Detalhes do Projeto de Pesquisa

CONSCIÊNCIA E ALIENAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE MOVIMENTOS SOCIAIS E MANIFESTAÇÕES POPULARES

Dados do Projeto

488

CONSCIÊNCIA E ALIENAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE MOVIMENTOS SOCIAIS E MANIFESTAÇÕES POPULARES

2017/1 até 2020/1

ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E DA SAÚDE

ONTOLOGIA MARXIANA, TRABALHO, EDUCAÇÃO, ESTADO E LUTA DE CLASSE

Teoria Social e Serviço Social

MARIA CONCEIÇÃO SARMENTO PADIAL MACHADO

Resumo do Projeto

O presente projeto sobre consciência e alienação ocorre a partir de um estudo sobre os movimentos sociais (e sua história) e as manifestações populares que podem ser promovidas por movimentos organizados de forma crítica e consciente ou por grupos que se se utilizam de instrumentos midiáticos para promover manifestações ¿espontâneas¿, imediatistas usada para atender interesses de determinados grupos. Busca investigar o processo a organização de trabalhadores e trabalhadoras em Goiás por meio dos registros em TCC do curso de Serviço Social e como esses movimentos se diferenciam das manifestações populares ¿espontâneas¿, imediatas e pontuais face a determinados fatos que podem ser pesquisados em periódicos. A opção pelo estudo sobre movimentos sociais decorre do reconhecimento de que o serviço social como trabalho é uma profissão circunscrita no processo de divisão social do trabalho que faz intervenção na realidade concreta. Essa realidade comporta a contradição capital e trabalho materializado em expressões da questão social, cuja resistência ocorre em ações movidas pelos movimentos sociais e populares, em especial os movimentos de moradia. Esse projeto, portanto, refere-se ao estudo sobre a organização dos trabalhadores goianienses e resistência em prol de direitos, seus avanços e desafios no processo de responsabilização do Estado no atendimento dessa necessidade e a efetivação de programas e ações relacionadas à saúde, moradia, educação etc. A investigação tem como ponto de partida a indagação sobre o papel dos trabalhadores goianienses no reconhecimento da moradia como direito social e responsabilização do Estado na viabilidade desse direito por meio da efetivação do Sistema Nacional da Habitação de Interesse Social e programas específicos, sobretudo a partir da restauração da democracia e Constituição Federal de 1988. A delimitação espacial e temporal da pesquisa é Goiás, da década de 1980 à 2008, período em que ocorre o maior número de registros de TCC sobre o assunto, e a avaliação dos movimentos ¿espontâneos¿ que ocorre até a atualidade.

Objetivos

Geral
 
¿ Identificar as especificidades entre os movimentos sociais e manifestações populares por meio de sua história registradas em monografias do curso de serviço social da PUC Goiás e as divulgações das manifestações em periódicos.

Específicos
 
¿ Identificar os movimentos sociais em Goiás, sua abrangência dentro e fora do Estado e sua participação na luta em defesa dos direitos sociais.

 ¿ Historiciar a atuação dos trabalhadores e sua organização como metodologia de resistência à precarização da vida social e da exploração da força de trabalho.  

¿ Realizar revisão de literatura sobre a jornada de 2013. 

¿ Fazer a revisão das monografias de serviço social sobre movimentos sociais.

Justificativa

A participação dos trabalhadores no processo de construção da sociedade no Brasil e em Goiás foi pouco sistematizada. Os registros históricos revelam eventos e acontecimentos de grande impacto na vida política do país como a independência do Brasil, proclamação da República, abolição da escravatura; e, até mesmo a reorganização social e política após a ditadura civil e militar. Entretanto, acontecimentos cotidianos promovidos por pessoas anônimas permanecem pouco conhecidos a não ser no meio de algumas associações, sindicatos, cooperativas e demais movimentos sociais. Esse conteúdo só aparece em alguns documentos e nos discursos de alguns integrantes desses movimentos.  Trata-se de ações coletivas de enfrentamento às condições precárias de moradia, saúde, trabalho e demais situações próprias de determinada classe social, isto é, são movimentos que se consolidam em torno de demandas históricas que são enfrentadas de forma coletiva, organizada que projetam demandas históricas que contrariam os interesses do mercado.  
Já as manifestações populares podem ter duas naturezas: primeiramente, estratégias emergenciais, resultado de debate crítico entre movimentos sociais para promover o atendimento de demandas históricas que tendem a ser naturalizadas em uma sociedade de classes.

"Alguns exemplos ilustram essa forma de organização, incluindo vários setores de participantes: a Marcha Nacional pela Reforma Agrária, de Goiânia a Brasília (maio de 2005), foi organizada por articulações de base como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Grito dos Excluídos e o próprio MST e por outras, transnacionais, como a Via Campesina. Também se realizaram articulações com universidades, comunidades, igrejas, através do encaminhamento de debates prévios à marcha. A Parada do Orgulho Gay tem aumentado expressivamente a cada ano, desde seu início em 1995 no Rio de Janeiro, fortalecendo-se através de redes nacionais, como a ABGLT, de grupos locais e simpatizantes. A Marcha da Reforma Urbana, em Brasília (outubro de 2005), resultou não só da articulação de organizações de base urbana (Sem Teto e outras), mas também de uma integração mais ampla com a Plataforma Brasileira de Ação Global contra a Pobreza. A Marcha Mundial das Mulheres tem sido integrada por organizações civis de todos os continentes" (SCHERERWARREN, 2006, p. 112).


Essas manifestações legitimas e orgânicas promovem visibilidade das demandas próprias de grupos da classe trabalhadora e tendem a ampliar direitos sociais. Por outro lado, as manifestações “espontâneas” recebem essa denominação na tentativa de mascarar seu cunho político. Isto é, a grande massa da população que não se encontra engajada em movimentos ou que não acompanham de forma crítica e consciente a vida histórica social e política do país, são conduzidas por chamamentos generalistas e comoventes por parte da mídia para irem às ruas.  
 
Nas primeiras décadas do século XX, crescem no Brasil os movimentos operários, sucessivamente sob forte influência anarquista e comunista. No início da industrialização do país, grande parte da mão-de-obra utilizada nas indústrias era proveniente dos imigrantes europeus, sobretudo italianos e espanhóis. As idéias anarquistas, difundidas pelos imigrantes, predominavam entre os operários da época. Os operários, na primeira metade do século XX, além do descontentamento com as relações de trabalho, também, reivindicavam melhores condições de moradia, visto que, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, o crescimento da população era maior que a oferta de novos domicílios.  Nesse período os trabalhadores passam a ter maior consciência sobre o papel que deveriam atribuir ao Estado no que se refere a questões habitacionais, bem como ao direito dos trabalhadores e locatários. Até então, questões trabalhistas e de moradias ficavam a cargo do livre acordo entre os interessados. A preocupação com essas últimas, concretizou-se com a mobilização dos trabalhadores, que em 1920, por meio da Liga dos Inquilinos e Consumidores do Rio de Janeiro, em 1920¸ realizam manifestações. “Em 1922 é aprovada a primeira lei do inquilinato, uma das inúmeras medidas destinadas ao controle dos aluguéis” (MARICATO, 1997:35).
Com a Revolução de 1930, Getúlio Vargas assume a presidência da República de 1930 a 1945. Conhecido como um líder populista, reconheceu as questões sociais e preocupou-se com os interesses nacionais. Empreendeu reformas que ora atendiam aos interesses dos trabalhadores, ora aos interesses dominantes, como a queima do café para atender às exigências do mercado.  A década de 30 marca-se por mudanças significativas no processo político e econômico da sociedade brasileira: o Estado passou a gerir diretamente as políticas públicas, instituiu a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), criou o salário mínimo e os sindicatos oficiais. Implantou, ainda, os Institutos de Aposentadoria e Pensões, que no período de 1937 a 1964, foi responsável pela produção de 124.025 unidades habitacionais, das quais 25.428 localizaram-se no Estado de São Paulo (SACHS, 1999). Essa nova realidade fez surgir novas relações do poder público com as grandes massas de trabalhadores que se aglutinam nos grandes pólos industriais. O Estado passa a intervir na questão social para garantir a reprodução da mão-deobra necessária às indústrias, sobretudo no que diz respeito à habitação, que era um problema revelador de outras debilidades governamentais. Até meados de 1930, a solução para a falta de moradia nos grandes centros ficava a cargo da iniciativa privada. Proprietários, com o objetivo de investir capital e auferir lucro, construíam em um mesmo lote pequenas e inúmeras moradias para serem alugadas a trabalhadores. As relações sociais nesse setor caracterizavam-se, por exemplo, pelo preço dos aluguéis, decidido entre locador e locatário, assim como o valor dos salários, mediante a livre negociação entre patrão e empregado.  Até o início da década de 60, grandes empresas construíam, próximo ao local de trabalho, conjuntos de moradias destinados a seus operários, valendo lembrar que, nessa época, os meios de transportes eram escassos e precários. As famílias dos operários ficam dependentes da empresa no tocante à moradia (MARICATO, 1997).  A política de Vargas, além das mudanças de âmbito nacional – com um acelerado crescimento econômico e transformações políticas –, foi responsável pelo desenvolvimento da região Centro-Oeste, com a Marcha para o Oeste e a mudança da capital do estado, de Goiás para Goiânia (BERNARDES, 1989, p. 13) O primeiro período varguista foi marcado por forte influência da política internacional, em virtude dos efeitos da crise financeira internacional instalada a partir de 1929. Assim, ao mesmo tempo que o país apresentava um grande crescimento e desenvolvimento econômico, também sofria grave crise de abastecimento, reduzindo o poder de compra dos trabalhadores devido à carestia. Essa falta de abastecimento também atinge os materiais utilizados na construção civil, gerando um agravamento da escassez de habitações.  No período de 1937 a 1942, houve um aumento do custo de vida e o valor gasto com a moradia sacrificava a alimentação das famílias assalariadas. Essa crise, associada ao congelamento dos aluguéis com a Lei do Inquilinato de 1942, fez com que as famílias buscassem alternativas como a ocupação de áreas e a autoconstrução, muitas vezes de forma improvisada favorecendo o crescimento das favelas, sobretudo em São Paulo (SILVA, 1989). A população passa a organizar-se com o intuito de mitigar as dificuldades tocantes às questões sócio-econômicas e assim, em meados do século XX, aumenta sua participação nos movimentos sociais. Nesse período, em São Paulo e Rio de Janeiro, inquilinos organizaram-se e passaram a cobrar do Estado a
responsabilidade no que diz respeito à habitação. Esses movimentos contaram com o apoio dos Comitês Democráticos e Populares (CDPs), organismos de base do Partido Comunista do Brasil, durante o período de sua legalidade, de 1945 a 1947. As contradições na questão habitacional favoreceram a criação de movimentos sociais contra os despejos, e pela garantia de moradia para os trabalhadores de baixa renda.  A modernização do país, com base no Programa de Metas de Juscelino Kubitschek, acelerou o crescimento industrial, provocou relativa melhoria no poder aquisitivo do trabalhador e deu novo impulso ao processo de ocupação da região Centro-Oeste do país com a construção de Brasília. Esses acontecimentos repercutiram no crescimento do consumo de bens duráveis por uma significativa parcela da população e no aumento da inflação causando sofrimento ao conjunto da população brasileira.  No final da era Kubitschek, delineou-se um desenvolvimento expressivo das organizações sociais, com destaque para os sindicatos vinculados à Central Geral dos Trabalhadores (CGT) e à União Nacional dos Estudantes (UNE), os quais provocaram grande efervescência cultural, sobretudo mediante os Centros Populares de Cultura. A CGT e várias organizações de esquerda tinham uma variedade de propostas de transformações econômicas, políticas e sociais. Dentre as bandeiras de lutas que, no governo João Goulart, de 1961 a 1964, foram expressas pelas reivindicações populares, destacam-se as reformas de base, dentre as quais estavam as reformas bancárias, universitária, urbana e agrária, e ainda, a melhoria salarial, a lei de controle da remessa de lucro para o exterior etc. Herdeiro político de Getúlio Vargas, João Goulart sempre foi visto com desconfiança pelas elites e por alguns segmentos da esquerda, em razão do que enfrentou muitas dificuldades. Apesar de ter atendido a algumas reivindicações populares da União Nacional dos Estudantes, da Central Geral dos Trabalhadores e das Ligas Camponesas, lideradas por Francisco Julião, João Goulart foi perdendo as forças que o apoiavam em razão das dificuldades políticas e econômicas enfrentadas pelo governo, enquanto os conservadores se aglutinavam e ganhavam espaço político, culminando com a deflagração do golpe militar, em 31 de março de 1964. A alegação dos golpistas, ao depor o governo constitucional de João Goulart, foi a de que ele representava – segundo os ideólogos anticomunistas apoiados pela embaixada americana – a incorporação das teses das entidades defensoras de um regime socialista para o Brasil.  Segundo Netto, o golpe derrotou uma alternativa de desenvolvimento econômico-social e político, a qual, apesar de não contemplar mudanças estruturais, constava de reformas que, paulatinamente, poderiam “romper com a heteronomia econômica do país e com a exclusão política da massa do povo” (NETTO, 1996, p. 25). Instaurado o regime militar, assumiu o comando do novo poder o Marechal Castelo Branco (1964-1967), que suspendeu uma série de garantias constitucionais por meio dos atos institucionais. Declara compromisso com a democracia, porém dissolve os partidos políticos existentes, criando o bipartidarismo; decreta eleições indiretas para presidente e governadores e cassa mandatos de parlamentares federais e estaduais que eram contrários ao regime. Exerceu controle sobre a população civil com a intervenção nos sindicatos e federações de trabalhadores, provocando a demissão das lideranças mais combativas e neutralizando as demais. Reprimiu os movimentos estudantis e as
organizações populares urbanas e rurais, suspendeu o direito político de centenas de cidadãos que se manifestaram contrários ao regime militar (SALLES, 1999). Durante o regime militar, o período de maior repressão foi no governo do general Médici, de 1969 a 1974.  Para amenizar os conflitos decorrentes da falta de liberdade política, foi dada uma atenção à questão habitacional com a criação do Sistema Financeiro da Habitação e o Estatuto da Terra. O último, considerado avançado até hoje, no que diz respeito à questão fundiária, jamais foi implementado.  Em 1967, foi instituído o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), em substituição ao regime de estabilidade, o que aumentou a rotatividade de emprego, ocasionando um rebaixamento salarial. Entretanto, até 1980, “em decorrência das altas taxas de crescimento econômico e da expansão do emprego industrial, não era um grande problema arrumar nova ocupação” (BONDUKI, 1992, p. 22). A partir de 1964, com o fechamento de todos os meios legais de participação política, restou a possibilidade de organização dos moradores nos próprios bairros, impulsionada principalmente pelas Comunidades Eclesiais de Base, uma das principais alternativas de organização popular na década de 70. Na organização “as ações grupais desenvolvidas pela população passam a ser assumidas como elementos de força social para se contraporem aos seus problemas existenciais” (SOUZA, l991, p. 133). Nos governos Geisel (1974-1979) e Figueiredo (1979-1885) inicia-se e consolida-se a chamada distensão política. No governo desse último, em 1979, foi aprovada a Lei da Anistia, a volta do pluripartidarismo e a diminuição gradativa da censura. Essas mudanças expressaram a força aglutinadora da sociedade civil.  Finalmente, em 1985, com a eleição indireta de Tancredo Neves para presidente, mesmo que indiretamente – pelo colégio eleitoral – encerra-se o regime militar. O período ditatorial chega a termo com a promulgação da nova Constituição de 1988 e com a eleição direta para presidente da república em 1989. A década de 1980 foi marcada pelo aumento da crise econômica, pelo crescimento vertiginoso da inflação, pela queda no crescimento econômico e pelo aumento do desemprego.  A organização da classe trabalhadora, sobretudo em sindicatos e associações, aumentou desde o final da década de 1970, estimulada não só pelas dificuldades econômicas pelas quais o país atravessava, mas também pelo amadurecimento político pelo qual o país passou, relacionado ao processo de abertura política que vinha se consolidando. Inicialmente, o governo garantia, com algumas restrições, o direito de organização e de manifestação da classe trabalhadora, fortalecendo a conquista pela democracia. Havia desconfiança do regime militar de que as organizações populares fossem instrumentos de combate ao sistema vigente.  Os movimentos de caráter reivindicatório representavam um exercício de cidadania e expressavam a demanda dos trabalhadores no tocante a salários dignos e a direitos sociais, como moradia, saúde, educação.  Além dos problemas políticos e econômicos, enfrentados pelos trabalhadores brasileiros no início dos anos 1980, a política habitacional ficou desacreditada sobretudo por segmentos populares. O Banco Nacional de Habitação propiciava um financiamento que não conseguia atender a grande parte da população de baixa renda, com prestações elevadas e com crescimento excessivo do saldo devedor, gerando enorme insatisfação. E ainda a “rejeição crescia a cada
denúncia de que os recursos do banco estavam sendo dilapidados por fraudes e falcatruas provocados por agentes financeiros do Sistema Financeiro de Habitação” (BONDUKI, 1992: 33). No primeiro ano do governo Sarney, a inflação atingiu índices elevados e, em conseqüência, foi lançado, no dia 1o de março de 1986, o Plano Cruzado, que se constituiu, dentre outras medidas, na criação de uma nova moeda – o cruzado – e no congelamento total dos salários e dos preços.  Por tratar-se de um ano eleitoral, não se realizaram as correções necessárias à sobrevida do Plano, para não desagradar a grande massa popular, o que prejudicaria os interesses eleitorais dos partidos da base de apoio do governo Sarney, em particular os do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). O aparente sucesso do plano garantiu a vitória do PMDB nas eleições para o Congresso Nacional, assembléias legislativas e governos estaduais, em quase todo território nacional. A institucionalização definitiva da democracia só veio com a promulgação da Constituição de 1988 e a eleição direta para presidente da República em 1989.  As forças populares contribuíram para as eleições de parlamentares oposicionistas em 1974 e 1978, sinalizando a vontade de mudança, e também, influíram em favor da anistia de 1979, por meio dos movimentos organizados, assim como no alargamento da agenda da abertura política com o movimento das diretas já, em 1984. Ainda nos anos 70 surgem vários movimentos sociais de caráter reivindicatório, pessoas que se aglutinam em torno de interesses comuns como melhoria de transporte coletivo, água, luz, moradia, creches etc. Esses movimentos receberam o apoio de grupos políticos de esquerda e da Igreja Católica e a organização dos populares pode ser transformada em estratégia para o desenvolvimento de um trabalho sócio-educativo.  As consequências da crise do petróleo de 1974 só passaram a ser sentidas com maior intensidade na década de 1980, marcada pelo aumento da crise econômica, e crescimento vertiginoso da inflação, queda do crescimento econômico e aumento do desemprego, tendências que perduram até hoje. Houve, entretanto, um crescente aumento das organizações da classe trabalhadora em diversas regiões do país, em especial nos anos 80.  Os problemas locais relativos ao déficit de moradias eram uma expressão de questões econômicas e políticas no âmbito nacional. A partir dos anos 80, aumentou significativamente o índice de desemprego, de acordo com pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) sobre emprego e padrão de vida. Nesse período, a taxa anual de inflação girava entre 100% e 200% e o salário mínimo, segundo o Dieese, caiu cerca de 18% no período entre 1981 a 1984.  As organizações dos trabalhadores, em busca de uma solução para a falta de moradia, fortalecem os movimentos populares delineando novas relações sociais, políticas e econômicas com o poder instituído. “Este conjunto de mobilizações, além de suas finalidades específicas, contribuiu na luta mais geral contra o regime militar, marcando a presença popular na oposição política” (KOWARICK, 1980, p. 158). O florescimento desses movimentos não acontece de forma espontânea, trata-se de uma relação de forças que se aglutina em torno de um propósito comum, a garantia de melhor qualidade de vida.  Com o fim da ditadura militar, teve início a Nova República, após a eleição indireta, pelo colégio eleitoral. O presidente Tancredo Neves faleceu antes
de tomar posse, deixando a presidência a cargo de José Sarney, cujo governo fracassou com seus dois planos econômicos, aumentando ainda mais a crise nacional. “Ao cabo do ciclo ditatorial, nenhum dos grandes e decisivos problemas estruturais da sociedade brasileira [...] estava solucionado.” (NETTO, 1996, p. 15) O descrédito do poder público pelos trabalhadores provocou discussão sobre uma maior participação popular nos programas habitacionais, por meio do gerenciamento e da operacionalização do processo construtivo, visando diminuir o custo das moradias e evitar o superfaturamento por parte das construtoras. Assim, em 1985, no II Encontro dos Movimentos de Moradia discutiu-se a construção mediante de mutirões e autogestão. Segundo Gohn,

" autogestão é a forma mais avançada de organização popular. Constituidoras de práticas que objetivam a superação da participação no sentido de um mero compartilhar, colocando participação nos termos dos processos de planejar, gerir e controlar, segundo a sua ótica de interesses. [...] A autogestão popular é ainda hoje quase uma utopia. Ela exige a mudança de regime político capitalista e significa colocar forças sociais em conflito na cena política, cabendo ao conjunto dos setores populares, através de seus representantes, desempenhar um papel de administrar o que é público de forma a não diluir os interesses populares numa simples universalização das regras, normas e práticas instituintes; assumir o caráter menos particularista possível e o mais globalizante desejável" (GOHN, 1988, p. 28-29). 

No campo da política nacional, era grande a insatisfação popular, e, diante do fracasso do governo Sarney e do Plano Cruzado, e com forte apelo promocional pelos meios de comunicação, com campanha publicitária maciça, Fernando Collor de Mello foi eleito Presidente da República em 1989. No governo Collor, houve grande avanço do neoliberalismo, cuja principal conseqüência foi a liberação indiscriminada das importações e o início das privatizações, políticas que continuaram nos governos seguintes, sobretudo, no de Fernando Henrique Cardoso, provocando sucessivo déficit na balança comercial, em razão da liberação excessiva das importações, sem uma política adequada de exportações que, a longo prazo, pode desestabilizar a economia do país. Hoje, o país insere-se em pleno processo de globalização, no qual imperam as empresas transnacionais. Nesse sentido, o Estado tenta garantir a estabilidade nacional que é fator de grande importância para o capital transnacional, sem, entretanto, fazer grandes investimentos nas áreas de políticas públicas. Com o agravamento do estado de pobreza da grande massa de trabalhadores e das desigualdades econômicas, aumenta o número de famílias vítimas de tragédias ocasionadas por desabamentos de casas, deslizamentos de morros e enchentes de rios, em razão da precariedade de suas moradias.  Ao mesmo tempo que há um interesse político e econômico em atender às necessidades da política internacional, as questões sociais passam para um segundo plano, as quais só se transformam em prioridade mediante calamidades públicas ou, ainda, em casos de grande comoção nacional ou internacional, como o trabalho infantil, a prostituição infantil, o trabalho escravo, o abandono de crianças etc. O privilégio às classes dominantes nos governos que se seguem ao longo de nossa história é constante. A contínua insuficiência de investimentos em políticas sociais, agravada sob a premissa neoliberal, acirra ainda mais a crise habitacional
em todo o país.  Gradativamente, fortalece-se a perspectiva de que as questões sociais devem ser solucionadas com o esforço individual ou com o auxílio da sociedade civil mediante doações, trabalhos voluntários ou mesmo Organizações Não-Governamentais (ONGs). “Para os neoliberais, a interferência da política nas questões sociais gera, ela mesma, a ineficiência e improdutividade” (GENTILLI, 1995, p. 44).  O poder legislativo, que deveria estar a serviço da maioria da população com ações concretas de seus parlamentares, limita-se a votar projetos de interesse do governo. “O Estado é praticamente reduzido ao Poder Executivo Federal” (SOUZA, 1996, p. 26). Nos países avançados, a população carente consegue ter suas necessidades básicas atendidas por iniciativas particulares e ainda pela intervenção de entidades ligadas ao terceiro setor. No caso dos países em desenvolvimento, quando as necessidades são muitas, as contribuições advindas do terceiro setor são insuficientes e fragmentadas, não atendendo à grande massa da população. Os governos são engessados pelos seus promotores, isto é, pelas elites econômicas e financeiras.  Portanto, essa política é responsável pelo grande número de pessoas que estão inseridas no processo político-social, mas que não têm seus direitos básicos garantidos:

"A diferença entre ricos e pobres, que já era muito pronunciada em 1960, aumentou consideravelmente entre 1960 e 1970, e a tendência se manteve entre 1970 e 1980. Os 10% mais ricos concentravam 39,6% em 1960 e viram sua parte passar para 46,7% em 1970 e para 47,7% em 1980. Na outra ponta, a metade mais pobre só possuía 17,4% do conjunto da renda em 1960 e viu sua parte cair para 14,9% em 1970 e, por fim, para 14,1% em 1980" (SACHS, 1999, p. 40).

A necessidade de sobrevivência das camadas populares, ante as contradições existentes no sistema capitalista, em determinadas circunstâncias, favorece a organização de grupos de pessoas que apresentam interesses comuns. Com base na organização, o movimento legitima-se, torna-se coeso e, muitas vezes, extrapola a luta reivindicatória, desenvolvendo uma consciência política e de classe. Os movimentos surgem espontaneamente ou são estimulados por organizações e/ou instituições.

"Os movimentos populares criados a partir de ações da sociedade civil utilizaram o conteúdo político do termo comunidade para conferir sentido a uma nova cultura política que se esboçava, fundada no aprendizado de uma nova cidadania, em que a reivindicação em torno da noção dos direitos ocupava um lugar central" (GOHN, 1991, p. 14).

Com a Nova República, surgiram organizações sociais estimuladas por instituições governamentais e a cooptação de algumas já existentes, visando garantir a ordem vigente, como por exemplo, associação de moradores.

"Depois de 1986 a conjuntura trouxe fatos novos. O Estado como um todo reelabora sua política social em torno de negociações com os movimentos organizados. Parcelas deste Estado passam a ser administradas por governos com propostas populares, participativas." (GOHN, 1991, p. 15).

A partir dos anos oitenta, os movimentos sociais aprimoram seu caráter político e seus membros compartilham dos ideais construídos no seio dos partidos políticos, em especial dos partidos de esquerda.  

Equipe do Projeto

Nome Função no projeto Função no Grupo Tipo de Vínculo Titulação
Nível de Curso
ALDOVANO DANTAS BARBOSA
Email: professoraldovano@yahoo.com.br
Pesquisador Líder Adjunto [externo] [doutor]
DIENIFFER GOMES FLORENCIO BARBOSA
Email: dieniffer159@gmail.com
Pesquisador Estudante [aluno] [null]
ELTON SARAIVA LEITE
Email: eltonnleite@hotmail.com
Pesquisador Estudante [aluno] [null]
FRANCISLENE PEREIRA DA SILVA
Email: francislenepereira@yahoo.com.br
Pesquisador Pesquisador [professor] [mestre]
GEOVANI DE MATTOS RAMOS
Email: geovanimramos@hotmail.com
Pesquisador Estudante [aluno] [null]
JULIANA MORAIS DA SILVA
Email: julianacaxinho@hotmail.com
Pesquisador Técnico [externo] [graduado]
LUCIA ABADIA DE CARVALHO QUEIROZ
Email: luciaacarvalho@uol.com.br
Pesquisador Pesquisador [professor] [mestre]
MARIA CONCEIÇÃO SARMENTO PADIAL MACHADO
Email: mcspadial@gmail.com
Coordenador Líder [professor] [doutor]
MARIANA ALMERITA DE CARVALHO
Email: carvalhomariana082@gmail.com
Pesquisador Estudante [aluno] [null]