Este projeto propõe investigar a produção artística de Frei Nazareno Confaloni à luz das correntes críticas modernas e contemporâneas, com especial atenção às categorias de beleza, simbolismo e transcendência. Partindo do referencial da via pulchritudinis, o estudo busca compreender como a arte sacra modernista de Confaloni se configura como linguagem estética e espiritual capaz de provocar experiências de sentido no observador. A proposta insere a arte religiosa no campo dos estudos culturais e literários, analisando-a como texto visual e dispositivo de recepção sensível. Com base em uma abordagem qualitativa, hermenêutica e fenomenológica, a pesquisa mobiliza autores como Hans Urs von Balthasar, Paul Evdokimov, Joseph Ratzinger, Jean-Luc Marion e Georges Didi-Huberman. Ao articular crítica estética e espiritualidade, pretende-se contribuir para o debate sobre a arte como forma de resistência simbólica e construção de sentido na modernidade tardia.

Objetivo Geral:

Investigar a arte pictórica de Frei Nazareno Confaloni à luz das correntes críticas modernas e contemporâneas, analisando-a como linguagem estética e simbólica que articula modernidade artística, espiritualidade cristã e experiência fenomenológica do sagrado.

Objetivos específicos:

Analisar formal e simbolicamente as principais obras sacras de Confaloni, com ênfase em seus afrescos da Paróquia São Judas Tadeu - Goiânia, considerando elementos compositivos, cromáticos e iconográficos.

investigar  vínculos entre estética modernista e espiritualidade cristã, observando como a obra de Confaloni ressignifica o espaço litúrgico e a presença do sagrado na arte moderna.

Aplicar conceitos da fenomenologia da imagem e da estética à recepção das obras, compreendendo a experiência estética como mediação simbólica da transcendência.

Dialogar com correntes críticas contemporâneas (como Didi-Huberman, Eagleton e Marion), aproximando a arte sacra de debates sobre linguagem, presença e resistência simbólica.

Contribuir para a ampliação do campo dos estudos literários e culturais, ao reconhecer a arte visual religiosa  como forma legítima de discurso crítico, poético e existencial.

A proposta de investigação sobre a obra  de Frei Nazareno Confaloni se justifica pela relevância artística, histórica e simbólica de sua produção no contexto da arte moderna brasileira, especialmente no Centro-Oeste, e pelo potencial de sua leitura à luz das correntes críticas contemporâneas. Ao fundir estética modernista e intencionalidade religiosa, Confaloni oferece um campo fértil para o diálogo entre arte, linguagem e espiritualidade, ressignificando o papel da imagem como texto e da beleza como mediação do símbolo.

No campo dos estudos literários e culturais, ainda é raro o tratamento da arte de temática religiosa como linguagem estética dotada de valor crítico e poético, que promovam experiências transformadoras. Ao propor uma leitura crítica da arte religiosa modernista sob as lentes da fenomenologia da percepção, da estética da recepção e da hermenêutica contemporânea, este projeto objetiva ocupar essa lacuna e contribuir com novas perspectivas para o debate sobre a arte como produção de sentido na atualidade.

Para além disso essa temática dialoga diretamente com os objetivos da linha de pesquisa Correntes Críticas Modernas e Contemporâneas, ao investigar a persistência de formas simbólicas, a sensibilidade estética e a religiosidade como elementos de resistência cultural, reencantamento e expressão poética. A originalidade da abordagem reside na interseção entre arte visual, pensamento crítico e experiência espiritual, promovendo um olhar renovado sobre o sagrado na arte moderna.

A obra de Frei Nazareno Confaloni, marcada pela fusão entre modernismo estético e intenção religiosa, demanda um estofo teórico capaz de acolher sua complexidade simbólica e sua dimensão de experiência contemplativa. Para isso, este projeto dialoga com três eixos principais de fundamentação crítica: a estética religiosa, a fenomenologia da imagem e a crítica contemporânea da linguagem artística. O primeiro eixo se ancora na via pulchritudinis, concepção teológica da beleza como caminho de revelação e encontro com o divino. Autores como Hans Urs von Balthasar (1989) e Paul Evdokimov (2005) além dos documentos papais, oferecem os fundamentos para compreender a beleza não apenas como forma agradável, mas como forma que revela. A isso Balthasar chama de “forma fulgurante da glória”. Confaloni, ao pintar figuras sagradas com traços simples e minimizados, porém com profundidade simbólica, aproxima-se dessa teologia da forma que convida à contemplação e à abertura ao numinoso.

O segundo eixo se apoia na fenomenologia da percepção e da imagem, sobretudo em Jean-Luc Marion (2003), que trata da imagem saturada, isto é, aquela que excede o olhar e impõe sua presença, aproximando-se da experiência do sagrado. Também Georges Didi-Huberman (1998) é referência ao pensar a imagem como aquilo que “mostra o que falta”, como uma presença ausente que ainda assim convoca o olhar. A fenomenologia permite pensar a obra de arte como um campo de aparição do sentido, uma doação que se impõe antes da análise conceitual. Finalmente, a proposta dialoga com a crítica contemporânea da linguagem e da arte, em especial com autores que repensam o papel da estética na modernidade. Terry Eagleton (2011), por exemplo, mostra como a arte se tornou espaço de resistência simbólica frente à racionalidade instrumental própria da conteporaneidade. Em diálogo com essas correntes, a arte sacra modernista é compreendida não como resíduo de uma religiosidade superada, mas como expressão viva de sentido, linguagem alternativa e poética do invisível.

Esse entrecruzamento entre estudos religiosos, fenomenologia e crítica cultural permite abordar a obra de Confaloni como texto estético, símbolo teológico e experiência encarnada. Ao fazê-lo, o projeto contribui para o alargamento do campo dos estudos literários, acolhendo linguagens visuais como produtoras de mundo e de presença, com ressonância filosófica, estética e espiritual.