Esta pesquisa pretende evidenciar os elementos que demarcam estruturas urbanas contemporâneas na cidade de Goiânia. Desde os anos 1970, com a expansão urbana e o adensamento, a ocupação urbana está vinculada ao espraiamento, à fragmentação e à dispersão. Aspectos como verticalização, apropriação e valorização dos espaços verdes, espaços em estado de obsolescência, formação de novos bairros, entre outros, reforçam as transformações desde o Plano de Desenvolvimento Integrado (PDIG) de 1975. Além da análise morfológica, deve-se considerar também os aspectos legislativos que incentivaram, nas áreas periféricas, a formação de novas centralidades bem como os Planos Diretores subsequentes: 1992 e 2007, vigente atualmente. A partir do mapeamento dos fragmentos urbanos, busca-se evidenciar os momentos de transformação e analisar quais relações e fatores influenciam na produção do espaço urbano, visando diagnosticar as características da cidade de Goiânia nas discussões dos estudos urbanos.

A revolução informacional e os arranjos econômicos do capitalismo tardio vislumbram novos conceitos e abordagens referentes à ocupação urbana e territorial, especialmente voltadas para as cidades que concentram fluxos informacionais e atividades altamente especializadas (CASTELLS, 1999; SASSEN, 1991). Sob esse aspecto, constata-se que as cidades perdem suas características tradicionais: a intensidade das transformações se aceleram, a expansão sobre o território e as técnicas mais complexas superam a simples dicotomia campo-cidade, centro-periferia. Em consequência, as características detectadas ao longo da história das cidades já não são mais capazes de designar e/ou denominar esse processo. Com isso, as grandes aglomerações urbanas, onde se concentram tais fenômenos, passam a ser conhecidas pela conturbação, alta concentração populacional e papel estratégico numa rede de cidades, seja de abrangência regional, nacional ou mundial. Fatores que indicam uma nova condição urbana e implicam em uma agenda de pesquisa para os estudos urbanos.

A partir das mudanças percebidas nas cidades a partir dos anos 1960, tornou-se recorrente analisar os fenômenos de suburbanização, espraiamento, fragmentação, dispersão e metropolização para evidenciar a condição urbana contemporânea. esta se caracteriza por diversos fenômenos que incidem no espaço urbanizado, mas que ainda não afere um termo ou conceito único, uma vez que há uma mudança em curso dos processos cristalizados e que permitiam a afirmação e caracterização da cidade moderna. Ao contrário, a cidade contemporânea ou seus fragmentos apontam para uma agenda de pesquisa acerca da sua própria condição. Isso devido às mudanças cada vez mais aceleradas que promovem a destruição criativa. 

Entende-se como condição urbana contemporânea[1] a consolidação de novos arranjos espaciais e que se caracterizam por uma série de “arquipélagos” que conformam o continuum espacial, cartografando uma rede de configurações espaciais vinculadas a fenômenos políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais. 

A partir da constatação das transformações e da fragmentação de Goiânia e seu relevante papel no eixo Goiânia-Anápolis-Brasília, busca-se identificar a nível intra-urbano os elementos que demarcam espacialmente a fragmentação do território; e, a nível, interurbano sua inserção na rede urbana. Para tanto, é necessário identificar os fenômenos que conformam essas transformações morfológicas por meio de mapeamentos temáticos.

A partir das discussões teóricas de Soja (2000); Francesc Muñoz (2008); Solá-Morales (1996); Koolhaas (1995; 2001a; 2001b; 2002 e 2004) e Secchi (2006; 2009), busca-se identificar as características da condição urbana contemporânea e, consequentemente, atestar as alterações de ocupação do território e os fenômenos recorrentes desse processo. Observar de que modo esses processos ocorrem em Goiânia é o objetivo desta pesquisa.

A partir das questões mencionadas, a presente pesquisa possui os seguintes objetivos específicos:

1. Caracterização de Goiânia no debate da condição urbana contemporânea conforme os autores selecionados;
2. Compreensão da inserção de Goiânia e seu papel na rede urbana da Região Metropolitana de Goiânia;
3. Análise e cartografia por meio de diagramas analíticos da estrutura intraurbana da cidade;
4. Análise do papel dos instrumentos legislativos na reestruturação urbana da cidade desde meados dos anos 1970;
5. Mapeamento dos elementos denominados por fragmentos como resultado da atuação político-institucional; econômico-fundiária e socioespacial do espaço intraurbano;
6. Elaboração de um diagnóstico que constate os processos de reestruturação urbana e reflexões de ordenamento territorial.

A caracterização dos fenômenos socioespacial, político-institucional e econômico-fundiário (MARX, 1999) permite mapear os diversos processos de reestruturação urbana tendo em vista: os aspectos legislativos e a estruturação do sistema viário; elementos morfológicos de grande escala: hipermercados, shopping centers; parques urbanos; centros comerciais e institucionais e edifícios em altura como aspectos do mercado imobiliário; a localização das classes sociais e sua apropriação dos espaços públicos locais. Tais aspectos permitem identificar a atuação de cada agente na produção do espaço metropolitano. 

Também busca-se identificar as escalas que interferem na organização do espaço intraurbano e interurbano, por meio da análise morfológica com ênfase aos elementos que desarticulam ou incitam o espraiamento urbano. Com isso, elaborar-se-á um diagnóstico dos processos de destruição criativa e as possibilidades de reordenamento territorial.

O projeto de pesquisa Condição Urbana Contemporânea em Goiânia, conforme seus objetivos, busca mapear e cartografar as transformações da paisagem urbana de Goiânia, enaltecendo os agentes produtores do espaço, os instrumentos de planejamento urbano, em especial, os Planos de Diretores, sendo instrumentos de análise a fim de verificar suas consequências na produção do espaço urbano. 

A produção de uma cartografia da história urbana da cidade a partir dos anos 1970 tem sido desenvolvida com ampla participação de estudantes de iniciação científica. Verificou-se ao longo da pesquisa e levantamento de dados, a necessidade de registrar e mapear a dinâmica urbana de Goiânia. Isso se justifica uma vez constatado que os estudos acerca da nova capital concentram-se em sua origem e conformação urbana das décadas de 1940 a 1960. 

Poucos estudos têm dedicado a compreender os processos de transformação da paisagem urbana, notadamente com ênfase em sua expansão e fragmentação. Desse modo, a compreensão da atual dinâmica urbana prescinde compreender as mudanças aferidas ao espaço urbano nas últimas quatro décadas. A partir dessa análise, pode-se construir uma história urbana a partir da cartografia, ou seja, a produção de mapas que contribuíram na leitura dos processos de fragmentação do território, a formação da Região Metropolitana e de que modo a produção do espaço urbana está vinculada aos agentes produtores do espaço urbano.