Detalhes do Projeto de Pesquisa

PSICOLOGIA SOCIOCONSTRUCIONISTA: PRÁTICAS DISCURSIVAS, IDENTIDADES SOCIAIS E SEUS EFEITOS

Dados do Projeto

282

PSICOLOGIA SOCIOCONSTRUCIONISTA: PRÁTICAS DISCURSIVAS, IDENTIDADES SOCIAIS E SEUS EFEITOS

2017/1 até 2020/1

ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E DA SAÚDE

CONSTRUÇÃO DE FATOS SOCIAIS

A construção de fatos sociais: caminhos para a compreensão de processos sociais implicados na produção de desigualdades sociais

LENISE SANTANA BORGES

Resumo do Projeto

A psicologia socioconstrucionista tem possibilitado uma reavaliação crítica dos conceitos da psicologia, como também a reconstrução de algumas das suas principais noções. A disposição para se refletir sobre a produção do conhecimento bem como a abertura para o diálogo interdisciplinar tem sido algumas de suas principais marcas. Na postura socioconstrucionista, a linguagem ocupa um lugar central na produção das identidades, se destacando como um dos modos mais expressivos e efetivos de construção de mundo. São os discursos, ou melhor as práticas discursivas no processo de interação social dialógica que irão produzir as identidades sociais. Nesse cenário de intensas transformações, a mídia tem um papel central na construção e visibilização de sujeitos e temas antes considerados tabus, sobretudo os temas relativos à produção das identidades sociais, cujas narrativas estão sempre atravessadas por marcadores como gênero, raça e as sexualidades, etc Assim, a presente pesquisa está interessada, em particular em uma discussão em duas vertentes: uma mais epistemológica na qual o foco se dirige para os discursos produzidos no campo da psicologia social de base construcionista em diálogo com outras abordagens teórico metodológicas. Algumas perguntas norteiam esse interesse: como os postulados e os conceitos da postura construcionista têm sido utilizados nas pesquisas em psicologia social? Que aproximações têm sido feitas com outras teorizações da psicologia e com outros campos do conhecimento como a teoria feminista, a teoria queer, a teoria Ator/Rede, entre outras? E uma segunda vertente cujo interesse se volta para a produção discursiva sobre as identidades sociais na prática cotidiana, e em especial nos contextos midiáticos. Esse segundo foco de interesse recai sobre as diversas formas de se falar sobre as várias identidades na mídia, em especial as narrativas sobre as identidades sociais atravessadas por gênero, classe social, orientação sexual, raça, etnia, geração, entre outros. Algumas das questões a serem estudadas: Quais repertórios sobre as diversas identidades sociais a mídia está produzindo e/ou divulgando? Que narrativas (quem fala, de onde fala, com quem fala, como fala) têm sido privilegiadas? Que formas específicas a mídia utiliza para falar sobre as identidades sociais? Elas legitimam ou desestabilizam normas sociais? Palavras-chaves: psicologia social, socioconstrucionismo, identidade, práticas discursivas, midia.

Objetivos

1.Objetivo geral: Investigar os efeitos das práticas discursivas na produção do conhecimento e na construção das identidades sociais.

Objetivos específicos: 

  • Mapear como os discursos na psicologia sócio-construcionista estão sendo incorporados na pesquisa científica, bem como as aproximações e distanciamentos com outras abordagens na psicologia e áreas afins.
  • Mapear as narrativas sobre as diversas identidades nas práticas cotidianas e na mídia
  • identificar quais são as vozes autorizadas a discutir as temáticas ligadas às identidades sociais.

d) Propor, se necessário, recomendações visando a construção de uma mídia mais sintonizada com as demandas da diversidade sexual da atualidade


Justificativa

As intensas mudanças pelas quais o mundo está passando faz com que o tema da identidade se torne tão disputado na contemporaneidade. Vários autores como ( Giddens, 2002; Giddens, Beck e Lash 1995; Bauman, 1999) chamam atenção para as transformações sociais, culturais, econômicas, política e tecnológias cujos efeitos têm sido sentidos em maior ou menor escala em comunidades locais específicas. Tais mudanças têm feito surgir novas maneiras de se viver, estilos, costumes e formas de organização social afetando a forma como compreendemos e performamos a classe social, gênero, a sexualidade, a raça, a geração, etc. ou seja, a compreensão de que temos de nós mesmos (Moita Lopes, 2003). Nesse cenário de intensas transformações, a mídia tem contribuído intensamente na construção e visibilização de temas antes considerados tabus, sobretudo os temas relativos à construção das identidades sociais, tendo em vista que as narrativas que envolvem essas identidades estão atravessadas por marcadores como gênero, raça e as sexualidades, etc. 

A visibilidade conferida pela mídia a temas e acontecimentos considerados tabus tem sido interpretada de diferentes maneiras. Como um lugar que promove e disponibiliza representações divergentes, alternativas, contraditórias bem como um lugar de reprodução e reiteração de identidades e práticas sexuais hegemônicas na medida que silencia ou exclui outras identidades e práticas. Muitos dos fatos que viram notícias circularão entre leitores/ouvintes/telespectadores/internautas contribuindo na produção de saberes e formas específicas de comunicar o que é masculino e feminino, o que é uma identidade sexual legítima ou não.

O tema das identidades não é novo na psicologia. Tanto a psicologia social quanto a sociologia têm se destacado na produção de estudos e pesquisas que tentam abarcar a complexidade desse conceito.

 Na psicologia social, referências como George Mead (1934) apoiado na corrente do Interacionismo Simbólico concebe a identidade como o resultado da relação dialética entre indivíduo e sociedade, ou seja, a identidade se dá no processo de interação entre as pessoas.  Outro autor de destaque nesse debate é Henri Tajfel (1978) cujo interesse se voltou para o estudo dos grupos (suas filiações, relações e categorizações) como centrais para a constituição da identidade. No Brasil, o estudo de Antonio Carlos Ciampa (1987) apoiado no referencial teórico do materialismo histórico dialético constitui-se como um marco teórico a criticar uma posição mais essencialista, centrada no indivíduo, enfatizando o caráter social na produção da identidade. Ciampa concebe o conceito de identidade como metamorfose, ou seja em constante transformação, ou seja, distancia-se também de uma ideia de estabilidade. Para o autor, a identidade é o resultado provisório da intersecção entre a história da pessoa, seu contexto histórico e social e seus projetos.. Nesse sentido, identidade é movimento, a partir da articulação entre igualdade e diferença. Entretanto, Spink (2004), alerta que apesar do conceito de identidade assumir um caráter mais processual, ainda carrega traços de uma concepção estruturalista, pois ao pensar a metamorfose é a mudança de A para B, ou seja, pressupões um substrato fixo. 

Na vertente sócio-construcionista, o conceito de identidade assume os contornos ecoados pelos denominados enfoques teóricos pós-modernos, cuja crítica se volta aos pressupostos da ciência moderna, sobretudo a visão positivista da ciência com sua pretensão de validade, objetividade e verdade. Na postura construcionista, a linguagem ocupa um lugar central na produção das identidades.  A linguagem se destaca como um dos modos mais expressivos e efetivos de construção de mundo. A diferença entre a pesquisa construcionista e outros tipos de pesquisa, cujo foco também recai sobre a linguagem, se dá justamente porque nela a linguagem não é mera ferramenta para exposição de idéias, pois falar equivale a construir o mundo, nossas experiências, nossas emoções. Ela se constitui como uma forma de ação no mundo. A linguagem não é a expressão de algo interno ou de um conhecimento prévio, mas faz parte de um processo dinâmico de negociação de sentidos, atualizada por interações cotidianas, e institucionalizada por meio de matrizes que lhe sustentam e legitimam. A linguagem nos constitui e são as relações sociais que marcam certas possibilidades de ser e de dizer sobre as coisas e sobre si mesmo.  São os discursos, ou melhor as práticas discursivas no processo de interação social dialógica que irão produzir as identidades sociais. A opção pelo termo práticas discursivas justifica-se, segundo Spink (2004), em função da proposta de distinguir entre dois tipos de leitura: um voltado para o cotidiano e outro direcionado para o uso institucionalizado da linguagem. Na formulação de Spink (2004, p.40), a análise das práticas discursivas deve abarcar os seguintes níveis:

(...) as maneiras pelas quais as pessoas, por meio da linguagem, produzem sentidos e posicionam-se em relações sociais cotidianas e um outro (...) para o uso institucionalizado da linguagem – quando falamos a partir de formas de falar próprias a certos domínios de saber, a Psicologia, por exemplo.


Nesse tipo de abordagem, o cotidiano assume posição de destaque, pois o interesse recai sobre a linguagem em uso, ou seja, refere-se às práticas sociais que circulam no dia-a-dia da conversação. Como afirmam Gergen e Shotter (1989) o foco se volta para os processos sociais que correm entre as pessoas nos discursos em que estão situadas. Essa forma de compreender as identidades, implica em notar que apesar do trabalho em práticas discursivas recair sobre as interações cotidianas, a noção de contexto é determinante para estudar não somente os conteúdos, mas também a forma e as circunstâncias da comunicação 

Nessa perspectiva a identidade é vista como algo mais fluído e contextual.  Nas palavras de Davies e Harré (1990, p.5), o posicionamento é “o processo discursivo através do qual os selves são situados nas conversações como participantes observáveis e subjetivamente coerentes em linhas de história conjuntamente produzidas”. A análise desenvolvida pelos autores enfatiza a força das práticas discursivas, as maneiras com as pessoas são posicionadas a partir dessas práticas e como aquilo que se chama subjetividade é gerado por aprendizagem e uso de certas práticas discursivas.  Segundo Davies e Harré (1990, p.4),

Uma posição de sujeito incorpora um repertório cognitivo, assim como uma localização para as pessoas dentro da estrutura de direitos de quem usa esse repertório. Uma vez que uma posição particular é assumida como sendo propriamente sua, a pessoa invariavelmente vê o mundo a partir do ponto de vista dessa posição e em termos de imagens, metáforas, linhas de história e conceitos que são relevantes para a prática discursiva específica na qual ela se posicionou.


Nesse sentido, as práticas discursivas produzem identidades a partir de contextos situados, atravessados por determinados marcadores sociais como: gênero, classe social, orientação sexual, raça, etnia, geração, entre outros). O poder embuído nesses discursos resulta no reconhecimento, pertencimento e legitimação de determinados sujeitos bem como na exclusão e não legitimação dos mesmos. Como aponta Foucault (2004, p.55) os discursos são atravessados por regimes de verdade, constituídos por práticas que sistematicamente “formam os objetos de que falam”, e não se reduzem a uma conjunto de signos que remetem a conteúdos ou representações. O campo discursivo, gera saberes, valores e sentidos específicos sobre os sujeitos, mostrando que os discursos são atravessados pelo binômio poder/saber. Mas, da mesma forma que as identidades são construídas para manutenção de determinados regimes de poder, elas também podem se transformar.

Psicologia Social de cunho construcionista, enquadre teórico-epistemológico que norteia este estudo, oferece inúmeras possibilidades de reflexão sobre o tema, na medida em que pressupõe que fenômenos sociais como as identidades e sua respectiva formalização conceitual não são naturais, mas, sim, construções sociais fortemente influenciadas pela linguagem social e pelo contexto que os condiciona.

Assim, interessa à presente pesquisa, em particular uma discussão em duas vertentes: uma mais epistemológica na qual o foco se dirige para os discursos produzidos no campo da psicologia social de base construcionista em diálogo com outras abordagens teórico metodológicas. Aqui algumas perguntas norteiam esse interesse: como os postulados e os conceitos da postura construcionista têm sido utilizados nas pesquisas em psicologia social? Que aproximações têm sido feitas com outras teorizações da psicologia e com outros campos do conhecimento como a teoria feminista, a teoria queer, a teoria Ator/Rede, entre outras?

E uma segunda vertente cujo interesse se volta para a produção discursiva sobre as identidades sociais na prática cotidiana, e em especial nos contextos midiáticos. Esse segundo foco de interesse recai sobre as diversas formas de se falar sobre as sexualidades e os gêneros na mídia, em especial as narrativas sobre as identidades sociais atravessadas por gênero, classe social, orientação sexual, raça, etnia, geração, entre outros. Neste estudo, pretendo analisar algumas questões: Quais repertórios sobre as diversas identidades sociais a mídia está produzindo e/ou divulgando? Que narrativas  (quem fala, de onde fala, com quem fala, como fala) têm sido privilegiadas? Que formas específicas a mídia utiliza para falar sobre as identidades sociais? Elas legitimam ou desestabilizam normas sociais? Quais?

A mídia tem sido reconhecida como um campo de destacada influência na produção e reprodução de valores e sentidos na construção das identidades sociais, seja pela introdução de temáticas até então consideradas tabus para um amplo espectro de pessoas, seja, pela forma como ela tem abordado essas temáticas. A visibilidade conferida pela mídia a temas e acontecimentos considerados tabus tem sido interpretada de diferentes maneiras. Como um lugar que promove e disponibiliza representações divergentes, alternativas, contraditórias bem como um lugar de reprodução e reiteração de identidades e práticas sexuais hegemônicas na medida que silencia ou exclui outras identidades e práticas.  Muitos dos fatos que viram notícias circularão entre leitores/ouvintes/telespectadores/internautas contribuindo na produção de saberes e formas específicas de comunicar o que é masculino e feminino, o que é uma identidade sexual/de gênero, legítima ou não. 

O presente projeto de pesquisa tem a pretensão de ser amplo o suficiente para abrigar a diversidade de pesquisas, e respectivas orientações, demandadas na linha de pesquisa Processos Psicossociais do Programa de Pós-graduação Strict Sensu em Psicologia cujo objetivo é realizar pesquisas e intervenções em processos sociais, objetivando a produção de conhecimento sobre fenômenos sociais complexos, abordados a partir do reconhecimento das diferentes modalidades do pensamento social e o estudo das relações entre o indivíduo e a sociedade, e dos processos intra e intergrupais característicos da dinâmica destas relações No decorrer dos últimos oito anos tenho coordenado o grupo de estudos Construção de Fatos Sociais (PSSP/PUC/GO) e esta pesquisa está inteiramente comprometida com as temáticas debatidas, a saber: epistemologias e metodologias na psicologia socioconstrucionista, a contribuição dos estudos midiáticos para a compreensão das violências contra as mulheres e contra o grupo LGBT,  a contribuição dos estudos sobre gênero, corpo e sexualidade para a construção de uma psicologia social crítica, os desdobramentos na formação em psicologia,  a problemática do preconceitos e das violências, e os estudos sobre gênero, corpo e sexualidade na formação em psicologia. 

No grupo de estudos temos a participação de estudantes de graduação e pós – orientandos/as de mestrado e doutorado, iniciação científica e de extensão, trabalho de conclusão de curso, além de e colaboradores/as voluntários/as individuais – cujos esforços tem têm resultado em várias frentes produtivas:  ação coletiva, publicações e outras formas de experiência acadêmica – propiciando o aprimoramento da produção de conhecimento nas interfaces da psicologia sócio-construcionista com os estudos de gênero, queer, em diversos contextos de pesquisa. De 2010 ao presente momento foram defendidas cinco dissertações de mestrado, 12 artigos de conclusão de curso e concluídas três orientações de iniciação científica e três orientações de estágio docência e uma qualificação de doutorado. Neste ano de 2017 será uma defesa de mestrado, e uma qualificação de doutorado. A primeira defesa de doutorado acontecerá no início de 2018.


Equipe do Projeto

Nome Função no projeto Função no Grupo Tipo de Vínculo Titulação
Nível de Curso
BRENO MATHEUS OLIVEIRA CARVALHO
Email: carvalhobmo@outlook.com
Pesquisador Egresso [aluno] [null]
ELIANE GONCALVES
Email: elianego@uol.com.br
Pesquisador Pesquisador Externo [externo] [doutor]
LARISSA FRAGA DE CARVALHO
Email: larissafraga16@gmail.com
Pesquisador Estudante [] []
LENISE SANTANA BORGES
Email: esinel@uol.com.br
Coordenador Líder [professor] [doutor]