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MORTES INVISÍVEIS: A DOR, O SOFRER E A FÉ PARA A POPULAÇÃO DAS RUAS
2019/2 até 2023/2
ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES
GRUPO DE PESQUISA EM RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
RELIGIÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS
PEDRO ANTONIO CHAGAS CACERES
2.1. Objetivo Geral
.Analisar de forma problematizadora as diversas formas de violências e de mortes impostas às pessoas que sobrevivem nas ruas do Brasil. Destacando a exclusão social, as dores, os sofreres e a fé no cotidiano destes indivíduos.
2.2. Objetivos Específicos
.Fazer levantamentos históricos da população de rua no Mundo, na América Latina e no Brasil.
.Identificar as principais formas de violência e morte enfrentada pela população em situação de rua.
.Promover investigações acerca das condições sanitárias, de saúde e sexualidade desses indivíduos.
.Levantar as possíveis conexões dessa população com a fé, a religião e o sagrado.
.Identificar as instituições religiosas, as ong’s e outros grupos que prestam assistência a indivíduos em situação de rua.
.Observar os laços afetivos, as amizades e amores construídos nesse ambiente.
.Investigar quais são os desejos, os sonhos e as perspectivas das pessoas em situação de rua.
A justificativa se sustenta em três cenários distintos, mas que se complementam: O primeiro cenário destaca a morte e as suas representações que se apresentam em sua trajetória engendrada nos cultos primitivos, os rituais fúnebres, nas visões de mundo e no crescente imaginário, formador de um forte e frágil fio que conecta a materialidade, a existência e a transcendência de cada comunidade e de cada indivíduo. O mesmo não está desconexo, pois é o fruto dos determinismos que funcionam como mecanismos de controle (Geertz). Pari passu com o desenvolvimento histórico e antropológico, sendo que a filosofia teve e tem na morte a sua grande “deusa inspiradora”, estimuladora dos maiores sistemas de fomento ao desenvolvimento epistêmico: o empirismo e o racionalismo.
O segundo cenário apresenta a morte, o morrer e a violência orgânica imposta à população em condição de rua no Brasil. A precarização das condições de vida, o desemprego estrutural, o preconceito, a exclusão historicamente construída que lança todos os dias mais e mais indivíduos nas ruas dos grandes centros urbanos. Este cenário não necessita de malabarismos teóricos para sua pontual evidenciação. Os números são autônomos e abrem a via para justificativas atualíssimas e extremamente graves. Sendo que estes números crescentes envolvem o sofrimento e a morte da população de rua no Brasil.
O terceiro cenário diz respeito aos papéis inerentes à fé e à religião, suas forças comunitárias, bem como as suas capacidades de atribuírem sentido ao existir humano. Evidenciam-se no uso das diversas ferramentas religiosas para os complexos e diversos momentos de dor e sofrimento, absorvidos por cada qual, a seu modo. Destacando que a expertise religiosa inseriu-se tanto no âmbito da subjetividade, quanto no da consciência coletiva (Durkheim). Mediante o exposto acima, partiremos em conformidade com o indicativo.
A pertinência do tema se justifica por sua factualidade, seu impacto perverso sobre a sociedade, em níveis micro e macro, sua constante atualidade, bem como seu impacto no cotidiano de cada família que sofre o choque de perder, abruptamente, um ente querido. A relevância da pesquisa se ancora no papel da religião como fornecedora de sentido diante do deixar de existir físico, no apoio espiritual fornecido aos familiares, frente da complexidade que é a morte e o morrer.
A morte é a grande musa das religiões primitivas e modernizadas, é a musa da filosofia e das ciências (Schopenhauer). Provavelmente sem a morte não existiriam investigações metodológicas com a finalidade de revelar os segredos da vida. Os pensadores não se debruçariam sobre tomos de textos ancestrais, extraídos do âmago da natureza. Enfim, a religião perderia, em muito, para não dizer totalmente, o seu sentido de ser, pois não haveria uma finitude para que o ciclo existencial pudesse se sustentar em um projeto de futuro transcendental.
Pesquisar, debater, produzir trabalhos científicos sobre a morte e o morrer não consiste em um ponto fora da curva. Apesar de ser considerado um tema de mau gosto, pela grande maioria dos ocidentais contemporâneos (assunto que deve ser evitado), a morte está inserida no cotidiano de todos os seres vivos dotados de consciência. É evidente que os “não conscientes” também morrem, mas pelo fato das demais espécies, por mais inteligentes que sejam não serem capazes, pelo que sabemos, de transcender às explicações físicas e criar representações metafísicas, teologias, doutrinas, teorias, poética, contos sobre a finitude do existir imanente. É característica intrínseca do ser humano o angustiar-se pela falta de controle, pelo sentimento de perda, pela desesperança e a sensação de descaminho que impulsiona o indivíduo, mesmo que repentinamente, a refletir sobre a inevitabilidade da morte.
O tema se faz urgente, pois segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA 2015), o Brasil possui uma população, em situação de rua, estimada em 101.854. Com a crise econômica que o país vem atravessando nos últimos anos este número certamente tem sofrido uma considerável elevação. O aumento do desemprego afeta atualmente 13,7 milhões de brasileiros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A falta de recursos econômicos impossibilita a manutenção básica de qualquer família. A informalidade nem sempre garante o mínimo para a sobrevivência básica. Pressionados pelas contas que avolumam e pela impossibilidade de pagar o aluguel, famílias são despejadas, sendo a rua o meio, o caminho e a marginalização que estes indivíduos são obrigados a vivenciar.
Há nas ruas das grandes cidades mães, pais, filhos e animais domésticos sobrevivendo em situação de vulnerabilidade. Os indivíduos descritos representam uma típica família brasileira, mas há um detalhe que faz toda diferença: eles não possuem um lugar para chamar de lar. A ausência de um porto seguro arremessa essas pessoas aos inumeráveis perigos das ruas.
Essa população extremamente fragilizada compõe um dos grupos sociais de maior vulnerabilidade nesse país das grandes desigualdades estruturais. Nas cidades brasileiras, com destaque para as grandes capitais, a taxa de violência letal é direcionada para mulheres e homens que habitam as ruas das metrópoles. As brigas que levam ao homicídio, as drogas, o acerto de contas, os grupos de extermínio equivalem à um dos principais fatores que geram a violência e a morte dessa população.
Para além das ameaças constantes (fruto, assalto, inúmeras formas de violência física, estupro, homicídio, atropelamento, etc.), a população em situação de rua também se encontra vulnerável, para variadas formas de adoecimento, sendo as crianças e os idosos a parcela mais fragilizada e, portanto, propensa para estes males. Tuberculose, IST’s, gripe, pneumonia, doenças de pele, entre tantas outras. Geralmente a família não perde apenas a estrutura domiciliar, a dignidade, o auto-respeito, a identidade social são elementos que sofrem gradativa desintegração.
Dos diversos mecanismos oferecidos para atribuir sentido à existência humana, a religião, sem dúvida, é a mais popular e tradicional. Um dos atributos fundamentais da religião é o fornecimento de vias seguras, para a existência do fiel. Esta lógica fornece o tom e o equilíbrio de sua vida conjugada na temporalidade e na crença de que há uma imortalidade em outro estágio. Seu corpo perece, mas seu ser viverá infinitamente. Deste modo não há o fim definitivo com a morte, ela é apenas uma transitoriedade para outra forma de existência. É evidente que essa visão religiosa de mundo é apenas uma forma de enxergar e dar sentido à existência. Ressurreição, encarnação, reencarnação, translações das almas, enfim, várias maneiras de negar a morte como fator exterminador da existência.
A religião está presente na primeira socialização, através dos valores transmitidos pela família, e na segunda socialização, por meio dos diversos mecanismos de inserção da criança e do adolescente na vida religiosa. Estes elementos ainda são comuns nas famílias ligadas aos aspectos mais tradicionais. Porém diante da dor e do sofrimento causados pela morte, o apelo religioso ainda é um forte aliado àqueles que choram a dor da perda. Por mais que uma sociedade seja secularizada, a grande solidão causada pela morte é norteada pelo sentido religioso, mesmo que se encontre pulverizado em outros matizes. A associação entre religião e morte é evidenciada pela natureza das duas realidades. Uma inserida no constructo da consciência humana, outra uma força inexorável da natureza.
Nome | Função no projeto | Função no Grupo | Tipo de Vínculo | Titulação Nível de Curso |
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PEDRO ANTONIO CHAGAS CACERES
Email: acaceres@pucgoias.edu.br |
Coordenador | Pesquisador | [professor] | [doutor] |