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COMUNICAÇÃO COMO CIÊNCIA BÁSICA TARDIA
2019/2 até 2023/1
ESCOLA DE DIREITO, NEGÓCIOS E COMUNICAÇÃO
COM.SENTIDO
Comunicação, Produção de Sentidos e Representações Sociais
LUIZ ANTONIO SIGNATES FREITAS
Objetivo geral
Compreender as condições de possibilidade de perceber a ciência da comunicação como uma ciência básica.
Objetivos específicos
¿ Estabelecer o estado da arte do debate epistemológico da comunicação como ciência no Brasil e nos principais países da América Latina, Europa e Estados Unidos.
¿ Determinar os indicadores epistêmicos, sociais e políticos que configurem os modelos de ciência básica e sua aplicação aos elementos percebidos nos diferentes contextos da produção acadêmica em comunicação.
¿ Identificar os fundamentos teóricos, conceituais e pedagógicos típicos das comunicação, já introduzidos direta ou transversalmente no ensino das ciências básicas consolidadas no Brasil.
¿ Cartografar as dimensões conceituais, pedagógicas e didáticas, da noção aplicada da comunicação como ciência básica tardia.
A relevância deste projeto é pela sua repercussão epistemológica na área de comunicação e, conforme os resultados esperados, impacto pedagógico, na área da educação.
A hipótese que emerge como corolário deste trabalho é o que provisoriamente denominamos um “clamor de contexto”, isto é, uma demanda social de largas proporções por uma ciência que reconecte a comunicabilidade humana à construção do saber, da ética, da democracia e da justiça social.
Uma rápida análise do contexto comunicacional das sociedades contemporâneas revela que a capilarização íntima das redes sociais virtuais fez com que o falatório privado fosse a público sem filtros. Diferentes autores de variada procedência têm reafirmado essa suspeita. Para Umberto Eco (apud Terra, 2015), as redes sociais dão o direito à palavra a uma "legião de imbecis" que antes falavam apenas "em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade". Andrew Keen formula uma crítica muito mais ácida, ao citar a chamada “teoria do macaco infinito”, de Huxley, segundo a qual se dermos máquinas de escrever a um número infinito de macacos, um deles eventualmente produziria uma obra prima. Para Keen, a internet propiciou essa experiência, de forma desastrosa: A tecnologia de hoje vincula todos aqueles macacos a todas aquelas máquinas de escrever. Com a diferença de que em nosso mundo Web 2.0 as máquinas de escrever não são mais máquinas de escrever, e sim computadores pessoais conectados em rede, e os macacos não são exatamente macacos, mas usuários da internet. E em vez de criarem obras-primas, esses milhões e milhões de macacos exuberantes — muitos sem mais talento nas artes criativas que nossos primos primatas — estão criando uma interminável floresta de mediocridade (Keen, apud Gomes, 2015)
À parte das críticas aos conteúdos disseminados na internet, esse movimento que se mundializa trouxe consigo várias alterações na comunicabilidade humana, dentre as quais podemos mencionar: ¿ O desenvolvimento de novas estratégias de manipulação de conteúdos, de escuta e fiscalização dos sujeitos e, também, de silenciamento. A dinâmica liberdade versus controle ganhou sentidos de larga amplitude e extensa visibilidade (Castells, 2003). ¿ A força do argumento tem sido continuamente substituída pela repetição e a reverberação. A noção de meme, representada pela visualização massivamente compartilhada de frases e imagens de efeito, demonstra que a circulação constituiu uma espécie de argumento pragmático, no qual o valor de verdade se torna condicionado pela força da reiteração e do compartilhamento (Börzsei, 2013). ¿ Desfaz-se as fronteiras que separavam os polos da dicotomia platônica doxa versus epistème, sem que ela seja substituída por algo melhor. Ainda estamos longe da previsão socialmente comprometida de Boaventura Santos, de ruptura da ruptura platônica a partir do desenvolvimento de um novo senso comum, um
“senso comum esclarecido” (Santos, 2000). Não é o saber instruindo a opinião, e sim a opinião invadindo e, não raro, substituindo o saber, numa espécie de “sensocomunização” dos sentidos públicos. ¿ O corolário desse quadro é que as novas esferas de interação e produção de sentidos, viabilizadas pela internet, constituiu novos modos de apropriação do conhecimento e de tessitura social. Viver é comunicar, com todas as vantagens e riscos. ¿ A pragmática democratização dos processos comunicacionais ao longo de todo o tecido social, inclusive dos domínios da intimidade, não traz apenas resultados positivos. Três características, em especial, revelam a desafiante dialética do comunicacional: o O desafio do Big Data. A cultura da Humanidade torna-se assombrosamente disponível, gerando uma obesidade de informação, cujo principal produto é a ignorância informada. Disponibilidade não quer dizer acesso. Acesso não significa compreensão. E a compreensão não garante o diálogo, a convivência produtiva das diferenças. Problemas comunicacionais de diferentes níveis se superpõem, ante o oceano de conteúdos e interações (Lohr, 2012; Dumbill, 2013). o O desafio da pós-verdade. A definição de “verdade” nos ambientes virtuais tem seu sentido alterado, graças à pragmática comunicacional da repetição e da reverberação. Verdade não é o contrário de mentira, falsidade ou engano; tais noções devem ser teoricamente reposicionadas, em face da realidade que se apresenta. A nova verdade vem recebendo a denominação de “pós-verdade”, na medida em que a reiteração universal da mensagem pode produzir um efeito irresistível de crença (Roberts, 2010). o O desafio do fascismo social. Nos ambientes em contínua interação, o diálogo é substituído pela demarcação de posições, o que não seria problemático se a ideia da posição, firmemente afivelada à noção de opinião, não se contrapusesse à própria racionalidade, na medida em que esta é redefinida pragmaticamente (Santos, 2007). Nesse quadro, a violência simbólica é capilarizada na forma da radicalização da disputa de opiniões, de identidades em conflito irracional, de novas formas de
opressão, vigilância e controle, e de solidão em público (Eco, 1996). Esses componentes em conjunto liberam o fascismo social virtual.
Esse quadro caótico e mundializado constitui o contexto que, a nosso ver, revela a carência profunda de uma ciência da comunicação, que deslinde as matrizes comunicacionais da sociedade que exsurge dessa experiência e revele os conceitos e categorias capazes de não apenas descrevê-la, mas também agir sobre ela. Sob certo sentido, o mundo contemporâneo evoca a sociedade grega da antiguidade. Na Grécia antiga, a retórica era considerada uma das ciências básicas, a cujo aprendizado o jovem ateniense não poderia se furtar, sem graves consequências para sua vivência e sua convivência na cidade, já que inexistia, tanto na política, quanto nos juízos, a figura do advogado ou do representante. Naquele contexto, com a emergência dos professores de retórica, os sofistas, emergiu o grande debate sobre a verdade, como fundamento primaz da argumentação. A defesa do valor de verdade dos conteúdos retóricos, como valor argumentativo por excelência, destacou Sócrates nos seus diálogos infindáveis com os sofistas que lhes foram contemporâneos. Pois bem, vivemos uma nova fase desse tipo, magnificada pela extensão e a profundidade adquirida pelas tecnologias de comunicação e suas enormes consequências para as interações em todos os níveis. A cidadania se estendeu à universalização e as capacidades de fala tendem também à globalidade, embora os estudos demonstrem que a internet também tem suas tribos e culturas “locais”. Entretanto, a dimensão pública da manifestação virtual desafia o cotidiano daquelas pessoas que, anteriormente, apenas se relacionavam face-a-face ou ponto a ponto (pelos sistemas telefônicos ou de correios, por exemplo), e hoje estabelecem relações múltiplas e manifestam-se publicamente nas redes sociais, inclusive com conteúdos privados. É este mundo que clama, como os gregos da antiguidade, pelo aprendizado da comunicação, como pragmática fundamental para a vida. Não basta, desta vez, apenas o aprendizado do idioma e da escrita, como a escola acostumou-se a lecionar (mesmo que os livros didáticos de língua portuguesa usualmente tragam em seus títulos a palavra “comunicação”); é preciso que a comunicação emerja como conhecimento pragmático, relacional, solidário e democrático. Que se lecione a negociação de sentidos, a capacidade de ouvir – que Rubem Alves (1999), antevendo estes significados, denominou curiosamente de “escutatória”, em oposição à “oratória”.
Enfim, talvez seja o caso de considerarmos a comunicação como uma ciência básica tardia, em cujos ombros repousa o dever de desvelar os novos estágios civilizatórios.
Nome | Função no projeto | Função no Grupo | Tipo de Vínculo | Titulação Nível de Curso |
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ELIANI DE FÁTIMA COVEM QUEIROZ
Email: elianicovem@gmail.com |
Pesquisador | Pesquisador | [professor] | [doutor] |
GABRIELLA LUCCIANNI MORAIS SOUZA CALAÇA
Email: gabilutiani@hotmail.com |
Pesquisador | Pesquisador | [professor] | [mestre] |
LUCIANA HIDEMI SANTANA NOMURA
Email: profalucianahidemi@gmail.com |
Pesquisador | Pesquisador | [professor] | [doutor] |
LUIZ ANTONIO SIGNATES FREITAS
Email: signates@gmail.com |
Coordenador | Pesquisador | [externo, professor] | [doutor, doutor] |
LUIZ CARLOS DO CARMO FERNANDES
Email: lucajor@gmail.com |
Pesquisador | Pesquisador | [professor] | [doutor] |
ROGERIO PEREIRA BORGES
Email: rogeriopereiraborges@hotmail.com |
Pesquisador | Líder Adjunto | [professor] | [doutor] |