Esta pesquisa pretende-se, em primeiro lugar, contribuir com a investigação científico-acadêmica situando o texto da narrativa do dilúvio da tradição hebraica (Gn 6-9) no arco dos debates sobre as fontes do Pentateuco. Nesse âmbito, embora os exegetas da teoria clássica das quatro fontes ou documentos coloquem o relato jahwista do dilúvio como sendo muito antigo (da época do império davídico-salomônico), é mister analisar exegeticamente o vocabulário, o estilo narrativo e a teologia do texto para melhor datá-lo. Além da datação da narrativa, a análise exegética do texto na sua versão hebraica poderá contribuir para evidenciar os procedimentos linguístico-literários dos textos bíblicos. Em segundo lugar, com a análise linguístico-exegética da narrativa do dilúvio, esta pesquisa pretende evidenciar em maior profundidade as teologias do texto e seu propósito no contexto pós-exílico de restauração de Israel. Trata-se de uma narrativa compósita, é verdade, mas que no seu conjunto termina com um cenário esperançador, pois aí o rosto de Deus se revela novamente amigável. Em tempos de injustiças, desigualdades, violências, a história de um justo que, com Deus, salva o mundo, destila uma esperança almejada e necessária e abre caminhos para uma fraternidade universal.

Objetivo Geral 

• Situar o texto de Gn 6-9 no     contexto da pesquisa sobre a formação do Pentateuco, evidenciando a     fragilidade da teoria clássica documental e propondo uma datação tardia     para a composição do texto estudado, evidenciando sua teologia no contexto     pós-exílico e sua pertinência para os tempos atuais. 

 

Objetivos específicos

• Analisar o vocabulário da     tradição sacerdotal e jahwista no relato do dilúvio; 
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• Evidenciar alguns falsos     duplicados no relato do dilúvio; 
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• Demonstrar a     fragmentariedade dos textos jahwistas para formar um relato completo; 
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• Analisar os fragmentos     jahwistas e demonstrar sua datação tardia;
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• Mostrar a relação dos     fragmentos jahwistas com o relato sacerdotal;
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• Evidenciar a teologia do     relato sacerdotal e dos fragmentos não sacerdotais no contexto pós-exílico.

Possibilitar uma compreensão profunda da teologia da aliança pós-diluviana como uma possibilidade de fraternidade universal e de respeito por toda a vida, inclusive a natureza.

Neste sentido, o problema que se coloca para esta pesquisa é: quais os critérios externos (evidências histórico-arqueológicas) e internos (elementos de vocabulário e estilo linguístico) permitem datar com uma margem de segurança a narrativa do dilúvio? A partir dessa datação, como evidenciar o ambiente sócio-político-religioso que motivou o registro de tradições orais antigas, bem como a intenção teológica para a contrução de um mundo novo? Por fim, que elementos contextuais e teológico-textuais da narrativa desencadeiam um projeto de construção societária inclusiva e respeitadora das diferenças e de cuidado com a preservação do planeta, da natureza e da vida? 

Sem responder a estas questões, respostas estas que precisam ser o resultado da pesquisa criteriosa, o relato do dilúvio corre o risco de ser um mero artefato literário de criatividade. Em nosso referencial epistemológico, os textos da tradição judaica não são mera criação literária, mas são o resultado de um trabalho coletivo, onde formas religiosas, sociais e políticas antagônicas pleiteiam e sustentam modelos societários e, em alguns casos (como  no relato do dilúvio), modelos ecológicos.