir uma Antropologia de fato “compartilhada”, ou seja, em diálogo, o que representa a possibilidade do feed-back, e da construção de um discurso verdadeiramente reflexivo e comunicativo (Sztutman, 2004). Visto que a imagem apresenta outra grande vantagem em relação ao texto escrito: seu caráter acessível, o que permite construir um conhecimento capaz de ultrapassar de fato os muros da academia, capaz de chegar, por exemplo, até o grupo estudado que poderá avaliar o que foi dito a seu respeito e reagir a isso. 

Portanto, os meios áudio visuais nos abrem um terreno fértil onde a antropologia pode construir, e de fato tem construído, reflexões importantes a partir, por exemplo, da experiencia etnográfica com a câmera ou também da análise e interpretação de imagens de fotografia ou vídeo. Isso acontece em um momento em que as populações tradicionais também se apropriam cada vez mais das tecnologias audiovisuais e vemos emergir uma diversidade de cineastas e de produções autorais indígenas em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. (ALVAREZ; BÁEZ LANDA: 2017, p. 13)

  Portanto, além de fonte de informações para estudos sobre a história do Brasil e da ocupação da Amazônia, a pesquisa às imagens do acervo de Adrian Cowell e às memórias guardadas nelas também fornece as condições propícias para se pensar as experiências de contato cultural (por vezes violento) vivenciadas ao longo dessa história. Essas experiências, por sua vez, iluminam aspectos importantes sobre as relações entre os grupos indígenas da região da Amazônia e o Estado brasileiro. Assim, “direitos indígenas”, “relações interétnicas”, “território e meio ambiente” são temas que podem ser explorados em profundidade por meio destas imagens, através de ações que envolvam pesquisa, ensino e difusão cultural.

[1] Ver, por exemplo, o vídeo Jean Rouch, subvertendo fronteiras, 2000, produzido pelo Laboratório de Imagem e Som em Antropologia – USP e o artigo de Renato Sztutman Jean Rouch: um antropólogo-cineasta, 2004.

Equipe do Projeto

Nome Função no projeto Função no Grupo Tipo de Vínculo Titulação
Nível de Curso
MARCOS HENRIQUE BARBOSA FERREIRA
Email: marcoshbferreira@gmail.com
Coordenador Pesquisador [professor] [mestre]