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A EXISTÊNCIA ESTÉTICA SEGUNDO KIERKEGAARD: MODO DE NÃO-SER
2017/2 até 2020/1
ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES
GRUPO DE PESQUISA EM FILOSOFIA
História da Filosofia
ELIANA BORGES FLEURY CURADO
2.1. Objetivo Geral (ou primário)
Identificar, na primeira parte da obra “Ou-Ou”, de Kierkegaard, elementos que diferenciam os oito escritos que a compõem, a fim de reconhecer neles modos distintos de existir esteticamente.
2.2. Objetivos Específicos (ou secundários)
Reconhecer, em cada um dos “papéis de A”, uma personalidade estética específica, que a diferencie das demais personalidades estéticas. Assim, são objetivos específicos, relacionados a cada uma das seções estéticas (Papéis de “A”) de Ou-Ou:
2.2.2 Identificar, como principal motivação d’Os estádios eróticos imediatos, a caracterização da música como a legítima expressão da sensualidade. Para tanto, o autor analisa criticamente A Flauta Mágica, Fígaro e Don Juan, de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) e Fausto, de Johannes Wolfgang von Goethe (1749-1832).
2.2.3 Propor, como leitura de Influência da tragédia antiga na tragédia moderna, a tese de que a arte moderna, em particular a tragédia, não é capaz de compreender o verdadeiramente trágico: a tragédia moderna concentra-se na caracterização externa do trágico, enquanto a verdadeira tragédia revela-se internamente, no âmbito da subjetividade.
2.2.4 Investigar, através da análise da seção intitulada “Silhuetas”, a hipótese de que o autor, ao examinar as figuras femininas retratadas nas peças de Mozart e Goethe, quer saber se um artista pode, de fato, compreender e expressar, por via de sua arte, o que pertence exclusivamente à realidade interna de um outro indivíduo: o sofrimento.
2.2.5 Propor, como leitura possível de O mais infeliz, o exame da personalidade melancólica, inclinada ao suicídio, como um modo de ser estético. A apresentação da seção já é um bom indicativo da personalidade melancólica que encontraremos em suas páginas: Kierkegaard descreve uma sepultura sem nome e sem cadáver, cuja identificação consiste apenas na caracterização do espírito que ali deveria estar: “O mais infeliz”. Mais à frente, afirma: “O mais infeliz é aquele que, de uma maneira ou de outra, tem o seu ideal, o conteúdo de sua vida, a plenitude de sua consciência, a sua própria essência, fora de si mesmo” (2013, p. 259/260).
2.2.6 Demonstrar que, em “O primeiro amor”, título extraído da comédia de mesmo nome de Eugène Scribe (1791-1861), o autor apresenta como um modo de ser estético o amor romântico, cuja característica mais evidente é a vivência, ao menos em convicção, do amor pelo outro, em oposição ao amor de si do sedutor, autor da última seção desses escritos.
2.2.7 Verificar se, em “Rotação de cultura”, o esteta constrói o que ele mesmo nomeia como “teoria da prudência social”. O ponto de partida dessa construção é a constatação de que a vida humana é, em essência, tédio (Cf. 2013, p. 317). Para enfrentar o tédio, necessário se faz mudar nossa visão das coisas, como faz o agricultor, na rotação de culturas (Cf. 2013, p. 324).
2.2.8 Demonstrar que a personalidade estética do sedutor, Johannes, representa o amor romântico em seu mais alto grau: o amor pela perfeição, impossível de se encontrar no mundo da vida. O Diário do sedutor, como o título já sugere, apresenta, em forma de diário, a sedução calculada de uma jovem ética, Cordélia, sedução que tem como motivação o prazer que o jogo de sedução promove e, como propósito, a destruição da personalidade ética, por revelar a ela mesma a sua inconsistência (Cf. 2013, p. 336 ss.).
A importância do filósofo Sören A. Kierkegaard para a história da filosofia revela-se espontaneamente na significativa contribuição desse pensamento para a construção de duas das principais escolas de pensamento do século XX, a saber, o Existencialismo e a Fenomenologia.
Mais ainda, encontramos Kierkegaard nas filosofias de Friedrich W. Nietzsche (1844 - 1900), Jean-Paul Sartre (1907-1980), Martin Heidegger (1888-1976), Theodor Adorno (1903-1969) e Alasdair MacIntyre (1929 - ), para citar alguns; nos existencialistas cristãos Gabriel Marcel (1888-1973) e Karl Jaspers (1883-1969); em Paul Feyerabend (1924-1994), físico e filósofo da ciência; em teólogos como Rudolf Karl Bultman (1884-1973) e Paul Tillich (1886-1965) e em Sigmund Freud (1856-1939). A influência de seu pensamento também se faz perceber na literatura existencialista do século XX, nas artes plásticas e em teóricos da pós-modernidade, como Jean Baudrillard (1929-2007).
Entretanto, a importância de um pensamento ou de um pensador não pode se restringir à sua influência sobre outros pensadores, como se seu valor se resumisse ao ato inconsciente de aplanar o caminho dos que vieram depois. Ao contrário, todos os pensadores do século XX que se deixaram influenciar por Kierkegaard são tributários de seu pensamento.
Também não podemos restringir a importância de um filósofo à sua atualidade. É certo que Kierkegaard ainda é um filósofo bastante atual, em parte pelo fato de, como já dissemos, ter oferecido condições teóricas tanto para a construção das principais escolas de filosofia do século XX, como também por ser o filósofo que mais influenciou o que chamamos, hoje, de pós-modernidade. Ainda assim, seus méritos intelectuais revelam-se por si mesmos, independentemente daqueles a quem influenciou.
Por atual que seja, quaisquer que sejam os pensadores que influenciou, qualquer que tenha sido a filosofia que tornou possível, o pensamento de Kierkegaard se justifica internamente, por seu valor teórico, por seu alcance e profundidade ímpares. Os inegáveis méritos intelectuais desse pensamento, dadas a sua força teórica e a sua densidade, tornam essa investigação altamente relevante.
Devemos considerar, ainda, como prova da relevância da pesquisa proposta, o número ainda pouco expressivo de investigações de caráter acadêmico que têm por objeto, no Brasil, o pensamento de Kierkegaard, seja no âmbito da filosofia, seja da teologia. Isso acontece, em boa parte, pela dificuldade interna a seu próprio pensamento, que faz uso generoso de pseudônimos (são 23, no total); ao fato de que cada pseudônimo defende um ponto de vista próprio, frequentemente em conflito com os demais; ao estilo irônico do autor; à utilização de uma terminologia filosófica altamente especializada, a saber, a terminologia hegeliana e, por fim, à necessidade imperiosa de uma visão de conjunto, em relação à obra de Kierkegaard, para que de fato se possa compreendê-la.
De modo mais específico, a importância da obra Ou-Ou no conjunto do pensamento de Kierkegaard se revela por apresentar, sob pontos de vista distintos, duas das três partes que compõem o cerne de toda a sua filosofia: a oposição entre os momentos ético e estético no desenvolvimento da personalidade. Essa obra ocupa, portanto, não apenas um lugar central no pensamento de Kierkegaard, mas representa a força mesma de seu pensamento. A relevância da obra, por si só, é justificativa suficiente para seu estudo.
A pesquisa proposta se justifica, ainda, pela ausência completa de uma investigação mais detalhada e cuidadosa acerca dos oito ensaios estéticos que compõem a parte “A” da obra Ou-Ou. Não há, na produção bibliográfica que tem por objeto a obra Ou-Ou, a defesa da tese que pretendemos demonstrar nessa pesquisa: que os oito ensaios estéticos apresentam, cada um a seu modo, uma personalidade estética específica, o que significa dizer que, conforme nosso ponto de vista, há oito modos de ser esteta ou, ainda, há oito modos de não-ser, haja vista que, para o filósofo, a personalidade estética, orientada para o imediato, é necessariamente uma fuga de si mesma, de sua verdade e de suas contradições internas, no apaziguamento de conflitos pela superposição de um “eu” ideal ao “eu” existente.
Por tudo o que foi dito acima, toda e qualquer pesquisa que tenha por objeto de investigação o pensamento do filósofo dinamarquês Sören Aabye Kierkegaard é relevante, mas o estudo da primeira parte de Ou-Ou é absolutamente imprescindível, dada a ausência quase completa de estudos acerca do tema.
Nome | Função no projeto | Função no Grupo | Tipo de Vínculo | Titulação Nível de Curso |
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CESAR DE PAULA LUCAS
Email: cesar.lucas@uol.com.br |
Pesquisador | Estudante | [] | [] |
CIRLENE SANTOS CASTRO
Email: cirlenesantoscastro@gmail.com |
Pesquisador | Estudante | [] | [] |
ELIANA BORGES FLEURY CURADO
Email: curadoeliana@gmail.com |
Coordenador | Líder | [professor] | [doutor] |
JOÃO BORGE CHILELE SALIULO
Email: joaochilela@gmail.com |
Pesquisador | Estudante | [] | [] |
PETTERSON DAHER DE OLIVEIRA
Email: pettersondaher@hotmail.com |
Pesquisador | Estudante | [] | [] |
RENAN TAVARES VIANNA
Email: renan_rtv@hotmail.com |
Pesquisador | Estudante | [] | [] |
WELLITON CONCEICAO DA SILVA
Email: welliton4576@hotmail.com |
Pesquisador | Estudante | [] | [] |