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O TRABALHO QUE CONSTRÓI IDENTIDADE, INCLUI E TAMBÉM ADOECE
2015/1 até 2020/1
ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E DA SAÚDE
PSICOLOGIA, ORGANIZAÇÕES, TRABALHO E SAÚDE
Psicodinâmica e clínica do trabalho
KATIA BARBOSA MACEDO
Como são articulados o sofrimento psíquico dos participantes e as condições de trabalho/ sociais que os produziram em cada contexto pesquisado?
O trabalho ocupa um lugar central na vida de quem o realiza. Para embasar esse entendimento, ressalta-se, entre outros fatores, o trabalho como fator de realização pessoal, inerente à condição humana, como algo positivo. O trabalho como construtor de identidade. Conforme argumentam Barros et al. (2002), complementando os fatores anteriores, também deve ser destacado o fato de o trabalho constituir, sobretudo, uma esfera importante para a auto-realização e o fortalecimento da auto-estima nas pessoas. Pois,
É no trabalho que se encontram elementos que vão participar da construção de uma identidade coletiva e pessoal, tanto pela relação com o espaço (trajetos cotidianos, lugar de trabalho) e o tempo (horário, turno) quanto, fundamentalmente, pelo sentimento de participar de um grupo, de uma cultura. (Barros et al., 2002, p.327)
Portanto, nessa visão, o trabalho engloba duas conotações: uma de ordem individual e outra de ordem coletiva. A primeira considera o trabalho como fator de realização pessoal, algo positivo, o trabalho dignificante, enobrecedor e engrandecedor do ser humano. Conforme complementa Dejours (1994), o trabalho significa para o trabalhador uma forma de afirmar sua identidade por meio de atribuições individuais inseridas por ele na realização da tarefa.
A essa concepção se contrapõem os fundamentos em que se apóia o capitalismo, pois, nesse sistema, o trabalhador, trabalhando para outra pessoa, aliena-se em relação ao seu próprio trabalho e, ao mesmo tempo, em relação a si mesmo. Ele perde sua identidade humana, pois seu trabalho não lhe pertence, sendo algo externo a si mesmo. É o que Marx denominou de alienação.
No aspecto coletivo, o trabalho é visto como fator de desenvolvimento, de crescimento e de progresso. Portanto, o trabalho, além de ser um meio de subsistência, também é um meio de integração social, possibilitando o relacionamento entre pessoas, a inclusão social e o sentimento de pertencer a um grupo.
Pode-se concluir que o trabalho é um elemento integrante da vida das pessoas, seja ou não na sua forma assalariada, pois em nossa sociedade o trabalho é que possibilita a construção de uma identidade, não só profissional como também pessoal, além de ser meio de reconhecimento e de valorização social.
Apesar da centralidade do trabalho em nossa vida atualmente, e dos aspectos acima mencionados de sua importância para a construção de nosso identidade e inclusão social, o trabalho, principalmente com as novas formas de gestão, possui uma face perversa, que se expressa em números alarmantes de acidentes de trabalho e adoecimento a partir do trabalho.
Para a OMS (2009), “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença”.
E ainda, “ Saúde mental é o equilíbrio da personalidade considerada na sua globalidade bio- psicossocial. A capacidade de pensar, se adaptar à realidade, capacidade de desempenhar funções sociais, a capacidade de lidar com a maior parte dos problemas do cotidiano. As perturbações mentais são doenças caracterizadas por perturbações de ordem emocional, cognitiva e comportamental.”
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2009) indicam que 170 milhões de trabalhadores sofrem males associados ao trabalho; 160 milhões apresentam doenças profissionais.Pelo menos 2,2 milhões de indivíduos morrem por ano em decorrência de doenças laborais e acidentes provocados pelas más condições de trabalho .Entre as enfermidades estão transtornos mentais (como depressão , ansiedade e síndrome do pânico), distúrbios osteo-musculares (caso da Lesão por Esforço Repetitivo , a LER), cardiopatias , dores crônicas e problemas circulatórios .
No Brasil, ocorrem 390 mil acidentes de trabalho, desses, 12 mil deixam as pessoas incapacitadas para o trabalho permanentemente, havendo 7 a 8 mortes por dia.
Com base nesses dados, torna-se importante nos debruçarmos para pesquisar e analisar como essa iatrogenia poderia ser evitada ou minimizada, tendo em vista nossa principal tarefa enquanto psicólogos, que é a promoção de ações que promovam a qualidade de vida no trabalho e previna doenças.
No Brasil, foi a partir da década de 1980 que os estudos abordando especificamente o assunto começaram a ser realizados. Apesar dos avanços da discussão ocorridos, principalmente nos últimos 20 anos, ainda existem importantes lacunas na compreensão das relações entre trabalho e saúde mental, que limitam e criam impasses ainda não resolvidos, para, por exemplo, a atenção à saúde nos serviços que atendem os trabalhadores. Basta lembrar as dificuldades para o estabelecimento do nexo causal entre trabalho e saúde mental, que é uma questão ainda não devidamente resolvida e que limita a atividade dos profissionais de saúde, que atuam nos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador, nos ambulatórios de doenças do trabalho dos hospitais universitários e nas Unidades Básicas de Saúde. Estes campos e práticas profissionais ainda precisam ser amplamente investigados, fortalecendo assim, a tendência de usar a Psicodinâmica enquanto uma clinica do trabalho aplicada a gestão da organização do trabalho e às ações e políticas públicas de prevenção de doenças mentais ocupacionais.
Neste sentido, este projeto se justifica e se mostra relevante para o percurso que estas práticas clínicas vêm trilhando. As várias experiências realizadas até hoje por pesquisadores brasileiros utilizando este método, indicam que o método permite não apenas produzir uma investigação e, portanto, novos conhecimentos, mas, também, revela-se um importante instrumento para a intervenção, para prevenção e para a transformação de processos de trabalho agressivos à saúde psíquica. Neste sentido, buscar consolidar as pesquisas em clinica do trabalho é utilizar o conhecimento científico como possibilidade de assegurar a perspectiva transformadora, conforme os objetivos propostos neste projeto de a epistemologia, as condições e efeitos da prática da clinica do trabalho.
Nome | Função no projeto | Função no Grupo | Tipo de Vínculo | Titulação Nível de Curso |
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CAROLINA MARTINS DOS SANTOS
Email: camasapsi@hotmail.com |
Pesquisador | Estudante | [aluno] | [null] |
FERNANDO MACHADO DOS SANTOS
Email: fernando.qi@hotmail.com |
Pesquisador | Estudante | [professor] | [mestre] |
KATIA BARBOSA MACEDO
Email: katiabarbosamacedo@gmail.com |
Coordenador | Pesquisador | [professor] | [doutor] |
LETICIA DE AZAMBUJA FREITAS
Email: leticiaafpsi@gmail.com |
Pesquisador | Estudante | [] | [] |
MARIA PAULA DE MORAES JARDIM
Email: mpmj@uol.com.br |
Pesquisador | Estudante | [aluno] | [null] |
SIMONE MARIA MOURA MESQUITA
Email: sihoedu@yahoo.com.br |
Pesquisador | Pesquisador Externo | [externo] | [doutor] |