As hepatites B e C e a síndrome da imunodeficiência humana (AIDS) são consideradas um problema de saúde pública mundial. Essas doenças são transmitidas por via sexual, vertical e parenteral. O manuseio de materiais perfurocortantes estabelece um potencial de risco importante para a transmissão de agentes infecciosos que transitam através do sangue, assim os profissionais de embelezamento, de estética e de tatuagens se enquadram em grupos de profissionais suscetíveis à exposição ao HIV e aos vírus das hepatites B e C. Entretanto, devido à ausência de estudos e pesquisas com essa população de profissionais, torna-se limitado o conhecimento sobre a real contribuição dessas atividades como via de transmissão dessas infecções. A pesquisa tem como objetivo avaliar a prevalência de infecções pelo HIV, HBV e HCV em profissionais de embelezamento, de estética e de tatuagem que atuam no município de Goiânia-GO por métodos sorológicos e moleculares. O presente estudo visa também estabelecer os fatores e comportamentos de risco ligados a essas infecções e construir uma proposta de orientação a esses profissionais e aos órgãos de fiscalização acerca das medidas que devem ser adotadas para melhoria do sistema de fiscalização e conscientização dos profissionais. Será realizada a aplicação de questionário estruturado, uma entrevista semiestruturada, um roteiro observacional com relação à infraestrutura e práticas de biossegurança. Serão coletadas amostras de sangue venoso para realização dos testes sorológicos e moleculares. Ao final do estudo, espera-se contribuir para o conhecimento dos fatores de risco que norteia essa profissão, com enfoque epidemiológico e social referente à infecção pelo vírus da hepatite B, vírus da hepatite C e HIV e sobre as vias de transmissão dessas doenças.

Investigar a presença de infecções pelos HBV, HCV e HIV-1 e 2 em profissionais de embelezamento, estética e tatuagens do município de Goiânia-GO por meio de análises sorológicas e moleculares, associando aos fatores de risco e compreender os problemas vividos no cotidiano desses profissionais.

Profissionais que trabalham com tatuagens, piercing, manicure, pedicure e barbearia podem representar um risco importante para infecção e transmissão de HBV, HCV e HIV. Esses vírus podem ser transmitidos de pessoa a pessoa por meio de um simples sangramento. 

Esses profissionais utilizam instrumentos que durante os procedimentos podem ser contaminados com o sangue de pessoas atendidas. Quando não tomados os devidos cuidados, como esterilização correta e uso de luvas, demais clientes e o próprio manipulador estão expostos à transmissão desses vírus através do sangue ou instrumentos contaminados (MARIANO et al., 2004). 

As hepatites B e C constituem um problema de saúde pública. Apesar de existir a vacina para HBV, muitas pessoas não têm o conhecimento adequado sobre a vacinação. Aproximadamente 30% das pessoas infectadas apresentam sinais clínicos da doença. Destes, 5% a 10% evoluem para a forma crônica após seis meses de infecção (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Sabe-se que o HBV é mais susceptível para transmissão percutânea, pois pode permanecer por até sete dias em sangue seco presente em instrumentos e nas superfícies, sendo mais infeccioso que o HIV e HCV (DE MELO, F. C. A.; ISOLANI, 2011). 

Outro grande problema associado à infecção pelo HBV e HCV consiste no desenvolvimento de doenças relacionas ao fígado, cuja progressão ocorre de forma lenta. No caso do HCV a fase aguda é de difícil percepção e assintomática. Aproximadamente 70% a 80% dos casos de infecção não tratada pelo HCV evoluem para a forma crônica (OLIVER, 2013). 

Um estudo realizado sobre o conhecimento dos profissionais de salão de beleza em relação ao HBV e HCV mostrou que em 64 estabelecimentos visitados, 96% da população estudada conhecia sobre a fonte de contaminação das hepatites e 64% tinham conhecimento sobre esterilização, porém não utilizava na prática (KHOLS, 2015). Outro estudo realizado por Moraes,et al (2012), mostrou que os profissionais de salão tem conhecimento sobre as formas de transmissão, os riscos e contaminação pelo HBV, porém não utilizam luvas descartáveis e 89,9% relataram não utilizar a estufa de esterilização no tempo e temperatura correta. De Oliveira e Focaccia (2010), estudo realizado em São Paulo, mostraram que os profissionais de salão não aderem às normas adequadas de biossegurança, apenas 5% utilizam luvas descartáveis e 93% não higienizavam os matérias de trabalho. 

Em relação ao HIV, Matsuda et al (2014) relataram a contaminação pelo HIV por meio de utensílio de manicure não esterilizado. A paciente não apresentava histórico de risco para contaminação pelo vírus, adquirindo o mesmo após utilizar o alicate de unha de um primo infectado. Outro estudo realizado em Ribeirão Preto mostrou que em 40 manicures entrevistadas sobre as formas de transmissão do HIV, 92,5% responderam por via sexual e apenas 10% mostraram preocupação com a esterilização de materiais utilizados em salões de beleza e consultórios (GIR, E,; GESSOLO, 1998). Um estudo realizado em Salvador avaliou o grau de informação dos profissionais de salão de beleza referente ao HIV e Hepatites e mostrou que em relação às formas de transmissão do vírus HIV, 40,3% dos profissionais relataram ser por via sexual sem preservativo e 22,2% relataram que o vírus HIV pode ser transmitido através de materiais não esterilizados. Juntos, estes estudos ressaltam a importância da orientação a respeito da contaminação pelo HIV. 

Tais fatos mostram que o risco de transmissão do HIV, HCV e HBV entre clientes e entre cliente e profissional ocorre devido ao pouco conhecimento, reutilização de materiais descartáveis e incorreta esterilização. Para compreender as atitudes dos profissionais, é necessário compreender a sua realidade do ponto de vista deles. Entrevistas abertas e profundas com as pessoas que se defrontam diariamente com as situações e problemas investigados podem acessar uma perspectiva nova sobre os fatores relevantes que explicam as dificuldades para assegurar a biossegurança no setor.