Essa pesquisa trata de uma análise historiográfica do processo de urbanização de Goiânia, mediante a caracterização do seu Centro Expandido, formado pelos seguintes bairros: Centro, Setor Oeste, Setor Aeroporto, Setor Leste Universitário, Setor Sul, Setor Bueno, Setor Coimbra, Jardim América, Setor Pedro Ludovico e Vila Nova. Esse conjunto de bairros conformam a principal centralidade de Goiânia além de possibilitar reflexões sobre o espaço urbano de uma cidade planejada e calcada em princípios modernistas. Grande parte desses bairros foram definidos nas primeiras décadas de ocupação de Goiânia e detém relevância à paisagem urbana da cidade. No entanto, é necessário compreender melhor suas dinâmicas percorrendo as transformações, os crescimentos, as intervenções e as distintas classes sociais em seus respectivos espaços de sociabilidade. A constituição de uma cidade nova no interior do país suscita diversas reflexões acerca das influências e da caracterização de sua arquitetura em que há maior ênfase ao ideário de modernidade e a busca pelo desenvolvimento e progresso, detendo-se, muitas vezes, no projeto inicial da cidade sem percorrer, por vezes, os sujeitos silenciados mas que foram importantes para a constituição das feições assumidas pela cidade ao longo de sua história. Busca-se com isso investigar as várias manifestações que contribuíram para o processo socioespacial e como cada grupo social se estabeleceu na constituição da cidade e seus possíveis fragmentos. Discutir o crescimento e a proliferação de cidades desde o século XIX permite compreender as relações entre as dinâmicas socioculturais, as contingências históricas e econômicas e o processo de urbanização, definindo os sujeitos e suas representações sociais. Parte-se do princípio de que Goiânia conformava um projeto político de uma classe mais voltada ao espaço urbano em oposição aos grupos oligárquicos predominantes e mais relacionados ao espaço rural. Para que os primeiros pudessem se estabelecer no poder, era necessário reordenar o espaço e buscar uma configuração aos moldes da cidade ideal preconizada entre os arquitetos modernos. Nos países emergentes, dentre eles o Brasil, o processo de urbanização tornou-se pauta política, levando a reconfiguração do território brasileiro a partir da implantação de cidades novas em pontos estratégicos com destaque aqueles localizados no interior, como é o caso de Goiânia e, posteriormente, Brasília. São cidades moldadas aos novos padrões de planejamento urbano, abandonando as características das cidades coloniais e, ao mesmo tempo, estimulando a ocupação mediante uma perspectiva de ascensão social. No entanto, essas cidades planejadas tiveram um crescimento desordenado fruto dessa migração, levando a formação de espaços não planejados ou desvinculados dos padrões almejados em sua forma original, como ocupação de áreas não parceladas ou áreas púbicas. Em Goiânia, esse processo se legitima pelo decreto 90-A de 1938 e, posteriormente, o Código de Edificações ¿ decreto lei nº 574 de 1947, que insere parte das terras do Estado no perímetro urbano e desencadeia um processo de valorização fundiária, estimulando o loteamento das glebas rurais, conformando um espaço econômico e autônomo em relação ao campo. Isso reforça as discussões de que a cidade é um espaço de poder que envolve as disputas e conflitos entre os diversos atores de sua produção. Ao eleger o Centro Expandido como objeto de estudo, procura-se reavaliar a historiografia da cidade e compreender melhor o processo de ocupação, transformação, crescimento e adensamento destes bairros e, por conseguinte, da própria cidade, vislumbrando mais do que sua forma urbana ao identificar os atores presentes que permitam reflexões sobre os múltiplos fragmentos, territórios e paisagens existentes em Goiânia.

A presente pesquisa busca, por meio da historiografia, identificar os processos que incitaram transformações e conformaram a paisagem urbana de Goiânia, mapeando cinco momentos distintos a saber: caracterizar seu DNA e suas mutações, verificando os seus genes de cidade nova e as ocupações não planejadas – entre 1933 e 1947; a ampliação do espaço, identificando os sujeitos sociais e a formação de fragmentos por meio dos bairros aprovados entre 1950-1964; fragmentos e novos lugares – a reconfiguração do espaço mediante o financiamento federal para projetos de ordenamento territorial – 1964-1975 e a constatação da dialética entre centro e periferia; a expansão urbana mediante as legislações e alterações do perímetro urbano além da aprovação e políticas de novos loteamentos em áreas periféricas (1975-1994) e, por fim, o adensamento e constituição da região metropolitana, considerando os últimos 30 anos.    

2.1. Objetivo Geral 

Em Goiânia, confunde-se a própria história da cidade aos bairros do centro histórico e as centralidades que constituem o Centro Expandido. No entanto, é preciso compreender esse processo ao longo da história, identificando os sujeitos e representações sociais que os caracterizam. Para tanto, pretende-se com a análise das fontes documentais, verificar as mutações de Goiânia, a partir da constatação de que se trata de uma cidade nova transmutada, ou seja, uma cidade caleidoscópica uma vez que diferentes facetas conformaram sua própria história para além daquela registrada oficialmente. 

A partir dessas discussões objetiva-se elaborar o mosaico de fragmentos que conformam as periodizações propostas, investigando como ocorreu o seu crescimento, as motivações de sua expansão e como cada bairro tem suas características e contextos singulares. Inicia-se a investigação a partir das definições de centro histórico e centro expandido a fim de verificar a cidade como processo histórico e não apenas como sítio. 

2.2. Objetivos Específicos

São objetivos específicos da pesquisa:

1. Resgatar e sistematizar as fontes documentais constituintes dos acervos dos órgãos públicos municipais e estaduais, principalmente;
2. Desenvolver mapas e diagramas que elucidem os processos históricos da cidade;
3. Verificar a periodicidade proposta mediante a análise das fontes documentais;
4. Correlacionar a formação dos bairros, tendo em vista os sujeitos sociais e como cada um deles foi se estabelecendo ao longo da história como peça de um mosaico urbano;
5. Discutir as relações socioeconômicas e histórico-culturais para a compreensão do território de Goiânia e as paisagens conformadas em diferentes tempos históricos;

 

Busca-se o resgate das fontes primárias: legislações relativas ao controle da terra urbana, aerofotogrametrias e revisão da literatura acerca da constituição de Goiânia. São fontes documentais que permitem, a partir da análise da história urbana, entender a cidade como um processo. Para Braudel a cidade é tida como o lócus de construção da modernidade, entendendo-a como o espaço de constituição do capitalismo. Conforme relata Torrão Filho (2015), as cidades aumentam as tensões, precipitam as trocas e se colocam em oposição ao campo em sua origem, sendo um lugar de ruptura e de destino. Essa visão de Braudel pode ser observada na construção de Goiânia, tendo em vista seu papel modernizador e de mudanças profundas no povoamento do interior do país. Ressoa como um nó importante de articulação nacional e, ao mesmo tempo, superou em menos de vinte anos a previsão de 50 mil habitantes. 

Assim pode-se verificar seu papel como impulso à reprodução do seu capital ao analisar os bairros que foram ampliando suas dimensões a ponto de perder-se as relações e tensões entre cidade e campo e, posteriormente, entre cidade e periferia. Atualmente são outras questões que permeiam suas dinâmicas, mas seu marco fundador imputou significativas cicatrizes no território. Porém, não apenas sua gênese merece um lugar na história, pois sua ocupação mais adensada, seja horizontal ou verticalmente a partir dos anos 1970, traz à tona discursos de dissolução da própria ideia de cidade, traçada no século XIX.