Introdução. As funções executivas (FE) são habilidades cognitivas essenciais para obter saúde mental e física, sucesso na escola e na vida e no desenvolvimento cognitivo, social e psicológico. Estas habilidades proporcionam a capacidade de controle, de supervisão, de autorregulação do comportamento e do pensamento e exercem papel preponderante no processo de aprendizagem na escolarização. Diante desta realidade há a necessidade de avaliar as FE dos estudantes a fim de reconhecer as limitações apresentadas por eles e propor intervenções efetivas que poderá auxiliá-los no desenvolvimento cognitivo. Notou-se que a maioria dos instrumentos que avaliam as FE são formais e não retratam a funcionalidade da pessoa em sua vida real e uma avaliação neuropsicológica deve abranger a aplicação de testes, escalas de autorrelato, observação de comportamentos em contexto clínico, assim como, em situações de vida diária (tarefas ecológicas). Ao buscar os estudos que contemplam as tarefas ecológicas com crianças/adolescentes, observou-se que vários tipos de tarefas ecológicas de culinária têm sido utilizados por vários estudos, embora ainda não exista padronização, parâmetros psicométricos e normatização para avaliar as crianças/adolescentes brasileiras(os). Este instrumento será relevante por possibilitar uma análise do funcionamento das FE por profissionais clínicos que poderão aplicar a tarefa em seus consultórios, trazendo as características da vida real da criança/adolescente. Objetivo. apresentar evidências de validade e normatizar um protocolo de avaliação das funções executivas em jovens brasileiros a partir de uma tarefa de culinária, desenvolvidos para o devido fim. Método. Para o processo de busca de evidências de validade e normatização do Instrumento ecológico para avaliar as FE a partir de uma tarefa de culinária (IEAFE-TC) em adolescentes brasileiros seguir-se-á os procedimentos descritos por Salles e Rodrigues (2017) e Pasquali (2010): procedimentos teóricos (teoria e construção do instrumento), empíricos (construção do instrumento e validação do instrumento) e analíticos (normatização do instrumento). Instrumentos. Serão utilizados para este estudo um questionário de informações sociodemográficas, o IFERA I (TREVISAN, BERBERIAN, DIAS, SEABRA, 2014), o FDT (SEDÓ, DE PAULA, MALLOY-DINIZ, 2015), a WASI (TRENTINI, YATES, HECK, 2014) e a tarefa de culinária. Análise de dados. Encontrando normalidade na distribuição de dados utilizar-se-ão análises paramétricas, não encontrando, análises não-paramétricas. Resultados: Espera-se encontrar evidências de validade do Instrumento ecológico para avaliar as FE a partir de uma tarefa de culinária (IEAFE-TC) em adolescentes brasileiras(os) considerando os aspectos culturais e sociais desta população. Além disso, espera-se por meio desta tarefa, discriminar habilidades das funções executivas por meio: da validade concorrente entre os testes FTD e IFERA I e da validade de critério externa (sexo, idade e escolaridade).

Objetivos

Objetivo primário

Apresentar evidências de validade e normatizar do Instrumento ecológico para avaliar as FE a partir de uma tarefa de culinária (IEAFE-TC) em adolescentes brasileiros, que estejam cursando o ensino fundamental II.

Objetivos secundários: 

a)        Avaliar se há evidências de validade concorrente entre o Instrumento ecológico para avaliar as FE a partir de uma tarefa de culinária (IEAFE-TC) em adolescentes brasileiros e os testes FDT, WASI e IFERA (pais e professores).

b)        Analisar se há evidências de validade de critério externo entre a tarefa de culinária e as variáveis externas: idade, escolaridade e sexo.

c)        Normatizar o Instrumento ecológico para avaliar as FE a partir de uma tarefa de culinária (IEAFE-TC) em adolescentes brasileiros.

A maioria dos instrumentos avaliam as FE por meio de instrumentos formais que não retratam a funcionalidade da pessoa em sua vida real (BARKLEY, 2012; ZIMMERMANN, CARDOSO, KOCHHANN, JACOBSEN, FONSECA, 2014) e uma avaliação neuropsicológica abrange a aplicação de testes, escalas de autorrelato, observação de comportamentos em contexto clínico, assim como, em situações de vida diária (tarefas ecológicas) (SIMONE, SERRANO, ALLEGRI, 2007; SALLES, RODRIGUES, 2017). Nesse sentido, Zimmermann, Cardoso, Kochhann, Jacobsen e Fonseca (2014) contribuem para reflexão da importância de haver instrumentos padronizados com propriedades psicométricas que avaliam as FE a partir de tarefas ecológicas com validade ecológica (SBORDONE, 2010). Para estes autores, assim como para Barkley (2012), certos componentes das FE somente poderão se manifestar em atividades da vida real, momento que propicia observar como a pessoa funciona no ambiente natural (BURGESS et. al., 2006). 

Diante do exposto, nota-se que há necessidade de ter instrumentos neuropsicológicos para avaliar as FE, que atendam os parâmetros psicométricos adequados, assim como, que avalie a criança/adolescente em sua vida real. A fim de buscar formas de minimizar esta lacuna, de falta de instrumentos que apresentem parâmetros psicométricos por meio de tarefas ecológicas, neste estudo buscar-se-á adaptar uma tarefa de culinária ecológica, por meio de uma produção de um cupcake de micro-ondas, padronizando as atividades, buscando evidências de validade e normatizando-as para avaliar as funções executivas nas dimensões propostas por Diamond (2003) em crianças/adolescentes que cursam o ensino fundamental II brasileiros. 

Este instrumento será relevante por possibilitar uma análise do funcionamento das FE nas dimensões FC, MT e CI, por profissionais clínicos, das áreas pedagógica e saúde, que poderão aplicar a tarefa em seus consultórios ou escolas, trazendo as características da vida real da criança/adolescente, que conforme apontam Veresov, Veraksa, Gavrilova e Sukhikh (2021) as brincadeiras podem ser reconhecidas como uma recreação que liberta a criança/adolescente de tensões permitindo a ela(e) momentos de empatia e vivencias que deem sentido a situações reais ou imaginárias. Assim, espera-se que os dados coletados a partir de uma avaliação ecológica poderá trazer melhores propriedades psicométricas, por ela possibilitar observações sem a variável tensão que muitas vezes são frequentes em situações de avaliações com testes formais e o viés de erros de avaliações realizadas pela percepção da pessoa que responde as escalas de autorrelato.

A escolha da tarefa de culinária, para este estudo, também foi pautada na realidade das famílias brasileiras, em que muitas(os) crianças/adolescentes precisam cozinhar para elas(eles) mesmas(mos), e as vezes até para seus irmãos mais novos, porque seu(s) provedor(es) trabalha(m) em período integral (DELLAZZANA, FREITAS, 2010). Fato que torna a tarefa de culinária próxima da realidade das crianças/adolescentes brasileiras.