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CERAMISTAS TUPIGUARANI NO CERRADO
2018/1 até 2020/2
ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES
PATRIMÔNIO CULTURAL
Cultura Material e paisagem
CRISTIANE LORIZA DANTAS
OBJETIVO GERAL
Analisar os fluxos ocupacionais dos grupos Tupiguarani na área do atual estado de Goiás, ocorridos a cerca de 1000 anos antes do presente, associados a possíveis processos de resistência e/ou interação cultural em relação à outros grupos ceramistas contemporâneos e presentes na região.
OBJETIVO ESPECÍFICO:
- Atualizar o levantamento dos sítios Tupiguarani no estado de Goiás, elemento base para se discutir a distribuição espacial;
- Revisitar as coleções arqueológicas Tupiguarani no laboratório de arqueologia e em outras instituições de ensino. Para os sítios já analisados será realizado um registro detalhado dos dados técnicos e iconográficos. Para os demais sítios será processada a análise tecnomorfológica e iconográfica dos objetos cerâmicos. Os resultados advindos serão relevantes para definir os elementos constituidores de parcelas importantes da identidade cultural destes grupos.
- Para os sítios multicomponenciais, revisitar e/ou analisar a cerâmica arqueológica não Tupiguarani associada. Os resultados subsidiarão as investigações acerca dos processos de interação e resistência cultural. Para colaborar com este objetivo será selecionado um sítio que apresente potencial interpretativo sobre a questão da sobreposição ou interação dos materiais cerâmicos. Este sítio será objeto de escavação em fase posterior da pesquisa.
- Realizar um banco de dados de todos os estilos de campos gráficos presentes nas cerâmicas com decorações pintada e plástica desta região. Para isso, proceder análises comparativas entre os campos gráficos.
- Verificar se há relação entre os motivos iconográficos e os tipos de sítios arqueológicos em que esta decoração se encontra;
- Registrar outros elementos associados à cerâmica Tupiguarani, como os objetos líticos, remanescentes alimentares (fauna e flora), enterramentos humanos, entre outros.
Este projeto se justifica pela ausência de estudos sobre este tema na região do atual estado de Goiás, assim como se fundamenta pelo potencial arqueológico da região em possibilitar o desenvolvimento de novas perspectivas aos estudos da cultura material cerâmica Tupiguarani.
No passado, parte expressiva das pesquisas de grupos ceramistas na região se voltou à investigação acerca das características e dinâmicas das grandes aldeias, representadas pelas tradições Aratu e Uru, entre as diversas publicações, destacamos as obras de Wüst (1983); Wüst (1991); Mello (1995); Wüst e Carvalho (1996); Viana (1996); Viana e Mello (1998); Wüst (1999); Wüst e Barreto (1999); Mello (2001); Pontim (2005); Viana et al, (2013). Sobre esta questão, Pontim (2011) complementa:
Embora na sua área de estudo [alto Tocantins] tenham sido registrados sítios arqueológicos filiados à Tradição Tupiguarani, eles apresentaram coleções quantitativamente reduzidas se comparadas às provenientes das escavações executadas em sítios filiados às tradições Aratu e Uru, nessa área. Esse fato significa que além de ser reduzida a presença desses grupos, os sítios se caracterizam por menor densidade de vestígios (PONTIM, 2011, p.138).
Somente nos últimos anos os estudos dos ceramistas Tupiguarani no Brasil e, em especial a pesquisa iconográfica presente nos vasilhames cerâmicos abandonaram as perspectivas difusionistas e as práticas meramente descritivas, voltando se a abordagens mais atualizadas, entre elas: investigação de aspectos cognitivos como um dos elementos para entender as repetições dos campos gráficos da iconografia cerâmica (LIMA, 2010); investigações acerca das identidades e gêneros expressos a partir da cerâmica Tupiguarani (SCHANN, 2001, PROUS, 2011); estudos de fluxos ocupacionais, onde se inclui noções de migrações, fronteiras e territórios, aliados aos vieses interpretativos de resistências frente a outros grupos que estavam ocupando as mesmas regiões no passado e interações sociais.
Enfim, as perspectivas teóricas e metodológicas que veem sendo delineadas para o estudo da cerâmica Tupiguarani em várias regiões abrem possibilidades para se pensar questões mais amplas que envolvem resistências, alteridades e marcadores de identidades que podem ser pensados por meio da cultura material.
A construção de identidades é uma realidade em constante transformação, uma vez que pode ser definida também como o equilíbrio na manutenção dos traços significativos das expressões do passado (STUART; WOODWARD 2005). Desta forma considera-se que contruções de identidades requer o estabelecimento de relações que envolvem negociações, ressignificações e também resistências, sendo esta última marcada principalmente pela diferença.
No que se refere a cerâmica Tupiguarani a sua permanência por longa duração e disseminação em um território tão vasto implica na possibilidade de se pensar os elementos da cerâmica relacionados aos processos de resistência e de marcadores de identidade que se faz pela escolha da diferença que carregam símbolos concretos que ajudam a identificar a permanência de determinados traços que foram eleitos em processos de longa duração para permanecerem no suporte material.
É com o entusiasmado científico destas perspectivas que o presente projeto se estrutura. Todavia, diferente da maioria das regiões pesquisadas, temos nas “terras goianas”, uma situação inusitada: os sítios Tupiguarani e a quantidade de material cerâmico Tupiguarani presente nos sítios multicomponenciais, representados pela Aratu e Uru, são diminutos.
Se no passado, esta situação foi considerada de incongruência e estéril de explanações, atualmente, ao contrário, empenhamos nossos esforços científicos nesta diferença, entendendo-a como uma situação oportuna e profícua para investigarmos as particularidades das ocupações humanas dos grupos Tupiguarani na região centro-sul do Planalto Central brasileiro.
Esta situação de alguma forma colabora no esclarecimento da ausência de produção científica em torno dos ceramistas Tupiguarani nas terras circunscritas no atual estado de Goiás. Fato observado ao analisar o conjunto de obras mais atualizado no Brasil sobre a cerâmica Tupiguarani, organizado por Prous e Lima em 2010 e reeditado em 2016, onde constam pesquisas em diversas regiões do Brasil, com exceção de algumas, dentre elas a referida região.
Desta forma, o presente projeto busca aprofundar-se por meio de releituras de análises do material arqueológico Tupigurani, com o intuito de contribuir para o desenvolvimento de novas perspectivas interpretativas sobre como esses ceramistas se organizaram e construíram redes que interagiam ou confrontavam com outros grupos durante o processo de ocupação do
Nome | Função no projeto | Função no Grupo | Tipo de Vínculo | Titulação Nível de Curso |
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CRISTIANE LORIZA DANTAS
Email: crisloriza@gmail.com |
Coordenador | Pesquisador | [professor] | [mestre] |
SIBELI APARECIDA VIANA
Email: sibeli@pucgoias.edu.br |
Pesquisador | Líder | [professor] | [doutor] |