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PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DA REGIAO SUDOESTE DE GOIÁS
2011/1 até 2027/2
ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES
PATRIMÔNIO CULTURAL
Cultura Material e paisagem
SIBELI APARECIDA VIANA
Objetivo Geral
Este projeto tem por objetivo geral entender o processo de ocupação humana na região sudoeste de Goiás, tendo como foco central a área arqueológica de Caiapônia (município de Palestina de Goiás). Numa escala mais ampla, pretende traçar análises comparativas com outras áreas da região Centro Oeste e suas inter-relações com o povoamento pré-histórico no território brasileiro.
Objetivos Específicos
Ao propormos a analise do processo de ocupação humana da região em questão, entendemos que os comportamentos humanos são de naturezas diversas onde escolhas individuais e coletivas, hierarquias em escalas diferenciadas, relações entre pessoas e grupos distintos e com o ambiente estavam integrados e em processo constantemente ativo. As expressões destes comportamentos ocorreram de formas diversas, no entanto, focamos nossa análise naquelas que fisicamente mais se preservam: cultura material lítica, cerâmica, grafismos rupestres e paisagem. Cada uma destas expressões materiais tem potencial investigativo específico que requerem objetivos e metodologias próprias, no entanto, todas se voltam em ultima instância, ao comportamento humano, seja nos seus aspectos cognitivos, pessoais e subjetivos, seja nos aspectos coletivos representados pelas relações sociais e simbólicas envolvidas e ativas entre os membros das sociedades pretéritas.
- Entender, por meio das indústrias líticas, as ocupações e povoamento pretérito dos sítios mais antigos da região e suas relações com outros sítios da região sudoeste de Goiás e do território brasileiro;
- Investigar, em termos econômicos, o papel dos artefatos líticos nas sociedades pretéritas da região e no processo de sua adaptação, ao ambiente natural;
- Investigar as relações entre os objetos líticos, o meio natural e o ambiente social, em termos não somente de adaptação para fins econômicos, mas como elemento de destaque e de motivação das relações sociais e simbólicas;
- Investigar sobre o conhecimento técnico e o saber-fazer que constituem a cadeia operatória de produção de instrumentos líticos; assim como investigar sobre a função e o funcionamento destes instrumentos;
- Em termos diacrônicos, investigar as evoluções técnicas dos artefatos líticos ao longo do tempo e identificar as diferenças e similaridades tecnológicas dos objetos líticos provenientes das duas grandes ocupações humanas presentes na região: ocupação pré-cerâmica e ceramista;
- Investigar sobre o papel da cerâmica nas sociedades pretéritas da região e no processo de adaptação econômica ao ambiente natural;
- Discutir as diferentes possibilidades de introdução da cerâmica na região;
- Buscar relações entre tecnologia cerâmica e agricultura ou cultivo incipiente de vegetais;
- Investigar sobre o conhecimento técnico dos ceramistas acerca da manipulação da argila para produção dos vasilhames;
- Obter informações científicas para explanações sobre a função e os modos de utilização dos objetos cerâmicos;
- Investigar as relações entre os objetos cerâmicos e o meio natural em termos não somente de adaptação, mas também de escolhas e interação com a paisagem.
- Finalizar o diagnóstico comparativo entre a documentação dos registros rupestres presentes no acervo da PUC Goiás/IGPA, decalques em plástico dos registros rupestres e imagens fotográficas destas manifestações rupestres, produzidos pela equipe de Schmitz;
- Análise espacial dos grafismos rupestres seguindo diferentes escalas, micro-nível (unidades gráficas), semi-micro nível (painéis rupestres do sítio), macro-nível (a arte rupestre dos vários sítios da região);
- Analisar a distribuição espacial dos abrigos rochosos com pinturas rupestres e suas possíveis relações com a paisagem de entorno e com os grafismos em si;
- Entender as representações rupestres como construtoras e modificadoras da paisagem, observando as escolhas implícitas que indivíduos e/ou grupos tiveram para expressar graficamente;
- Buscar regularidades e associações entre os grafismos rupestres do mesmo sítio e de diferentes sítios da região, procurando entender não o seu significado, mas sim o seu plano de expressão (significante), para assim se aproximar dos comportamentos simbólicos de seus autores;
- Aproximar a interpretação dos grafismos rupestres às demais manifestações arqueológicas presentes na região de estudo;
- Analisar comparativamente as diferentes manifestações arqueológicas do sudoeste de Goiás com outras regiões do Planalto Central brasileiro.
4) Evolução da Paisagem
Implantar um programa de educação patrimonial junto à comunidade local que valorize o sentimento de pertença e de identidade entre os moradores da comunidade rural de Palestina e o patrimônio arqueológico, com o objetivo de estimular a proteção e conservação dos sítios arqueológicos e alargar os sentimentos de cidadania.
Tendo por base os novos dados obtidos para a área arqueológica de Caiapônia, propomos uma breve explanação das novas problemáticas que se delinearam a partir dos primeiros resultados das pesquisas. Tais questões estão sendo construídas a partir da cultura material mais representativa nos sítios, os objetos líticos. Assim, distante da perspectiva dos primeiros arqueólogos que trabalharam na região, nossa problemática não se fundamenta na intenção final de agrupar os sítios em tradições culturais, ou seja, em tratar a cultura material como “marcadores culturais”, quando os “artefatos-tipo”, carregam como remanescentes históricos, uma identidade cronocultural própria que, na verdade, inibe questionamentos de outras naturezas (VIANA, 2011).
Sobre tais “artefatos-tipos”, trazemos como exemplo os instrumentos plano convexos, conhecidos como “lesmas” e encontrados especialmente na região de Serranópolis em contexto cronológico datado do início do final do Pleistoceno e início do Holoceno, cerca de 11.000 anos antes do presente. Estes instrumentos foram considerados marcadores culturais da Tradição Itaparica. Estudos mais recentes contrapõe esta visão e demonstram que tais objetos são portadores de histórias técnicas diversas (FOGAÇA; LOURDEAU, 2008 e LOURDEAU, 2010), denotam uma variabilidade tecno-cultural em termos de produção, função e funcionamento. Estes dados fornecem subsídios para se pensar o conhecimento técnico disponível entre os lascadores e a complexa interação dos indivíduos com seu ambiente, por meio dos instrumentos.
Para problematizar este contexto, trazemos os objetos líticos do sítio GO-CP-17. Dentre os conjuntos de tecnotipos identificados mediante análise tecnofuncional, estão presentes as referidas “lesmas”. Não podemos cair no mesmo procedimento da década de 1980, fazendo uma associação direta com a Tradição Itaparica, ao contrário, nos propusemos a “destrinchá-los”, tendo por base as concepções de investigação tecnofuncional. Assim, constatamos uma variabilidade em termos de produção e de funcionamento distinta das peças de Serranópolis. Ademais, constatamos para este mesmo sítio um conjunto de instrumentos em façonagem de seixos, muito particular e pouco registrado em outras regiões do Brasil. Tais peças agregam também outros elementos técnicos importantes, como um arredondamento dos gumes das áreas ativas dos instrumentos, decorrente de patinas mecânicas. Essa característica é particular neste tecnotipo e sugere uma cronologia bem mais remota em relação aos demais instrumentos presentes no sítio, onde se inclui dentre outros, a referidas “lesmas”.
Outra particularidade ainda para este sítio é fato dele estar inserido em afloramento rochoso, constituído por seixos de morfologias e matérias primas distintas, conforme explanado no item referente aos dados ambientais. Isso faz dele, um local de extração por ocupantes de outros sítios das redondezas, como o GO-CP-16, distante cerca de 300 metros. Essa proposição foi levantada e fundamentada pela análise técnica e comparativa da cultura material lítica do sítio GO-CP-16 e GO-CP-17 (VIANA et al, 2016). Os resultados, embora não finalizados vem demonstrando vínculos relacionais entre os dois locais. Com base nos dados disponíveis esta ligação parece bem mais estreita, tendo em vista termos evidenciado detritos de lascamento no sítio GO-CP-16 cujos traços técnicos remetem a tecnotipos localizados no sítio GO-CP-17.
Todavia, não há base, neste momento, para se falar em contemporaneidade entre sítios, tendo em vista que o sítio GO-CP-17 está em contexto de palimpsesto e sem datação. Para o sítio GO - CP-16 obtivemos várias datações que vão de 900 anos antes do presente até 2.050 anos antes do presente, portanto, inseridas no Holoceno Recente. Desse modo, nenhuma das datações atingiu a antiguidade que Schmitz e equipe obtiveram para este mesmo sítio, ou seja, de 4 mil anos antes do presente, o que equivale ao período do Holoceno médio. Para complexificar tal situação, salientamos que parte dos objetos líticos analisados deste sítio (GO-CP-16) apresentam lascas com traços técnicos de produção dos instrumentos referidos anteriormente como “lesmas”, as quais em toda a pré-história do Planalto Central brasileiro está inserida em contextos do Holoceno Inicial (GONZALES, 1996; SCHMITZ, 1987). Portanto, é urgente novas datações para o aclaramento destas problemáticas, que embasarão desdobramentos de alta significância para a compreensão não só das ocupações pretéritas da área específica de estudo, mas também em escala maior nos fluxos e refluxos ocupacionais do Planalto Central brasileiro, cujas datações mais remotas são de cerca de 25 mil anos antes do presente em Mato Grosso, sítio Santa Elina (VIALOU, 2006) e cerca de 30 mil anos antes do presente no Piauí, sítio Vale da Pedra (BOËDA et al, 2015)
Também faz parte do foco de nossas pesquisas, o destaque dado aos materiais lítico presentes nos sítios ceramistas da região de Palestina de Goiás. Em geral, os instrumentos lascados de sítios lito-cerâmicos foram ofuscados pelos aspectos morfológicos dos instrumentos polidos, todavia, pesquisas desenvolvidas pelo presente Projeto vêm demonstrando que os instrumentos lascados não só tiveram um papel de destaque na economia de grupos da região centro-oeste que conheciam a técnica da cerâmica como também demonstram que detinham conhecimentos técnicos aprimorados acerca da técnica de lascamento. Assim, tais dados vêm superando os discursos tradicionais que remetem a estes grupos pouco conhecimento técnico e mesmo falta de mestria nos procedimentos de lascamento de rochas. Ademais, as reflexões advindas destas pesquisas nos fazem pensar sobre o papel destes instrumentos nas sociedades ceramistas pretéritas, não somente em termos de economia, mas também como elemento ativo no estabelecimento das relações sociais e simbólicas daquelas sociedades (VIANA, 2016).
Os sítios da região também têm potencialidade para tratar da questão relacionada à transição do período pré-cerâmico para o ceramista, entre tais sítios destacamos novamente o GO-CP-16 por sua natureza multicomponencial, ou seja, apresentar numa mesma sequência estratigráfica materiais pré-cerâmicos, mais antigos que o pacote superior, considerado mais recente e composto por remanescentes de cerâmica e de lítico. Isso está sendo possível pela metodologia de escavação, por decapagens naturais, associada a equipamentos eletrônicos de grande capacidade de detalhamento acerca da contextualização do material nas áreas escavadas. Também contribui para esse cenário propício os atuais parâmetros metodológicos aplicados às análises dos materiais arqueológicos, em especial o cerâmico e o lítico. Essa abordagem investigativa trará contribuições de importância ímpar para o entendimento das modificações sociais e econômicas nos grupos a partir da produção da cerâmica.
Sobre os grupos ceramistas que ocuparam a região, estão situados cronologicamente num período que se inicia a cerca de 970 a.C. até cerca de 940 A.P. A presença da cerâmica leva-nos a duas considerações primeiras: ter sido introduzida a partir de contatos extra-grupais e/ou ser uma inovação local, resultado de processo de desenvolvimento interno de grupos pré-cerâmicos. Em ambos os casos, a situação é altamente complexa e carece de dados empíricos seguros e de fundamentação teórica consistente para explanar questões pertinentes a essa questão, entre elas: como estes grupos teriam respondido à esta nova realidade? Esta “resposta” pode ser percebida em quais aspectos da sociedade? Em que extensão a tecnologia cerâmica teria influenciado a tecnologia de produção de instrumentos líticos? Que conhecimentos técnicos mantiveram e quais se modificaram? E, neste processo de anuência, como a cerâmica teria se adaptado (desenvolvido) ao longo do tempo?
Tanto nos processos de inovação quanto de aquisição de conhecimento externo (empréstimo), está em jogo o “meio favorável”, definido por Leroi-Gourhan (1964), definido pelas condições em que uma novidade encontra lugar num sistema técnico pré-existente. Por um lado, este novo elemento e o conhecimento técnico disponível entre os grupos, devem estar num mesmo “nível” tecnológico, por outro, o sistema técnico local não deve estar num estado de saturação (plenitude). Estes elementos são importantes pois, existe uma tendência, ou seja, uma “rotina” e “inércia” do sistema técnico não aceitar elementos novos ao sistema tradicional (LEMONIER, 2002).
Sobre a caracterização dos paleoambientes da região de Palestina, Schmitz e equipe trabalharam com modelo em grande escala proposto por Ab’Saber (1977). Este modelo atendeu toda uma geração de pesquisadores daquela época. Todavia, cada vez mais vem se firmando a necessidade de dados regionais, focados nas áreas de estudo, tendo em vista que as variações ambientais ocorridas em pequena e média escala tem uma relação mais direta sobre as populações. Para isso, destacamos que a região de entorno dos sítios arqueológicos de Palestina de Goiás, apresentam alguns locais destacadamente favoráveis à investigação polínica, como as turfas localizadas nas imediações do sítio GO-CP-16 e GO-CP-04. Nelas foram realizadas várias coletas de sedimento para análise desta natureza e para datação. As análises estão em curso, seus resultados serão fundamentais para caracterização da evolução da paisagem ao longo do tempo.
Nas áreas de ocorrência dos cerrados, na região central do Brasil há poucos estudos palinológicos que fornecem dados importantes sobre as variações ambientais durante o Pleistoceno Tardio/Holoceno, abrangendo as regiões de Lagoa Santa/MG (PARIZZI, 1993; OLIVEIRA, 1992), da Serra do Salitre/MG (LEDRU, 1993; OLIVEIRA, 1992), Cromínia/GO (FERRAZ VICENTINI, 1993), Águas Emendadas/DF (BARBERI, 1994), Lagoa Bonita/GO (BARBERI, 2001) e bacia do rio Meia Ponte/GO (RUBIN, 2002).
Entretanto, os dados são ainda escassos para permitir uma caracterização mais abrangente sobre as variações paleoclimáticas e paleoecológicas nas terras baixas tropicais, principalmente nas áreas atualmente recobertas pelo cerrado, uma vez que em regiões como o sudoeste goiano, considerado como a área nuclear do cerrado, e o centro sul de Goiás, poucos trabalhos foram realizados.
Neste sentido, as abordagens regionais acerca do estabelecimento da evolução da paisagem, valoriza o ambiente não somente em termos de potencial de recursos disponíveis às sociedades pretéritas, mas também como locais de integração simbólica do homem com o meio.
Nome | Função no projeto | Função no Grupo | Tipo de Vínculo | Titulação Nível de Curso |
---|---|---|---|---|
CRISTIANE LORIZA DANTAS
Email: crisloriza@gmail.com |
Pesquisador | Pesquisador | [professor] | [mestre] |
JULIO CEZAR RUBIN DE RUBIN
Email: rubin@pucgoias.edu.br |
Pesquisador | Pesquisador | [professor] | [doutor] |
KATHERINE GIOVANI DE OLIVEIRA
Email: Olive.kathe@gmail.com |
Pesquisador | Estudante | [externo] | [mestre] |
MAIRA BARBERI
Email: barberimaira@gmail.com |
Pesquisador | Pesquisador | [professor] | [doutor] |
MARCOS PAULO DE MELO RAMOS
Email: argonauta128@gmail.com |
Pesquisador | Pesquisador Externo | [externo] | [mestre] |
SIBELI APARECIDA VIANA
Email: sibeli@pucgoias.edu.br |
Coordenador | Líder | [professor] | [doutor] |
WILIAN VAZ SILVA
Email: herpetovaz@gmail.com |
Pesquisador | Pesquisador | [professor] | [doutor] |