Estima-se que entre 70% e 80% dos acidentes aéreos sejam decorrentes de erro humano e, devido à esse dado, várias estratégias têm sido criadas para aumentar a segurança de voo. O presente trabalho tem como objetivo demonstrar que uma ferramenta comumente utilizada pelos psicólogos comportamentais pode ser utilizada para minimizar os erros cometidos por aqueles que trabalham direta e indiretamente na aviação. A ferramenta aqui proposta é o Treino de Habilidades Sociais (THS) que consiste em ensinar comportamentos socialmente habilidosos de maneira formal. Para tanto, quatro participantes do curso de Ciências Aeronáuticas serão expostos a um procedimento de três fases: 1) Pré-teste, que envolverá a aplicação do Inventário de Habilidades Sociais (IHS); 2) Intervenção que consistirá na aplicação do THS e, por fim, 3) Pós-teste que será a reaplicação do IHS. As fases 1 e 3 indicarão o nível de habilidades sociais no pré e no pós teste, respectivamente, a respeito da autoexposição a situações novas, conversação e desenvoltura social, autocontrole e agressividade, enfrentamento e risco e autoafirmação na expressão de afeto positivo. A fase 2 consistirá em aplicar o THS por meio de modelação, modelagem, instrução, role play e reforçamento positivo. Dada a eficácia do THS com diversas populações e contextos, espera-se que os alunos de ciências aeronáuticas que participarem da pesquisa apresente um aumento no nível de habilidade sociais no pós-teste comparado ao pré-teste.

Objetivo do estudo

            Tem sido sugerido que a comunicação, enquanto habilidade social, deva ser treinada por meio do THS para prevenir que determinados ruídos interfiram a comunicação de membros da tripulação (Vieira, 2009). Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo utilizar o THS para ensinar comportamentos socialmente habilidosos para futuros pilotos, visando, portanto, a prevenção de acidentes. Para tanto, 50 alunos do curso de ciências aeronáuticas da PUC-GO serão divididos em dois grupos: controle (GC) e experimental (GE). Somente o GE será exposto ao THS que consistirá em instruções, ensaio comportamental, modelação, modelagem, feedback verbal, discussão de vídeos, tarefas de casa, vivências e relaxamento. Em seguida, ambos os grupos serão novamente expostos ao IHS. Espera-se que os participantes do GE apresentem um nível de assertividade maior na segunda exposição ao IHS comparado à primeira. Tal resultado indicará que o THS poderá ser utilizado como uma ferramenta para promover a segurança de voo, uma vez que irá aprimorar as habilidades de comunicação de estudantes de ciências aeronáuticas ou futuros pilotos.

Habilidades Sociais no contexto da aviação

            Diversos acidentes aeronáuticos tem sido causados por falha na comunicação. De acordo com os estudos sobre fatores humanos feitos pela NASA, 70% dos relatórios abordaram a comunicação como uma fonte de problema. Contudo, comunicações eficazes podem impedir uma série de acidentes e incidentes graves na aviação (Callback, 2017). Logo, podemos concluir que a habilidade de comunicação está diretamente relacionada com a segurança de voo. 

            A comunicação, de acordo com Chiavenato (2009), é um processo porque é composta de sete elementos que interagem de forma interrelacionada. Esses elementos são: o emissor, a codificação, a mensagem, o canal, a decodificação, o receptor e o ruído. O emissor elabora a mensagem pela codificação de um pensamento. A mensagem, que pode ser a fala oral, o texto escrito, a expressão facil ou os gestos, é emitida através do canal de comunicação. O receptor, por sua vez, decodifica a mensagem para entendê-la. No entanto, uma série de barreiras podem estar presentes durante o processo de comunicação e, a essas barreiras, dá-se o nome de ruídos, pois comprometem ou impedem a comunicação eficaz.

            No contexto da aviação, algumas barreiras tais como, linguagem, percepção seletiva, sobrecarga de informações e medo da comunicação, entre outros, são consideradas como ruídos gerando, portanto, falha na comunicação entre os membros da tripulação. O medo da comunicação como ruído pode ser ilustrado por meio do acidente da United Airlines ocorrido em 1978. Falhas no gerenciamento de informações foram apontadas como fatores contribuintes para a ocorrência deste acidente. Por um lado, o comandante se negou a aceitar as informações dos tripulantes mais novos e do engenheiro de voo e, por outro, o copiloto não demonstrou de forma convincente sua preocupação em relação à pouca quantidade de combustível. Assim, devido à uma pane seca, a aeronave foi de encontro ao solo causando a morte de 10 ocupantes. Diante disso, o presente estudo irá focalizar o ruído denominado ‘medo da comunicação’ por envolver alguns dos componentes do comportamento socialmente habilidoso, tais como: iniciar, manter e encerrar uma conversa; aceitar e fazer elogios/críticas e expressar emoções/opiniões, entre outros (Caballo, 1996).