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MUDANÇAS ESTRUTURAIS NO JORNALISMO E O IMPACTO SOCIAL DAS FAKES NEWS NO DISCURSO JORNALÍSTICO: UMA PROPOSTA PARA A EDUCAÇÃO PARA AS MÍDIAS DIGITAIS
2019/2 até 2022/1
ESCOLA DE DIREITO, NEGÓCIOS E COMUNICAÇÃO
COM.SENTIDO
Comunicação, Produção de Sentidos e Representações Sociais
NOÊMIA FÉLIX DA SILVA
Objetivo Geral:
a) compreender o impacto das fake news na sociedade e no discurso jornalístico para elaboração de uma proposta educativa para as mídias digitais.
Objetivos Específicos:
a) realizar ampla discussão sobre o arcabouço teórico e metodológico sobre os teóricos da pesquisa como convergência digital, o impacto das mudanças estruturais no jornalismo, discurso jornalísticos, relações de saber-poder e o campo midiático, entre outros;
b) estabelecer a partir da metodologia um ferramental de pesquisa em mídias digitais para coleta e tabulação do corpus da pesquisa na internet;
c) realizar na análise de conteúdo e discursiva como as fake news tem impactado a sociedade e o campo jornalístico;
d) identificar a contribuição do jornalismo para o combate das fake news;
e) elaborar uma proposta de intervenção social educativa para as mídias digitais e jornalismo.
As mídias digitais são um fenômeno comunicacional e ganhou uma dimensão de grandes proporções na vida cotidiana, possibilitado pelo acesso massivo do público ao celular. Estas mesmas mídias digitais vem sendo o palco para a propagação e a distribuição de fake news de toda natureza e temas na atualidade. Boatos circularam na rede, pessoas são denegridas, imagens desconstruídas, mentiras distribuídas como sendo verdades. Assistimos nos telejornais e nos veículos de mídia, os desmentidos de dezenas de informações falsas criadas contra candidatos nas eleições presidências tanto as americanas (2016), como no Brasil (2018). Numa clara guerrilha informativa e midiática tendo como munição as fake news circulando nas mídias digitais sociais e em dezenas de sites e blogs construídos com o objetivo estratégico de disputa de poder.
Mas este fenômeno não se restringe apenas à área política em momentos de disputa eleitoral ou fora dele. No ano passado, o Ministério da Saúde identificou mais de 185 focos de fake news que podem estar impactando a saúde coletiva no Brasil. A quantidade de informação suspeita é tanta que o Ministério criou um serviço de comunicação para fazer a verificação destas informações. Para se ter uma noção, uma equipe de profissionais do ministério monitora 7 mil publicações diariamente em busca de fake news. E em março de março de 2018, criou um canal no WhatsApp para receber consultas de cidadãos para a confirmação se são verdadeiras determinadas informações e notícias divulgadas nas mídias digitais e na internet. O serviço consiste em verificar a veracidade da informação e devolve-la ao usuário com um dos dois selos: sendo falsa (Ministério da Saúde adverte: isto é fake news! Não divulgue) e, sendo verdadeira (Ministério da Saúde adverte: esta notícia é verdadeira. Compartilhe!). E em apenas um mês de existência, o WhatsApp do ministério, que funciona como um fact-checking[1], já recebeu 1.597 consultas, das quais 310 traziam publicações identificadas como fake news. Além de textos com erros e links de notícias falsas, estão entre as mensagens fraudulentas, áudios enviados por alguém se passando por médico ou enfermeiro e divulgando informações sem embasamento (Ministério da Saúde, 2018).
Na lista de fake news sobre saúde analisadas pelo ministério estão supostos alimentos "milagrosos" contra doenças, falsa cura para o diabetes e formas bizarras de transmissão de HIV, como o consumo de bananas contaminadas. A campeã de boatos são as vacinas e os processos de vacinação. Circulam na rede supostas relação de vacinas com doenças como autismos e outras. Estas informações fazem parte de um movimento crescente contra a imunização em massa e tem se popularizado nas mídias digitais como um fenômeno social anti-vacinas. Acredita-se que este seja um dos fatores que tem levado a redução da vacinação das crianças pelos pais. A redução da vacinação não é um fenômeno exclusivo do Brasil. A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem alertado que a diminuição da rede de proteção vacinal tem possibilitado o retorno de epidemias como o sarampo que teve, em 2017, um aumento de 400% de casos só na Europa. Os 53 países europeus registraram 21.315 casos de sarampo, sendo que 35 deles resultaram em morte. Em 2018, no Brasil tivemos 14 mortes e 2.564 casos confirmados só de sarampo. Não se pode fazer uma correlação clara entre informações falsas e boatos e a diminuição da vacinação, no entanto, algo está minando a rede de imunização, pois muitos pais não estão levando mais o seus filhos para vacinarem e rompendo o cordão de proteção pelas vacinas. No entanto, o Ministério da Saúde tem atuado fortemente no combate destas informações falsas por achar que há uma correlação.
Deste modo, estamos vivenciando na atualidade a disseminação de conteúdos na internet, que carregam estratégias de poder-saber e de resistências em vários âmbitos sociais. Por isso, a importância de se perceber como esses fenômenos vêm sendo abordados nos processos comunicacionais digitais e no jornalismo. Qual o impacto que as mudanças estruturais com a convergência digital têm gerado na forma de consumirmos e produzirmos notícias? E ainda, qual a contribuição que o jornalismo pode dar à sociedade para compreender estes fenômenos e até mesmo minimizar os impactos nefastos decorrentes das fake news. E ainda, como a academia pode contribuir com a comunidade criando um processo educativo que possibilite uma visão critica sobre as informações que circulam na rede.
[1] Este termo teve origem do fenômeno atual do fact checking na web originou-se na imprensa anglo-saxã com o estabelecimento do site sem fins lucrativos, utilizados pelos leitores para verificar se uma informação ou notícia é falsa, diante da popularização das fake news no mundo todo. Desta forma, se tornou um hábito checar em sites de confiança e até mesmo nos sites de fact checking se a notícias é falsa ou verdadeira. Nos Estados Unidos o fenômeno adquiriu popularidade Factcheck.org (2003), seguido pelo PolitiFact (do St. Petersburg Times) e The Fact Checker (do Washington Post ), no ano 2007. Seguiram-lhe diferentes meios online no Reino Unido (Channel 4 Fact Check e Full Fact), e na Argentina, onde a principal referência é o Chequeado, fundado em 2010. No Brasil, os principais sites de verificação de fatos são a Agência Lupa, Truco (da agência Pública) e Aos Fatos. Na França o fenómeno se popularizou antes das eleições presidenciais de 2012.
Problematização
A problematização deste projeto gira em torno da compreensão deste fenômeno mundial que estaria relacionado à pós-verdade e também as mudanças estruturais geradas pela convergência digital. A questão que se constrói a partir deste pano de fundo é saber de modo geral qual o impacto das fake news na sociedade? E de que maneira toda essa circulação de informações falsas ou parcialmente verdadeiras impactam na sociedade e qual a sua relação com o jornalismo? Sendo que, o jornalismo, ou melhor, a narrativa jornalística é uma das principais estratégias utilizadas para elaboração destes materiais, se sustentando nas características narrativas do jornalismo e da sua “vontade de verdade” para dar credibilidade às fake news.
Este fenômeno tem trazido para o campo jornalístico à discussão da necessidade de se repensar as práticas jornalísticas cotidianas, impactadas por estas mudanças estruturais digitais que tem dado voz às fontes e ao público com a facilidade da internet. Até o momento pudemos sentir os impactos nos processos democráticos, afinal, uma fake news é claramente antidemocrática, pois priva o cidadão do acesso à informação verdadeira e de qualidade, o que lhe é garantido por lei na maior parte das nações democráticas. No entanto, a médio e em longo prazo podemos sentir também uma crescente desconfiança contra as instituições sociais constituídas, como a imprensa e até órgãos governamentais, como o Ministério da Saúde (movimento antivacinas). O que coloca instituições sociais importantes do processo democrático e a implementação de políticas públicas em situação de fragilizada e descrédito junto à população. E as consequências disso ainda não podem ser previstas.
Diante deste cenário, este projeto objetiva investigar a questão problema que podemos sintetizar da seguinte forma: qual o impacto social das fake news? E, secundariamente compreender como as mudanças estruturais ocasionadas pelas novas tecnologias e pela popularização da internet impactam as práticas jornalísticas e na nossa forma de consumo das notícias com esta nova realidade. O que se percebe é que diversos jornalistas se juntaram para criar novas empresas de jornalismo investigativo para checagem de informações que circulam na rede, as fact-checking. Assim como as assessorias de imprensa de órgãos públicos e privados estão modificando sua forma de trabalho a incluir profissionais de checagem de informações com o objetivo de dizer o que é verdadeiro e o que não é. E também com o objetivo de diferenciar o que é jornalismo e o que não é, estabelecendo critérios de trabalho e selos de veracidade as informações que circulam na Internet. Desta forma, procuraremos buscar compreensões desta relação entre o impacto social das fake news e mudança estrutural do jornalismo, de modo, a elaborar uma proposta de educação para as mídias digitais para a comunidade. Com um objetivo de contribuir com a sociedade no sentido de muni-la com informações, estratégias e recursos de modo a se contrapor a este turbilhão de informações falsas circulantes nas mídias digitais e na internet.
Nome | Função no projeto | Função no Grupo | Tipo de Vínculo | Titulação Nível de Curso |
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GABRIELLA LUCCIANNI MORAIS SOUZA CALAÇA
Email: gabilutiani@hotmail.com |
Pesquisador | Pesquisador | [professor] | [mestre] |
LUIZ ANTONIO SIGNATES FREITAS
Email: signates@gmail.com |
Pesquisador | Pesquisador | [externo, professor] | [doutor, doutor] |
LUIZ CARLOS DO CARMO FERNANDES
Email: lucajor@gmail.com |
Pesquisador | Pesquisador | [professor] | [doutor] |
NOÊMIA FÉLIX DA SILVA
Email: noemiafelix@terra.com.br |
Coordenador | Líder Adjunto | [professor] | [doutor] |
ROGERIO PEREIRA BORGES
Email: rogeriopereiraborges@hotmail.com |
Pesquisador | Líder Adjunto | [professor] | [doutor] |