Detalhes do Projeto de Pesquisa

A PERSONALIDADE AUTORITÁRIA, O MAL-ESTAR NA CULTURA MODERNA E A EDUCAÇÃO: CONTEMPORANEIDADES

Dados do Projeto

1065

A PERSONALIDADE AUTORITÁRIA, O MAL-ESTAR NA CULTURA MODERNA E A EDUCAÇÃO: CONTEMPORANEIDADES

2025/1 até 2027/1

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES

ESTUDOS CRÍTICOS E EDUCAÇÃO: ASPECTOS ÉTICOS, ESTÉTICOS E SOCIOCULTURAIS - PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS

Educação, Sociedade e Cultura

ESTELAMARIS BRANT SCAREL

Resumo do Projeto

A publicação da obra denominada de Estudos sobre a Personalidade Autoritária (2019), de autoria de Theodor W. Adorno (1903-1969), Else Frenkel-Brunswik (1908-1958), Daniel J. Levinson (1920-1994) e Nevitt Sanford (1909-1995), dista setenta e quatro anos do atual contexto, porquanto ela foi publicada em 1950 nos Estados Unidos da América, segundo Costa (2019). Conforme, ainda, Costa (2019, p. 13), o seu teor contém, aproximadamente, mil páginas, porém a versão editada no Brasil deriva de um critério que ¿[...] segue a edição alemã das obras completas de Adorno que foram publicadas pela Suhrkamp no volume 9, Escritos Sociológicos II ¿ composta pelos capítulos I e VII (assinados por todos os autores do livro) e os capítulos XVI, XVII, XVIII e XIX (assinados exclusivamente por Adorno)¿. É justamente esta obra, de cunho interdisciplinar, a qual é resultante ¿[...] do trabalho de duas instituições: o Grupo de Estudos sobre Opinião Pública de Berkeley e o Instituto de Pesquisas Sociais, ambas tendo desenvolvido em seus trabalhos pregressos uma integração entre diferentes ciências e métodos de pesquisa¿ (idem, p. 30), que será objeto da presente pesquisa, a qual tem como ponto de partida a seguinte questão: por que as pesquisas empíricas sobre a personalidade autoritária são atuais para a compreensão dos estados regressivos que contribuíram, em grande medida, com o acirramento do mal-estar na cultura moderna, por conseguinte, na educação? Trata-se, como se pode ver, do mais flagrante paradoxo, já que a burguesia , ao demolir as estruturas feudais, prometeu iluminar a razão por intermédio do esclarecimento, contudo tal esclarecimento transformou-se, contraditoriamente, no seu próprio engodo, em virtude de haver se rendido aos mitos científico e do progresso. Assim, de mãos dadas com a racionalidade técnica, a modernidade foi, de forma gradativa, galgando a sua própria ruína, por intermédio do domínio não só da técnica e da natureza, mas, principalmente, do outro. Tal perspectiva extremista e desprovida de humanização não teve outro resultado que não fosse a cisão entre sujeito e objeto, universal e particular, teoria e práxis. Percebe que há uma visão redutora do pensamento à objetificação, portanto, à regressão aos instintos mais desumanos, que conduziu os autores da obra A Personalidade Autoritária (2019) a buscarem uma explicação para tal estado de barbarização, e é essa, também, a motivação que vem justificar a presente reflexão sobre a temática que intitula a presente pesquisa, isto é: ¿A Personalidade Autoritária e o Mal-Estar na Cultura Moderna¿, para que, a partir deste exame, talvez, se possa contribuir com o aprofundamento do debate sobre estes processos extremistas reinantes na contemporaneidade.

Objetivos

Apreender, a partir das análises contidas na obra Estudos sobre a Personalidade Autoritária (2019), as contradições existentes no contexto contemporâneo, as quais foram responsáveis, em grande medida, pela instalação de um profundo mal-estar nos indivíduos, visando perspectivar horizontes mais emancipatórios, a partir de uma concepção educacional mais democrática, adorniamente expressando.

Justificativa

A obra, Estudos sobre a Personalidade Autoritária (2019), de cunho interdisciplinar, a qual é resultante “[...] do trabalho de duas instituições: o Grupo de Estudos sobre Opinião Pública de Berkeley e o Instituto de Pesquisas Sociais, ambas tendo desenvolvido em seus trabalhos pregressos uma integração entre diferentes ciências e métodos de pesquisa” (idem, p. 30), que será objeto da presente pesquisa de pós-doutoramento, a qual tem como ponto de partida a seguinte questão: por que as pesquisas empíricas sobre a personalidade autoritária são atuais para a compreensão dos estados regressivos[1] que contribuíram, em grande medida, com o acirramento do mal-estar na cultura[2] moderna, por conseguinte, na educação?

Trata-se, como se pode ver, do mais flagrante paradoxo, já que a burguesia[3], ao demolir as estruturas feudais, prometeu iluminar a razão por intermédio do esclarecimento, contudo tal esclarecimento transformou-se, contraditoriamente, no seu próprio engodo, em virtude de haver se rendido aos mitos científico e do progresso[4]. Assim, de mãos dadas com a racionalidade técnica, a modernidade foi, de forma gradativa, galgando a sua própria ruína, por intermédio do domínio[5] não só da técnica e da natureza, mas, principalmente, do outro. Tal perspectiva extremista e desprovida de humanização não teve outro resultado que não fosse a cisão entre sujeito e objeto, universal e particular, teoria e práxis.

Antes que se avance na explicitação acerca das consequências dessas fragmentações, é preciso que se detenha no entendimento do sentido de práxis tanto para Adorno (2012) quanto para Marx, em face de ambos conceberem a práxis de formas distintas. Assim, a práxis, que é um dos conceitos centrais do marxismo, tem o seguinte significado: 


[...] refere-se, em geral, à ação, à atividade, e, no sentido que lhe atribui Marx, à atividade livre, universal, criativa, e autocriativa, por meio da qual o homem cria (faz, produz), e transforma (conforma) seu mundo humano e histórico e a si mesmo; atividade específica ao homem, que o torna basicamente diferente de todos os outros seres” (Bottomore, 2012, p. 430).


No entanto, consoante já se apontou acima, diferentemente de Marx, que, de maneira geral, estabelece uma divergência entre o trabalho e a práxis, em especial, nos Manuscritos Econômico-Filosóficos (2010), na perspectiva de Adorno (1995, p. 206): “A práxis nasceu do trabalho. Alcançou seu conceito quando o trabalho não mais se reduziu a reproduzir diretamente a vida, mas sim pretendeu produzir as condições desta: isto colidiu com as condições então existentes. O fato de se originar do trabalho pesa muito sobre toda práxis”. Feitos tais esclarecimentos, retoma-se, então, a argumentação anterior. Por exemplo, no tocante à separação entre sujeito e objeto, o impacto foi de grandes proporções tanto para a dimensão objetiva como para a subjetiva. Quanto à primeira, esta multiplicou, conforme já se vem expondo, a sua tendência à racionalização, por conseguinte, acirrando os processos de individualismo e de violência contra o outro, pela dominação através do trabalho, danificando a práxis, segundo a visão adorniana, bem como de agressão à natureza, em face do excessivo esgotamento de suas reservas. Concernente à dimensão subjetiva as consequências foram, ainda, mais catastróficas, pois, uma vez dominadas por essa racionalidade instrumentalizada, as consciências fragilizaram-se sobremodo na capacidade de se sentirem parte tanto da natureza como, também, de se reconhecerem no outro, seu semelhante. Com efeito: “O eu integralmente capturado pela civilização se reduz a um elemento dessa inumanidade, à qual a civilização desde o início procurou escapar” (Adorno; Horkheimer, 1985, p. 37).

Daí o profundo mal-estar instalado na cultura contemporânea, o qual conduziu Freud (2010, p. 121-122) a analisar as insuficiências humanas quanto à satisfação dos instintos, levando-o a afirmar que “[...] a questão decisiva para a espécie humana é saber se, e em que medida, a sua evolução cultural poderá controlar as perturbações trazidas à vida em comum pelos instintos humanos de agressão e autodestruição”.

É exatamente essa visão redutora do pensamento à objetificação, portanto, à regressão aos instintos mais desumanos, que conduziu os autores da obra A Personalidade Autoritária (2019) a buscarem uma explicação para tal estado de barbarização, e é essa, também, a motivação que vem justificar a presente reflexão sobre a temática que intitula a presente pesquisa, isto é: “A Personalidade Autoritária e o Mal-Estar na Cultura Moderna”, para que, a partir deste exame, talvez, se possa contribuir com o aprofundamento do debate sobre estes processos extremistas reinantes na contemporaneidade.

[1]  O termo regressão neste trabalho relaciona-se à psicanálise freudiana com este significado: “Num processo psíquico que contenha um sentido de percurso ou de desenvolvimento, designa-se por regressão um retorno em sentido inverso desde um ponto já atingido até um ponto situado antes desse” (Laplanche; Pontalis, 2001, p. 440).

[2]  A concepção de cultura tomada como referência por Adorno e Horkheimer (1978), em Temas Básicos da Sociologia, foi elaborada por Freud (2014, p. 233-234) e é a mesma que norteia esta investigação, que é a seguinte: “A cultura humana – refiro-me a tudo aquilo em que a vida humana se ergueu acima de suas condições animais e que se diferencia da vida animal – e eu me recuso a distinguir cultura de civilização – apresenta, notoriamente, dois aspectos àquele que a observa. Por um lado, abrange todos os conhecimentos e habilidades que os homens adquiriram para controlar as forças da natureza e dela extrair os bens para a satisfação das necessidades humanas; e, por outro lado, todas as instituições necessárias para regulamentar as relações entre os indivíduos e, em especial, a distribuição dos bens obteníveis. Essas duas faces da cultura não são independentes uma da outra; primeiro, porque as relações recíprocas dos indivíduos são profundamente influenciadas pelo grau de satisfação instintual que os bens existentes possibilitam; em segundo lugar, porque o próprio indivíduo pode assumir a condição de um bem na relação com outro, uma vez que este utilize sua força de trabalho, ou o tome como objeto sexual; e, em terceiro, porque todo indivíduo é virtualmente um inimigo da cultura, que, no entanto, deveria ser um interesse humano geral”.

[3]  No capítulo intitulado “Burgueses e Proletários”, contido na obra de Marx e Engels (2011, p. 45), este último define burguesia da forma que se adotará nesta pesquisa: “Por burguesia entende-se a classe dos capitalistas modernos, que são proprietários dos meios de produção social e empregam trabalho assalariado”

[4]  O sentido de progresso aqui é o mesmo atribuído por Adorno (1995, p. 47) a seguir: “[...] a ideia de progresso é, não obstante, a ideia antimitológica por excelência, capaz de quebrar o círculo ao qual pertence. Progresso significa sair do encantamento – também o do progresso, ele mesmo natureza – à medida em que a humanidade toma consciência de sua própria naturalidade, e pôr fim à dominação que exerce sobre a natureza e, através da qual, a da natureza se prolonga. Neste sentido, poder-se-ia dizer que o progresso acontece ali onde ele termina”.

[5]  Consoante a perspectiva de Weber (2012, p. 191), que é a adotada nesta pesquisa, a dominação é entendida como “[...] uma situação de fato, em que uma vontade manifesta (‘mandado’) do ‘dominador’ ou dos ‘dominadores’ quer influenciar as ações de outras pessoas (do ‘dominado’ ou dos ‘dominados’), e de fato os influencia de tal modo que estas ações, num grau socialmente relevante, se realizam como se os dominados tivessem feito do próprio conteúdo do mandado a máxima de suas ações (‘obediência’)” (grifos no original).

Equipe do Projeto

Nome Função no projeto Função no Grupo Tipo de Vínculo Titulação
Nível de Curso
ANGELICA MARIA ALVES VASCONCELOS
Email: angelicaguapa5@gmail.com
Pesquisador Estudante [aluno] [null]
CESAR PEREIRA MARTINS
Email: cesarpereiramat@gmail.com
Pesquisador Estudante [aluno] [null]
ESTELAMARIS BRANT SCAREL
Email: estelamaris.brant@gmail.com
Coordenador Líder [professor] [doutor]
GESSIONE ALVES DA CUNHA
Email: g-dacunha@hotmail.com
Pesquisador Estudante [aluno] [null]
JUSSIMARIA ALMEIDA DOS SANTOS
Email: jussi.ped@hotmail.com
Pesquisador Pesquisador Externo [externo] [mestre]
LEIDIANE PEREIRA DA SILVA
Email: ufgleidiane@gmail.com
Pesquisador Estudante [aluno] [null]
MARCELE CRISTINA LINHARES SILVA DE FREITAS
Email: marcelelinhares@msn.com
Pesquisador Estudante [aluno] [null]
MARCIA CRISTINA FERNANDES PEREIRA BESSA
Email: marciacristinaidb@gmail.com
Pesquisador Estudante [aluno, aluno] [null, null]
MARCO ANTÔNIO OLIVEIRA LIMA
Email: marcobasquetebol@gmail.com
Pesquisador Estudante [aluno, externo] [null, mestre]