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DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE UMA ESCALA DE IATROGENIA MÉDICA
2018/2 até 2021/2
ESCOLA DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA VIDA
ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS EM AMBIENTE E SAÚDE
SOCIEDADE, AMBIENTE E SAÚDE
ROGERIO JOSE DE ALMEIDA
OBJETIVO GERAL
* Desenvolver e validar uma escala de iatrogenia médica.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
* Levantar informações sociodemográficas dos médicos investigados.
* Testar a validade fatorial da escala de iatrogenia médica.
* Avaliar os escores iatrogenia com os dados sociodemográficos dos médicos pesquisados.
A objetividade científica emergiu na última metade do século XIX como um anúncio que ainda caracteriza a produção de conhecimento das ciências médicas na contemporaneidade. Hoje em dia, a medicina científica ainda se concentra mais no tratamento de doenças do que de pessoas. É preciso, antes de tudo, entender que esta ciência é influenciada por determinantes socioculturais. Como destacam Adam e Herzlich (2001, p. 7), “o estudo sociológico da medicina é uma das maneiras mais certas de se compreender o impacto que o desenvolvimento científico exerce sobre as sociedades modernas”.
A chamada Medicina Moderna chegou ao seu pleno desenvolvimento epistemológico a partir de 1910, ano em que foi publicado por Abraham Flexner o estudo Medical Education in the United States and Canada: a report to the Carnegie Foundation for the Advancement of Teaching, que ficou conhecido como o Relatório Flexner. Este é considerado o grande responsável pela mais importante reforma das escolas médicas de todos os tempos nos Estados Unidos da América (EUA), com profundas implicações e influências para a formação médica e a medicina mundial.
Pagliosa e Da Ros (2008) discorrendo sobre o relatório apontam aspectos que contribuem para uma prática médica iatrogênica: a) O ciclo clínico deve-se dar fundamentalmente no hospital, pois ali se encontra o local privilegiado para estudar as doenças; b) O estudo da medicina deve ser centrado na doença de forma individual e concreta; c) A doença é considerada um processo natural, biológico, sendo que o social, o coletivo, o público e a comunidade não contam para o ensino médico e não são considerados implicados no processo de saúde-doença.
Para Helman (2003), algumas premissas básicas da perspectiva dessa medicina são: racionalidade científica; ênfase na mensuração objetiva e numérica; ênfase em dados psicoquímicos; dualismo mente-corpo; visão das doenças como entidades; reducionismo; ênfase no indivíduo paciente, não na família ou na comunidade. São premissas que deixam de fora da análise do processo saúde-doença todos os determinantes socioculturais envolvidos no ato de adoecer.
A medicina – assim como a ciência ocidental de modo geral – está baseada na racionalidade científica, ou seja, todos os pressupostos e as hipóteses devem ser passiveis de testagem e de verificação segundo condições objetivas, empíricas e controladas. Os fenômenos relacionados à saúde e à doença só se tornam reais quando podem ser observados e medidos objetivamente segundo tais condições. (HELMAN, 2003, p. 108)
Assim, a medicina científica contemporânea ainda mantém uma caracterização baseada na experimentação empírica, na especialização do papel do médico e na busca de um saber altamente racionalizado, sofisticado e legitimado. Ao longo do tempo, relatam Adam e Herzlich (2001), conquistou plena autoridade para deliberar sobre a doença e adquiriu o monopólio de seu tratamento, base do discurso médico hegemônico.
Em sua célebre obra, O normal e o patológico, Canguilhem (2000) argumenta que a convicção da medicina em querer restaurar cientificamente o normal (saúde) é tal que acaba por anular o patológico (doença) e, principalmente, o ser humano que possui a doença. Esse fato gera uma busca incessante pelo normal, por aquilo que está padronizado nos instrumentos quantitativos para mensuração do estado de saúde das pessoas. O patológico aparece como uma variação quantitativa do parâmetro considerado ideal. Essa modificação constatada legitima a intervenção médica na atividade terapêutica e define os termos do encontro clínico entre o médico e seu paciente. Entende-se assim, que há uma relação de aproximação e distanciamento entre os conceitos.
A medicina, assim como todos os outros saberes de um modo geral, também sofre influências do contexto em que é produzida e exercida, e em alguma medida aquilo que define como suas bases e seus modos de atuação carrega sempre o peso dos padrões sociais vigentes em cada momento histórico. O que deve permanecer sempre como um elemento para discussão e reflexão é em que medida e de que forma também atualmente a produção do conhecimento e a atuação cotidiana do médico incorporam esses padrões e quais as consequências disso. (ROHDEN, 2006, p. 178).
É fato que atualmente o discurso médico segue uma tendência de centralidade em um paradigma científico de extrema racionalidade que se constitui em um modelo hegemônico. Apesar da aproximação ainda tímida da medicina com outras ciências, esta ainda carece de uma integração maior com a Sociologia, Antropologia, Psicologia, Pedagogia, filosofia, etc. Ao preferir um conhecimento válido com base em quantificações isoladas do contexto psicossocial das pessoas, a medicina perde uma chance de integração dos diversos saberes. Entretanto, há um risco crescente de fragmentação do discurso médico em função de uma hiperespecialização disciplinar e teórica. Apenas para dar um exemplo:
O médico generalista, cuja ressurreição visou compensar a hiperespecialização médica, corre o risco de ser convertido num especialista ao lado dos demais. Este efeito perverso revela que não há solução para este problema no seio do paradigma dominante e precisamente porque este último é que constitui o verdadeiro problema de que decorrem todos os outros (SANTOS, 2005, p. 75-76).
Para Morin (2005), essa fragmentação do conhecimento permite que os especialistas se isolem tornando-se experts e a terem grandes desempenhos em suas áreas de pesquisa. Essa lógica projeta sobre a sociedade e as relações humanas restrições que, por correr o risco de ser determinista, mecanicista, quantitativa, formalista, dissolve tudo o que é subjetivo, afetivo, livre e criador. Há, segundo o autor, uma separação entre a cultura humanista que nutria a inteligência geral e a cultura científica que deveria empreender uma reflexão sobre o destino humano e sobre o futuro da própria ciência.
Nesse sentido, faz-se necessário que as (os) médicas (os) visualizem a pessoa a sua frente como um ente particular com seus problemas subjetivos, no seu contexto histórico de vida, em seu ambiente e com seu estilo de vida. Em outras palavras, o enfoque primordial não deve continuar se concentrando naquilo que o paciente tem em comum com outros, que é a doença e seu protocolo terapêutico, mas nas suas peculiaridades, ou seja, na sua complexidade. Por isso, a exigência de um olhar transdisciplinar no desenvolvimento de um instrumento que possa descortinar o encontro clínico, sendo este sem iatrogenias.
Nome | Função no projeto | Função no Grupo | Tipo de Vínculo | Titulação Nível de Curso |
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ANTONIO MARCIO TEODORO CORDEIRO SILVA
Email: marciocmed@gmail.com |
Pesquisador | Líder Adjunto | [professor] | [doutor] |
ARNALDO SERGIO NERIS PEREIRA
Email: arnaldo.snp@gmail.com |
Pesquisador | Estudante | [] | [] |
FERNANDA MENDONÇA GALVÃO
Email: nanda.mdgv@gmail.com |
Pesquisador | Estudante | [] | [] |
IVONE FÉLIX DE SOUSA
Email: ivonefelixsousa@gmail.com |
Pesquisador | Pesquisador | [professor] | [mestre] |
ROGERIO JOSE DE ALMEIDA
Email: rogerioufg@hotmail.com |
Coordenador | Líder | [professor] | [doutor] |