Esta pesquisa é voltada para a compreensão das infâncias e adolescências pobres, a fim de identificar riscos e fatores de proteção às vulnerabilidades sociais associadas à pobreza. Esta proposta se justifica pela necessidade de se estabelecer estratégias protetivas e impulsionadoras do desenvolvimento biopsicossocial das crianças e adolescente, bem como de se buscar garantir seus direitos, principalmente estão em situação de pobreza. O estudo se embasa na Psicologia Social como campo de investigação, especificamente a Psicologia Sócio-Histórica, de Vigotski (2001, 2003, 2010). O objetivo é compreender as diversas dimensões do cotidiano e das interações entre as crianças e adolescentes pobres nas diferentes instituições em que elas circulam, apreender como a interação social e o cotidiano instituem-se fatores de proteção e/ou de risco ao pleno desenvolvimento biopsicossocial. É um estudo qualitativo, configurado como pesquisa-ação (THIOLLENT, 2009), uma vez que os campos de apreensão das informações serão os próprios espaços pelos quais as crianças e adolescentes pobres circulam. Serão utilizados como procedimentos metodológicos a observação participante, aplicação de questionários, realização de entrevistas semiestruturadas com crianças, adolescentes e respectivas famílias; e a realização de grupo focal com adolescentes e com familiares. As entrevistas serão gravadas e transcritas, para posterior análise. As análises serão no sentido de apreender os Núcleos de Significação (AGUIAR, SOARES & MACHADO, 2015), buscando compreender além daquilo que está evidente e manifesto nas falas, também o não dito, as contradições e o subtexto. Espera-se, com este estudo, desvelar as infâncias e adolescências pobres na contemporaneidade; apreender os significados e sentidos de seus cotidianos e das instituições em suas vidas; e identificar possibilidades de intervenções que se configurem protetivas, a essa população, no que diz respeito à garantia do pleno desenvolvimento biopsicossocial e à ampliação da participação social dessas pessoas e de suas famílias. Além disso, espera-se que esta pesquisa colabore na reflexão crítica da realidade de nosso país e com a elaboração e implementação de políticas públicas de prevenção e promoção de vidas saudáveis.

Objetivo Geral: Compreender como as crianças, adolescentes pobres da Região Leste de Goiânia e suas famílias percebem suas experiências subjetivas nas relações que estabelecem com as instituições que as permeiam, com suas famílias e com sociedade em geral.  

Objetivos Específicos: 

• Conhecer como são as condições objetivas de vida das crianças e adolescentes pobres e quais são as instituições pelas quais elas circulam.
• Identificar como essas crianças, adolescentes e suas famílias percebem suas experiências em relação às instituições que as atravessam (escolas formais e informais, igrejas etc.).
• Identificar fatores que atuam como promotores de proteção e desenvolvimento biopsicossocial das crianças e adolescente pobres.
• Conhecer as vulnerabilidades dessa população em seus respectivos contextos socioeconômicos.
• Mapear, observar e analisar quais instituições sociais são reconhecidas pelas crianças, adolescentes e suas famílias como determinantes em suas vidas.

        A abertura política no Brasil, nos anos de 1980, inseriu a Psicologia em uma nova dimensão de atuação na área social, tendo como principal configuração uma participação crítica e contextualizada nos problemas sociais, econômicos e culturais da sociedade brasileira. A instauração de uma psicologia social crítica, que pudesse contextualizar a realidade latino-americana e aprofundar nas análises das demandas sociais era o contexto da psicologia nesse momento. Assim a tendência dessa nova psicologia configurou-se pela compreensão da realidade social, a fim de transformá-la, ao invés da simples descrição dessa realidade. (BOCK, 2009). 

        A tendência dessa nova psicologia configurou-se pela compreensão da realidade social, a fim de transformá-la, ao invés da simples descrição dessa realidade. Com essa perspectiva, a psicologia expande as possibilidades de sua atuação nas políticas públicas e passa a auxiliar nas formulações e defesas de pautas sociais. Atualmente é notável a ampliação da inserção da psicologia nas políticas públicas com vistas à efetivação da garantia dos direitos sociais, principalmente após a promulgação da Constituição Federal (CF), no ano de 1988, e, no que se refere aos direitos das crianças e dos adolescentes, a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990. 

Dentre os direitos sociais garantidos às crianças e adolescentes brasileiros, destacam-se os de educação e de saúde, de pleno desenvolvimento biopsicossocial, de prioridade absoluta nas políticas públicas, além do direito à participação social, como pleno sujeito de direitos. Tais diretrizes impulsionaram as contribuições da psicologia, com avanços para a educação, para a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), os quais vieram atender ao clamor da sociedade, que, por meio de mobilizações sociais, denunciavam os processos dialéticos de inclusão/exclusão, em que os grupos minoritários estavam em profunda desvantagem, e que exigiam transformações. O Brasil possui marcas profundas das desigualdades sociais e econômicas que vêm se estruturando desde sua gênese política, social e demográfica como nação. Essa configuração implica em macro e micro violências cotidianas na vida de todos os brasileiros, principalmente das crianças e adolescentes, haja vista a sociedade adultocêntrica em que estamos inseridos. No caso de crianças e adolescentes pobres essa realidade é mais aviltante (TAVARES, 2014). 

        Sobretudo na infância e adolescência – fase da vida humana em que a relação com o mundo a nossa volta é fundamental para uma estruturação psicológica – é imprescindível o investimento em estudos e pesquisas que possam apreender a realidade das infâncias e adolescências pobres, identificar prováveis riscos e situações ou condições que possam protegê-las da exposição às vulnerabilidades sociais associadas à pobreza. A Psicologia Social, como campo de investigação, pode contribuir com esses estudos, uma vez que faz-se necessária uma postura crítica que compreenda a experiência dessas crianças e adolescentes no mundo contemporâneo em relação às próprias instituições (famílias, escolas, centros de convivência etc) que ajudam a dar contorno para suas vidas. 

        Tendo esse objeto, esta pesquisa pretende se aprofundar na compreensão da dinâmica de parcela da população pobre, com destaque para as crianças e adolescentes, que mantenham relação efetiva com diferentes instituições públicas e filantrópicas; e compreender como essa relação constrói fatores de proteção ou desvelam fatores de risco. Espera-se, com este estudo, contribuir com outros pesquisadores e trabalhadores sociais, dentro e fora da academia, para melhorar a articulação de projetos de cunho social, pedagógico e familiar, bem como para a formulação e implementação de políticas públicas efetivas nesse segmento. Além disso, espera-se que esta pesquisa colabore na reflexão crítica da realidade de nosso país, mais especificamente da cidade de Goiânia, e com as teorias e conhecimentos responsáveis pela compreensão da experiência de vida e vulnerabilidades de adolescentes e crianças pobres brasileiros.