É uma pesquisa bibliográfica em torno de mulheres silenciadas pelo patriarcalismo, pela cultura e pelo androcentrismo, tanto do Antigo como do Novo Testamento. No entanto, ao ouvirem a proposta bíblica ocuparam seus espaços, falaram com coragem e compromisso e assumiram uma práxis transformadora. Duas citações são fundamentais para se entender que a presença feminina alterou o projeto patriarcalista na Bíblia: Gn 1,27c (Deus os criou homem e MULHER) e Gl 3,28c (Não há diferença entre homem e MULHER).

Contribuir com a exegese bíblica caribenha e latino-americana com esse jeito de ler e interpretar a Bíblia, a partir da leitura sociológica pelo modelo do conflito/contradição/dialético e pela leitura feminista, buscando o aprofundamento do ‘protagonismo feminino’. A partir das contradições dialéticas manifestadas no texto, na busca da compreensão da situação vital de cada mulher ou grupos femininos ver-se-á que o projeto de Deus é também feminino.

            Objetivos específicos

            *Ler, conflitualmente, cada narrativa bíblica onde é descrita a situação de alguma mulher, buscando os significados sociais, políticos, antropológicos, jurídicos, econômicos, culturais, e ideológicos frente às culturas e sociedades hebraica, grega e romana e aí perceber a força da fé pessoal e comunitária que movia, também, o gênero feminino. 

            *Ler os relatos bíblicos onde aparecem as mulheres que denunciam as estruturas injustas, as relações desiguais bem como os preconceitos sectários. Ao mesmo tempo, perceber como elas anunciam, naquelas narrativas, uma vida plena de fé e uma nova organização que deverá construir vida em comunidade.

Como estamos terminando uma pesquisa sobre Gl 3,28b que diz que, a partir de Jesus Cristo “não há mais escravo e livre”, é hora de continuar a reflexão do Hino Batismal (Gl 3,26-28), pesquisando, agora, a assertiva seguinte que diz que, a partir de Jesus Cristo “não há mais diferença entre homem e mulher”. Já trabalhamos essa temática no livro intitulado “Gálatas a Epístola da Abertura de Fronteiras” (2005). Porém, foi dentro de um contexto da civilização grega e do império romano que houve a transformação feminina, a partir dos cristianismos originários. Agora, a afirmativa “não há mais diferença entre homem e mulher” quer voltar ao Antigo Testamento colhendo as histórias de mulheres que viveram sob o jugo do patriarcalismo e submetidas ao androcentrismo implacável. Estas leituras deverão chegar a Jesus Cristo e a Paulo Apóstolo, onde a experiência da emancipação das mulheres se tornou uma realidade impar na história das civilizações.

Até os inícios dos Séc. XX, a Bíblia era lida, tantas vezes, a partir do viés masculino. Também os exegetas bíblicos, quase sempre, tinham uma visão masculina na hermenêutica da Sagrada Escritura. Além disso, também, os textos bíblicos, na sua origem, quase todos, foram escritos por homens, dentro de mentalidades e culturas patriarcalistas, androcêntricas e machistas. Com isso, a figura feminina foi amordaçada e silenciada.

            A partir da virada da metade do Séc. XX, para frente, esse tipo de leitura a partir do masculino, foi cedendo o posto para novas hermenêuticas. Com a contribuição do ‘método histórico-crítico’ revisado e ampliado, graças às leituras sociológicas dentro do modelo conflitual/contradição/dialética e, aí dentro, a ‘leitura feminista da Bíblia’, o olhar da mulher foi se manifestando e revelando. Tanto a hermenêutica se converteu como os textos bíblicos foram explicitando o que estava oculto: muitas mulheres na história de Israel e do cristianismo souberam impor a sua voz e ocuparam o seu espaço.

            Com isso, ao estudar algumas atuações de mulheres, vai se percebendo como que Yahweh, o Deus dos marginalizados/as, sempre esteve do lado da emancipação feminina, em todos os sentidos. Foram os masculinos que as silenciaram.

            Assim, olhando os relatos onde aparecem as mulheres, vendo como algumas delas reagiram à opressão patriarcalista e à cultura androcêntrica, foi se percebendo que a afirmativa de que as mulheres naquelas mentalidades eram todas passivas, inertes e sem consciência crítica, aguçou-se a ‘suspeita’ de que alguma coisa precisava ser pesquisada, acuradamente: foram muitas expressões femininas que tiveram ascendência sobre o grupo, a tribo, a comunidade maior e exerceram lideranças transformadoras.