Detalhes do Projeto de Pesquisa

DE BRANCA DE NEVE À MOANA (1937 - 2017): UM OLHAR INTERSECCIONAL SOB A CONSTRUÇÃO IMAGÉTICA E CULTURAL DAS PRINCESAS QUE COMPÕEM A FRANQUIA DE MÍDIA DISNEY PRINCESS

Dados do Projeto

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DE BRANCA DE NEVE À MOANA (1937 - 2017): UM OLHAR INTERSECCIONAL SOB A CONSTRUÇÃO IMAGÉTICA E CULTURAL DAS PRINCESAS QUE COMPÕEM A FRANQUIA DE MÍDIA DISNEY PRINCESS

2019/2 até 2021/2

ESCOLA DE DIREITO, NEGÓCIOS E COMUNICAÇÃO

COMUNICAÇÃO, CULTURA DIGITAL E VISUALIDADES

Comunicação, Cultura Digital e Visualidades

PATRICIA QUITERO ROSENZWEIG

Resumo do Projeto

A presente pesquisa visa aprofundar os estudos sobre as visualidades fílmicas produzidas no período de 1937 a 2017 pela Walt Disney Studios enfatizando a representação e identidade cultural das personagens princesas explorada visual e, comercialmente, pela franquia de mídia ¿Disney Princess¿. Os filmes Disney fornecem um espaço visual de fantasia, meticulosamente calculado, assim, mostra-se emergencial lançar um olhar critico aos modelos de feminino idealizado nas produções e os reflexos e implicações destas representações no comportamento das crianças, jovens e adultas do gênero feminino na contemporaneidade. Assim este projeto de pesquisa, que se propõe, interdisciplinar e interinstitucional, visa avançar reflexivamente sob as teorizações de Disneyzação da Cultura (GIROUX, 1995) e Cultura do Consumo (SLATER, 2002). As análises propostas serão metodologicamente, trabalhadas a partir dos preceitos técnicos analíticos de Jullier Laurent e Michel Marie (2009), aliada as Análise de Conteúdo de Laurence Bardin (2009), e as práticas hermenêuticas fundamentada pela Interseccionalidade proposta por Judith Butler (2003) e Kathy Davis (2008) delineadas, epistemologicamente, pelo pós-estruturalismo feminista. Palavras-chave:1. Comunicação 2. Cultura Visual; 3. Interseccionalidade; 4. Disneyzação; 5. Cultura do Consumo

Objetivos

        Inserido no contexto da cultura visual, este projeto de pesquisa prioriza o estudo das práticas comunicativas presentes nas visualidades fílmicas voltadas para o entretenimento e a sociabilidade na contemporaneidade. A demanda deste projeto de pesquisa surge como aporte ao desenvolvimento de um estudo analítico e interseccional, primordialmente, formado pelo material fílmico produzido pela Walt Disney Studios no período de 1937 a 2017 tendo, portanto, como objetivo geral: estudar a filmografia oficial das princesas Disney percorrendo 80 anos de visualidades – de Branca de Neve (1937) à Moana (2017). 


        Por meio de análises: visuais e discursivas é possível identificar as relações comportamentais humanas expostas nas narrativas que envolvem as questões do feminino. Interessam a esse estudo, todas as visualidades, ações e discursos ligados, direta ou indiretamente à interseccionalidade, bem como o reflexo dessas imagens no comportamento feminino: meninas, adolescentes, jovens e mulheres adultas (mães ou não).


        É importante pontuar que a análise fílmica constitui parte integrante de um estudo de arte e cultura visual mais amplo, com vistas à colaboração do desenvolvimento pessoal e a contribuição para a sociedade da informação e do conhecimento. O fruto dessas análises, adicionada a proposição doutoral da coordenadora deste projeto de pesquisa resultará em uma proposta poética que entrelaçará essa subjetividade em três dimensões: a dimensão simbólica cultural de representação, a dimensão do imaginário das relações cognitivas e a dimensão do real, relacionando o ser com o significante, a imagem e o objeto refletindo poeticamente sobre os modelos de feminilidades de princesas Disney.


        São objetivos específicos deste projeto: 


– Contribuir para o enriquecimento do debate teórico, epistemológico e metodológico da Publicidade e Propaganda, levantando questões pertinentes a respeito das práticas e visualidades femininas;

– Aplicar novas metodologias de pesquisa em Publicidade e Propaganda, que possam servir de modelos para investigações futuras.

– Contribuir para os estudos no âmbito do Observatório de Mídia Escola de Comunicação da PUC Goiás, assim como para os grupos de pesquisa e linhas de pesquisa da ECOM da PUC Goiás.

– Apresentar os resultados da pesquisa por meio de publicações em congressos da área, com a participação de docentes e discentes envolvidos.

– Produzir reflexões em forma de artigos, capítulos de livros e outros textos sobre a pesquisa, em parceria com professores da ECOM da PUC Goiás, alunos deIniciação Científica e colegas de outras instituições, contribuindo para a produção científica de todos os envolvidos.

– Orientar os alunos de Iniciação Científica no desenvolvimento do projeto.

– Participar do Congresso de Ciência e Tecnologia da PUC Goiás, Simpósios de Pesquisa em Comunicação da PUC Goiás, Eventos de Comunicação e de Cultura Visual em âmbito nacional e internacional.

Justificativa

        Para Bettelheim (2007, p. 26), “A questão para a criança/adolescente não é ser boa, mas refere-se ao fato de com quem quer parecer? A criança decide isto se projetando calorosamente num personagem”. Por exemplo, ao assistir um filme da Disney na qual a princesa idealiza um amor romântico, sonha com um príncipe encantado, rodeada por luxo, riqueza e futilidades sob a égide de um sistema patriarcal, mesmo inconscientemente, essa criança procurará reproduzir tais comportamentos na vida real. Assim como, deverá absorve comportamentos e atos heróicos e de bondade, que também serão reproduzidos. Assim, porque não associar essas imagens à exploração comercial de bens de consumo da marca legitimando de forma imperativa esses produtos culturais hipervisibilizando essas visualidades na internet? A franquia Disney Princess tem feito isso com muita propriedade desde a virada do século XXI quando foi lançada, já prenunciando a quarta onda feminista[1]


        A jornalista Peggy Oresteinem um artigo de opinião no The New York Times Magazine intitulado: “What´s wrong with Cinderella[2]” tematiza questões como a autoestima das jovens, sexualização da infância e, em particular, fala de heteronormatividade e de como cultura das princesas é disseminada para as jovens. O assunto teve tanta repercussão que foi aprofundado pela autora em 2011 se tornando bestseller. A obra Cinderell aeat my daughter” investiga o ideal feminino proposto na cinematografia além de observar o caráter universal das mercadorias da franquia e da verificação de que todas as facetas do jogo têm a sua princesa equivalente. 


        Entre outros fatores, a jornalista e escritora aponta o complexo industrial de exploração das imagens das princesas por meio de manobras de marketing que utilizam o imaginário infantil das crianças para gerir mais de 26 mil itens associados às beldades ‘reais’ da Disney no mercado: de bonecas, fantasias, acessórios, jogos, brinquedos, pelúcias a itens escolares, como cadernos, estojos, lápis e mochilas que são comercializados em grande escala e com uma variedade de preço que propicia a aquisição por crianças de todas as classes sociais. Inicialmente, o que parecia um absurdo até para a equipe de produção cinematográfica, que a principio não acreditava no sucesso da franquia, se transformou em quatro bilhões de dólares no ano de 2009 e a Disney Princess se tornou a mais bem sucedida franquia de mídia do planeta. 


        A franquia explora imagética e comercialmente onze personagens femininas que são, oficialmente, coroadas pela franquia. Importante pontuar que, atualmente 12 princesas fazem parte da Disney Princess. Embora a Princesa Anna e sua irmã, rainha Elsa do filme Frozen, e a mais recente princesa - Moana tenham suas imagens amplamente exploradas pela franquia, ainda não foram coroadas oficialmente. Outro fato importante relaciona-se com a princesa Rapunzel, (Enrolados (2011) e Enrolados Outra Vez (2017)). Atualmente, a princesa mais desejada pelo público infantil, os produtos da franquia que carregam sua imagem tem obtido o maior desempenho de vendas. É importante pontuar que cabe ao departamento de marketing da Disney Princess incluir e excluir as princesas da franquia e o investimento na imagem das personagens varia conforme o desempenho de vendas dos produtos e aceitação do seu perfil da princesa pelo público.


        Nas redes sociais, geridas pela Franquia Disney Princess, percebe-se uma preocupação com o estabelecimento de vínculos emocionais com as fãs da marca, sobretudo das princesas, entendidas neste contexto como um ‘produto midiático’. Uma das estratégias comerciais orquestradaspela Disney, que demonstra de forma clara que suas representações imagéticas fílmicassão artefatos culturais que compõem um grande pacote multimídia de consumo cultural, é a narrativa transmídia[3] - na pratica, trata-se da apropriação das imagens cinéticas com vistas à ampliação, expansão de conteúdos e criação de novos enredos historicos a novos públicos, disseminados, cultural e midiaticamente nas plataformas sociais da internet[4], via streaming etc. Essa “estratégia” – sob a ótica das relações de consumo e globalização – permite a hipervisibilidade imagética expondo-as no ‘templo do exibicionismo’[5].Nessa perspectiva, a associação do aspecto visual propostas através das imagens audiovisuais cinéticas e utilizadas transmidiaticamente na internet, oferecem uma proximidade dos sentidos que não pode ser rivalizada pela mídia impressa: ele é o próprio elemento que torna a visibilidade de todos os tipos diferente dos textos (MIRZOEFF apud SABAT, 2001,grifonosso). 


        Assim, entrelaçadas aos outros estímulos sensoriais, devem ser pensadas considerando sua relação com a narrativa e com as formas de representação, sobretudo o que tange a representação do gênero feminino das personagens de princesas que protagonizam a narrativa. 


        Deflagrar reflexões sobre como o cinema, através dos textos fílmicos (imagem/texto) constroem visualidades e constitui as subjetividades do homem contemporâneo se faz necessário em um mundo constituído por identidades cada dia mais fragilizado pela efemeridade das coisas. Através de uma essência dinâmica (textual, imagética e sonora) típica da contemporaneidade, imagens povoam os imaginários, questionam padrões comportamentais, reforçam posturas e acabam por contribuir, para a preservação ou conservação de práticas e costumes e, paralelamente, colocam em discussão temas sociais relevantes a serem discutidos pela sociedade.  

        

[1]EBERSOL, Kaitlin (2014). How fourth wave feminism is changing Disney’s princesses  explica como a Disney vem moldando as visualidades das princesas de acordo com as ondas do feminismo. Artigo de opinião http://www.highbrowmagazine.com/4388-how-fourth-wave-feminism-changing-disney-s-princesses acesso em 11/02/2019

[2]ORESTEIN, Peggy“ What´s wrong with Cinderella <https://www.nytimes.com/2006/12/24/magazine/24princess.t.html>acessoem 11/02/2019

[3]O termo transmídia foi citado pela primeira vez pelo professor MarshaKinder, da Universityof Southern California (EUA), em 1991. Porém, em 2003, o professor, Henry Jenkins do MIT - Massachusetts Instituteof Technology - publicou um artigo na revista Technology Review, onde mencionava projetos com a narrativa transmídia. Mais adiante, em seu livro intitulado Cultura da Convergência, Jenkins define a narrativa transmídia como “[...] uma nova estética que surgiu em resposta à convergência das mídias – uma estética que faz novas exigências aos consumidores e depende da participação ativa de comunidades de conhecimento”. (JENKINS: 2009, p.49). A partir daí, vários estudos surgiram em diferentes partes do mundo sobre o processo comunicacional e interativo da narrativa transmídia enquanto construtora de histórias para multiplataformas, pois se trata de um conceito em constante processo de evolução e adaptação no cenário de produção audiovisual. Sendo assim, não há uma verdade absoluta sobre o tema e ainda persistem muitas discussões sobre sua usabilidade e aplicabilidade no meio comunicacional.

[4]AndrewKeen (2012, p. 87) destaca que as mídias sociais não tem objetivo de promover a união das sociedades por meio das tecnologias, mas favorecer que marcas e empresas tenham acesso às pessoas, ou seja, ao invés de sermos usuários das redes, somos, em realidade, seu produto.

[5] Para Keen apud Abreu (2015) as redes sociais estão se tornando templo de exibicionismo, onde as identidades estão atreladas demais à própria imagem para perceberem que se tornaram mercadorias da indústria cultural.

Equipe do Projeto

Nome Função no projeto Função no Grupo Tipo de Vínculo Titulação
Nível de Curso
MURILO GABRIEL BERARDO BUENO
Email: murilobuenomestre@gmail.com
Pesquisador Pesquisador [professor] [doutor]
PATRICIA QUITERO ROSENZWEIG
Email: patriciaquitero@gmail.com
Coordenador Pesquisador [professor] [doutor]